“House of the Dragon” parece finalmente ter encontrado seu ritmo nas mãos de Clare Kilner, diretora dos últimos dois episódio. Para isso, é preciso lembrar que nenhuma cerimônia de casamento termina como num conto de fadas em Westeros e “Nós iluminamos o caminho” evidência tal fato ao trazer um enlace matrimonial carregado de intrigas políticas e violência. As sementes da dança dos dragões começam a germinar.

Kilner faz escolhas sutis trazendo metáforas visuais que preparam o clima para a tensão final; o dito pelo não dito se faz presente e cria nuances, reflexões e interpretações. O roteiro explora motivações que explodem em atitudes com consequências a longo prazo (ou nenhuma) e estabelece ligações importantes do epicentro da guerra.

 Motivações em foco

Assim como no episódio anterior, as angústias e ressentimentos de Alicent Hightower ficam em evidência. Curiosamente, são suas dúvidas e lamúrias que a deixam suscetível para que as percepções de Otto e Larys Strong aflorem seus reais sentimentos pela condição de sua amizade com Rhaenyra.  E é neste ponto que o episódio adquire camadas, visto que as mentiras da princesa e a decepção da rainha abrem margens para interpretações distintas. Afinal, a esposa de Viserys estaria com inveja da noite de prazeres da enteada ou triste pela quebra de confiança da amiga?

Outro personagem cujo as motivações e ressentimentos são questionáveis nesse capítulo é Criston Cole. O escudo juramentado de Rhaenyra vai da vergonha alheia ao surto e, embora não haja tantas nuances em seus atos, eles dizem muito sobre seu papel no ápice da dança dos dragões e sua fidelidade. Parece que Alicent finalmente ganhou um aliado, como lhe sugeriu Larys Pé Torto, mas perceba que por razões diferentes – ou talvez nem tanto – das suas. Devo dizer que particularmente o guarda real me soou como um adolescente emburrado, sem uma causa justa. 

Se trouxermos suas questões para a modernidade, todo seu drama se torna mais absurdo ainda; afinal em momento algum Rhaenyra o obrigou a ter relações sexuais ou lhe fez promessas. O cara se emocionou e fez uma proposta sem cabimentos para a herdeira do trono – e convenhamos uma mimada – o que não justifica seu ataque a sir Joffrey, mas mostra sua motivação e é sobre elas que esse episódio é construído, não esqueçamos disso.

O que me entristece e me faz questionar, contudo, é o fato de Cole ter assassinado um nobre, convidado do noivo, sem alegações, e sair impune. E onde estava os outros cavaleiros da guarda real? Afinal, estamos lidando com um universo que se construiu em cima de motivações e consequências. Testemunhamos o casamento vermelho em consequência do matrimônio oculto de Robb Stark, Bran ficou paralítico por ter visto os irmãos Lannister sem decoro e a dinastia Targaryen caiu como resultado do sequestro de Lyanna Stark. E quanto a Cole? Aguardemos cenas do próximo episódio, mas não se empolgue ou tenha esperanças. 

Um casamento gore

Essa falta de consequências tornou-se uma marca de “Game of Thrones” a partir da quinta temporada. E é, neste embalo, que “House of the dragon” arma a cama que se deitará quando as facções se levantarem, mas pautada na violência gratuita e gráfica. “Nós iluminamos o caminho” trilhava uma escalada positiva, de um lado os Targaryen faziam acordos e união política por meio do matrimônio e do outro os verdes começavam a fazer maquinações e criar uma máscara de combate – como a chegada de Alicent ao casamento -; apresentando o que de melhor há no universo de Martin: pessoas, escolhas questionáveis e artimanhas. Tudo isso, no entanto, perdeu um pouco a mão na violência desnecessária do casamento. A cena é confusa, os ângulos escolhidos não mostram muito e as discussões presentes nas trocas de olhares e no discurso interrompido de Viserys tinham muito mais a entregar.

O episódio, porém, trouxe algo interessante a narrativa: o paralelo entre o adoecimento do rei e o decaimento de seu reinado. São as escolhas de Viserys, incluindo as de se fazer de surdo e cego, que levam ao reino a guerra e o pior é ele não perceber o quanto influencia nisso. As pessoas tramam diante de seu nariz, sua rainha lhe falta com respeito, ele não dialoga com a filha ou a prepara para a função que assumirá e, assim, pouco a pouco a realeza perde o momento de estabilidade deixado por Jaeherys.

Enquanto o rei pergunta a sua mão se fez um bom reinado e recebe conselhos diretos para mudar o rumo da conversa, vemos o quão imponentes são os Velaryon e fazem jus ao fato de serem a casa mais rica de Westeros. A relação entre Rhaenys e Corlys oferece ainda uma mostra de porquê estes são um dos mais fortes aliados negros e não apenas por conta da aliança de casamento.

É preciso estar atento a como o jogo começa a se desenhar com Otto e Daemon fora da jogada. As peças que movimentam a dança dos dragões já estão a postos e começando a se movimentar, “Nós iluminamos o caminho” já estabelece motivações, ressentimentos e violência. Talvez esta seja a cara de “House of the Dragon” e a melhor forma de se despedir da primeira fase e dos episódios em filler, que venham Emma D’arcy e Olívia Cooke liderando suas facções.