Um dos grandes destaques do Festival de Sundance do ano passado, “A Casa Sombria”, chegou aos cinemas brasileiros após mais de um ano de seu lançamento. Sob a direção de David Bruckner (responsável por dirigir o futuro reboot de “Hellraiser”), o longa é um bom exemplo de que é possível desenvolver um envolvente thriller psicológico ainda que regado a alguns clichês de filmes do gênero.

Apesar da direção e roteiro concisos, a escolha narrativa para o desfecho de “A Casa Sombria” acaba estragando toda uma experiência construída no espectador durante todo o filme.

Em “A Casa Sombria”, acompanhamos a história de Beth (Rebecca Hall), uma mulher que está passando pelo processo de luto após o misterioso suicídio do marido Owen (Evan Jonigkeit). Beth sai em busca de respostas na tentativa de entender os motivos que levaram seu marido a cometer tal ato. Após um evento supostamente paranormal em sua casa, a protagonista acredita que o espírito do falecido marido esteja tentando dizer algo sobre a sua morte repentina.

Ambientação sombria e grande atuação de Hall

Ainda que o título provoque no espectador a sensação de estar assistindo mais um filme genérico de casas mal-assombradas, Bruckner vai bem além disso. O diretor consegue ampliar o mistério e suspense da trama com a ambientação da casa onde a protagonista vive isolada, sendo, sem dúvida, o ponto alto de “A Casa Sombria”.

Bruckner consegue transformar o aparente porto-seguro de Beth em um lugar melancólico e hostil. Ainda que a direção de arte e a construção do design de som sejam ótimos, o destaque fica mesmo na direção de fotografia de Elisha Christian que trabalha enquadramentos e movimentos de câmara capazes de causar desconforto até em espectadores acostumados com obras do gênero.

Mas, além da casa como ponto importante na trama, Rebecca Hall está excelente como a protagonista. “A Casa Sombria” é quase que totalmente carregado pela atriz. Hall vai fundo na interpretação da protagonista ao demonstrar a dor da perda somada a raiva e frustração pelo ocorrido. Logo nos primeiros minutos, já somos agraciados pelo sentimento de esperança e medo que a atriz causa na cena em que atende à ligação de um desconhecido. 

Desfecho anticlimático e quebra de narrativa

Grande parte da imersão em “A Casa Sombria” acontece por conta do roteiro bem escrito, a direção inspirada e a atuação da protagonista. Porém, esse tripé não é suficiente para ignorar uma série de desvios nos minutos finais do filme.

É comum que jumpscares excessivos em filmes do gênero possam perder força ao longo da narrativa, mas talvez o principal elemento tenha sido a decisão criativa para o desfecho do longa. Em vários momentos, o diretor desenvolve a produção como um thriller psicológico provocando vários questionamentos, ao mesmo tempo em que vai entregando pistas sobre o que realmente pode estar acontecendo.

Entretanto, a sequência final de “A Casa Sombria” acaba estragando todo o desenvolvimento da história. As escolhas de Bruckner nas cenas finais geram um suspense desnecessário e fazem com que o longa se torne arrastado e monótono. Ainda que a direção consiga envolver o espectador em dois terços do filme, o público pode não reagir bem à conclusão escolhida, o que reduz toda a experiência imersiva construída ao longo do enredo.

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