Desde o fiasco de ‘Orgulho e Preconceito e Zumbis’ até o adorado ‘Retrato de Uma Jovem em Chamas’ já assisti uma quantidade razoável de romances de época – todas totalmente influenciadas pelas minhas leituras de Jane Austen. Mas, confesso que não quis me render aos best-sellers de Julia Quinn até sua série de livros ‘Os Bridgertons’ virar um seriado. A produção, a princípio, segue a receita de um romance épico: se trata de uma adaptação literária recheada de clichês românticos a qual insere leves críticas ao modo como a sociedade funcionava. Entretanto, com Shonda Rhimes na produção, alguns ingredientes a mais são acrescentados nesta receita, resultando em um dos maiores sucessos recentes da Netflix. 

Basicamente, a série faz jus ao seu título apresentando a família Bridgerton que, com a morte do patriarca, precisa se esforçar para corresponder ao mercado de casamentos, com atenção especial para Daphne (Phoebe Dynevor), a filha mais velha. Com o sonho de se casar por amor, a protagonista vê seu objetivo mais longe com o irmão Anthony (Jonathan Bailey) afugentando seus pretendentes. Frustrada e denominada como a grande decepção da temporada pela misteriosa Lady Whistledown, Daphne se une ao duque de Hastings (Regé-Jean Page), o solteiro mais requisitado, para voltar ao interesse público. A falsa união logicamente resulta em um romance água com açúcar entre os dois. 

VISUAL DESLUMBRANTE 

Com oito irmãos, a família Bridgerton é apresentada de forma surpreendentemente fácil. Cada um possui um drama único apesar da expectativa sobre Daphne ser o assunto principal. Já a mocinha, por sua vez, peca pelo excesso, tanto de aparições quanto de características incômodas como sua ingenuidade ou romantização de toda e qualquer situação. Para facilitar as coisas, o duque de Hastings é o contraponto essencial e, considerando o público-alvo feminino, a escolha do carismático Regé-Jean Page não precisa de grandes justificativas. 

Assim, a presença de personagens interessantes consegue manter a narrativa funcionando durante grande parte da trama, contando também com reviravoltas mirabolantes e tímidos gestos românticos – tudo apoiado por cenários e situações propícias: excessivos bailes, danças, cenários bucólicos e luxuosos. Nesse aspecto, os figurinos e locações de “Bridgerton” realmente ajudam a compor a história e aderir características aos personagens sem faltar com a verossimilhança à época como ‘Reign’, outra produção voltada ao público jovem, fez na adaptação de diversos figurinos. 

SHONDALAND 

Mesmo não sendo exatamente fácil de ser assistida devido a sua história previsível e cansativa, ‘Bridgerton’ possui pequenos diferenciais que eu atribuo ao selo da Shondaland em toda sua concepção. Como produtora, Shonda Rhimes escolheu um time conhecido como a própria showrunner Chris Van Dusen, com a qual trabalhou em ‘Scandal’ e ‘Grey’s Anatomy’. Esta afinidade por trás das câmeras foi essencial para que os temas específicos da produtora fossem desenvolvidos. 

Como é de praxe em suas obras, Shonda escolheu mais uma vez dar protagonismo a personagens e atores negros. Mesmo isso não sendo nenhuma novidade na Shondaland, no contexto de produções de época, a escolha foi considerada polêmica já que a grande maioria das obras reduz atores negros a papeis de escravos devido a “correspondência histórica”. Encontrando uma alternativa entre esses dois parâmetros, Shonda insere a história da rainha Charlotte, que segundo alguns documentos históricos, seria descendente de africanos. 

TABUS EM DEBATE 

Assim, com uma rainha negra e um protagonista negro sendo o solteiro mais cobiçado, ‘Bridgerton’ faz história com essa escolha, aproveitando também para colocar um pequeno lembrete na trama em como as famílias de descentes negros tiveram uma difícil aceitação na sociedade inglesa.  

Porém, o diferencial não para por aí, além da questão racial, outro assunto muito comum nessas produções é o pudor da época e a grande ausência de cenas ou indicativos sexuais. Deixando tudo isto de lado, Shonda decide criar uma tensão sexual entre os personagens e debater o próprio sexo como tabu entre mulheres, o que era muito comum em 1813 e ainda é em 2021. 

Esses dois importantes diferenciais permitem a série abordar também a questão da gravidez não pretendida, a imposição de classes sociais, a independência feminina e outros temas que continuam bem atuais. Por isso, apesar de não ser nenhum clássico moderno, ‘Bridgerton’ é uma produção importante no aspecto de reinventar e atualizar romances de época. 

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