Desde os movimentos #MeToo e ‘Time’s Up’, o boom do feminismo no cinema tem resultado em narrativas importantes ganhando espaço, personagens mais complexas e a cobrança por maior participação feminina dentro e fora das telas. Por outro lado, histórias medianas a ruins surgem aos montes tentando explorar este filão como acontece com “As Agentes 355”, um longa de espionagem dos mais superficiais realizados nos últimos anos. 

Para enfrentar uma organização de mercenários em busca de uma arma capaz de hackear qualquer sistema, as duas agentes secretas Mace Brown (Jessica Chastain) e a alemã Marie (Diane Kruger), a especialista em computadores Khadijah (Lupita Nyong’o) e a psicóloga Graciela (Penélope Cruz), tentam reaver o objeto de valor inestimado no mercado clandestino. Sem poder confiar nas organizações que servem, o quarteto precisa agir por conta própria para impedir o mundo de colapsar.  

Para começar… Sim! A motivação é superficial demais, parece que até subestima o público a não entender algo mais complexo. Isso porque é basicamente a existência de um objeto com o poder de hackear qualquer coisa, destruir países, criar guerras e por aí vai. A dupla de roteirista Theresa Rebeck e Simon Kinberg (também diretor) até tenta inserir um discurso sobre a internet e inimigos invisíveis, mas, fica óbvio que não há qualquer intuito disso ser desenvolvido melhor. Para completar, ainda precisamos aguentar um envolvimento romântico forçado entre Mace e seu companheiro de trabalho Nick Fowler (Sebastian Stan) – a formação do casal serve apenas para puxar reviravoltas previsíveis. 

PASSATEMPO INOFENSIVO

Sorte de Kinberg (do também fraco “X-Men: Fênix Negra”) ter o elenco brilhante em mãos. Mesmo diante de um material quase nulo, Cruz, Chastain, Nyong´o e Kruger desenvolvem muito bem suas personagens passando por cima dos vilões e dos clichês do gênero a cada minuto. O próprio entrosamento do grupo é o que sustenta a narrativa durante boa parte do filme, existindo questões éticas e culturais que diferem cada uma, algo abordado muito naturalmente. 

Para quem não espera nada do filme, “As Agentes 355” consegue se sair como um passatempo inofensivo ainda que descartável. Há momentos inspirados como a missão em que as protagonistas usam acessórios dignos do desenho ‘As Três Espiãs Demais’ com câmeras escondidas em joias. Como todo longa de ação, a montagem da dupla John Gilbert e Lee Smith alterna entre sequências de ação e o desenvolvimento da (fraca) história em cansar o público. 

Apesar do final destoante em uma tentativa forçada de lição de moral sobre mulheres subjugadas que foi incapaz de desenvolver minimamente até ali, “As Agentes 355” não chega a ser um desastre ou desserviço como ‘O Escândalo’ e tantos outros filmes que tentaram surfar na onda feminista. Trata-se apenas de um longa comum de ação com o bônus de mulheres correndo de salto, lutando bem vestidas e batendo em alguns homens corruptos.

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