No momento em que escrevo esta crítica, caro leitor, ainda não consegui ver Godzilla Minus One, a produção japonesa recente com o monstro mais icônico do cinema, que foi aclamada e até ganhou o Oscar de efeitos visuais. Mas assisti a este Godzilla e Kong: O Novo Império, a nova produção do “Monsterverse” do estúdio Warner Bros. e que chega para representar um marco de 10 anos de muita destruição e porradaria nas telas.

Bem, depois de tanto tempo, a sensação é de que já deu, não é, dona Warner? Ao longo dos anos, alguns desses filmes até foram divertidos, de uma maneira superficial, em pelo menos algum nível. Mas agora, a sensação é de que os produtores e roteiristas já estão raspando o tacho, mantendo a empreitada viva só por razões puramente mercadológicas – o longa anterior do Monsterverse, Godzilla vs. Kong (2021), saiu naquela época em que os lançamentos do estúdio chegavam simultaneamente nos cinemas e no streaming do Max enquanto as salas ainda estavam parcialmente fechadas, e conseguiu uma boa repercussão no contexto de pandemia.

FIAPO DE HISTÓRIA

Este novo longa continua na mesma pegada do anterior graças ao retorno do diretor Adam Wingard e não se leva muito a sério – mas também não a ponto de virar uma “porralouquice” divertida como Kong: A Ilha da Caveira (2017). E tudo já parece frouxo, feito de qualquer jeito: na trama, se podemos chamar assim, Kong está vivendo na Terra Oca, sozinho, mais grisalho e com uma grande cárie no dente. 

Porém, a doutora Ilene Andrews (vivida por Rebecca Hall), da organização Monarch, retorna quando a filha adotiva (Kaylee Hottle) começa a ter visões relativas à Terra Oca. Junto com outros aventureiros, ela embarca em uma expedição ao local, onde vai descobrir fatos sobre a origem das criaturas e uma nova grande ameaça, que vai precisar da união dos dois personagens do título para ser encarada.

E o Godzilla? Bem, ele dorme aninhado no Coliseu, depois mata outro monstro fora de tela para acumular energia e aparece no desfecho para a pancadaria obrigatória. É um coadjuvante de luxo, apenas. Kong é o astro e quem tem o mais próximo de um arco dramático: ele recebe até um “Mini Kong” como companheiro de aventuras, talvez a tentativa dessa franquia de ter um Baby Yoda para chamar de seu – deve ficar só na tentativa mesmo.

Ninguém vai ver esses filmes por causa do roteiro, mas aqui eles abusam da paciência do espectador: a história não tem um vilão até o terceiro ato, então não há tensão. O núcleo humano, como sempre, é terrível, com personagens enfrentando dilemas superficiais que se resolvem com algumas falas de diálogo, e os atores estão lá apenas para recitar diálogo expositivo (pobre Rebecca…) e pagar os boletos do mês. Junto com Rebecca, temos aqui o retorno de Bryan Tyree Henry e o novato na franquia Dan Stevens vem se juntar à pataquada.

TOTALMENTE ABANDONADO

Na meia hora final, “Godzilla e Kong: O Novo Império” até melhora um pouco, quando a história enfim chega ao momento pelo qual pagamos ingresso: ao menos, os efeitos visuais continuam impressionantes e Wingard e seus técnicos – talvez os verdadeiros diretores do filme – começam a manipular os bonecos para brigar. Pena que os vilões dessa vez sejam tão inexpressivos e sem ameaça, basicamente versões malignas dos dois astros. Mas para nós brasileiros, há um vislumbre de diversão a mais porque os monstrengos basicamente destroem o Rio de Janeiro – tendo em vista as recentes contribuições do Estado para o Brasil, a destruição até se torna legal…

Depois de quatro filmes e até uma série – Monarch: Legado de Monstros, na Apple TV – já não é mais tão fácil oferecer algo novo ao público. Mas a sensação é de que os realizadores de Godzilla e Kong: O Novo Império nem tentaram: o filme tem um ar de rotina e já parece menor, em escala, que os anteriores, um pecado numa franquia que precisa ser grandiosa para justificar sua existência. Hollywood, sendo como é, ainda deve deixar esses monstrões e alguns dos seus amigos e inimigos em atividade, mas a partir de agora vão precisar responder de forma cada mais forte a pergunta “para quê?”.

Ainda mais quando, aparentemente, a concorrência está fazendo melhor. Ao menos, este aqui aumentou ainda mais a minha vontade de assistir a Godzilla Minus One.