Enquanto as primeiras cenas de “Ghosted” aconteciam, fiquei me indagando qual seria o melodrama que acompanharia a narrativa e qual data comemorativa seria celebrada, isto porquê o filme soa como uma comédia de Páscoa ou Natal que o Lifetime costuma fazer. Sem querer desmerecê-las, não é algo que se espere do diretor responsável pelo delicioso “Rocketman”, Dexter Fletcher, e da dupla carismática Chris Evans e Ana de Armas.   

Assistimos ao fazendeiro Cole Turner (Evans) se encantar pela enigmática Sadie (Armas) após o convívio de, literalmente, parte de um dia e uma noite. A moça desaparece, sem responder suas mensagens, o que o leva a atravessar o Atlântico a fim de encontrá-la. A escolha o coloca em uma missão de espionagem, tendo em vista que o sumiço de sua crush se deve a ela ser uma agente da CIA.   

“Ghosted” é um filme datado. Além de parecer uma comédia romântica feita para televisão, sem plots significativos ou uma trama relevante, a produção tem a cara de ter saído diretamente dos anos 1990, no máximo 2010. Elementos como o tom patriarcal e paternalista em relação a protagonista, a direção das cenas de ação e a a forma como a trama é conduzida parece ter sido inspirado em outros filmes do gênero como “Encontro Explosivo” e “Par Perfeito”. A grande questão é que o casal central tem zero química.   

É curioso pensar nisso, considerando o quanto Evans e Armas são atores extremamente carismáticos, capazes de nos fazer gostar de personagens duvidosos. Mas aqui a química entre ambos é simplesmente inexistente. Acrescenta-se ainda o fato de que o desempenho de suas interpretações ser sofrível; tanto Evans não convence como o fazendeiro de bom coração quanto Armas é incapaz de emplacar uma espiã e nem tampouco uma femme fatale – se é que houve essa tentativa em algum momento.    

Evans lembra suas primeiras participações no cinema, oferecendo uma performance canastrona e obsoleta. Na época de “Não é mais um besteirol americano” poderia até funcionar, mas hoje seu Cole soa como um obcecado, que não sabe entender o momento do relacionamento, fora a carência estampada em sua conduta e a ausência de limites. O que o roteiro tenta mostrar como ser um bom partido, apenas reforça seu comportamento de playboy.   

VERGONHA ALHEIA  

 

Vale ressaltar que tudo isso conduz a situações de extrema vergonha alheia, uma vez que suas ações evidenciam ainda o caráter machista de “Ghosted”. A cena, por exemplo, na feira no Paquistão entre ele e um ex namorado de Sadie é desastrosa e constrangedora para a moça e quem acompanha o diálogo, fora a própria premissa do filme que busca dar o lugar de destaque a ela como agente, mas coloca o protagonista masculino como o resolvedor de problemas, tomando ainda grande parte do tempo de tela.   

Como se todas essas colocações não fossem problemáticas o suficiente, a direção de Fletcher não tem timing para as cenas de ação. Em tempos de filmes de ação consistentes e emblemáticos como “John Wick”, o diretor inglês parece não saber o que está fazendo, suas sequências carecem de tensão, senso de perigo e de estética, evidenciando o CGI precário utilizado nessas cenas. A decisão influencia na própria organicidade da produção que não consegue fluir como thriller e nem como comédia romântica, sendo um genérico de todos esses gêneros.   

“Ghosted” é um filme insignificante, irrelevante. Com uma direção capenga, parece ter saído diretamente do pior da fusão de comédia e ação dos anos 90, nem pela beleza de seus astros vale a pena dar o play.