Em “House of the Dragon”, Viserys morreu e a guerra civil Targaryen deu seu start de fato. O episódio se concentra nas ações para a coroação de Aegon, filho mais velho de Alicent e o falecido rei, e a restituição de Rhaenyra como herdeira oficial do trono de Ferro. Lealdade, troca de informações e hesitação são algumas das palavras-chaves de “O Conselho Verde”.  

A órbita de Alicent 


Alicent, desde o início, insiste na ideia de que as últimas palavras do pai de Rhaenyra foi colocar Aegon como seu sucessor. Motivada pela interpretação equivocada, serve mais uma vez como peão nas mãos de Otto Hightower. Ao mesmo tempo em que a série procura dar razões a ela para sua movimentação na dança, é curioso que isso torne a personagem mais dependente dos homens que orbitam sua vida. A rainha verde é produto daquilo que seu pai almejou para si e os planos já em andamento no conselho deixam isso claro: independente de qualquer ligação que ela tivesse com o Deleite do Reino, os desejos da mão do rei prevaleceriam.   

Esse, no entanto, não é o único homem a quem Alicent se submete. Cole segue parecendo obcecado por quem é juramentado, algo que se torna ainda mais latente se observarmos o tom utilizado entre os dois no pedido para que ele encontre Aegon. Ao menos tivemos o gostinho de ver as atitudes do guarda real serem questionadas pelo Comandante dos mantos brancos, sir Harold Westerling – o qual destacou-se na cena do conselho verde ao trazer todas as dúvidas e hesitações que o momento proporcionava, sem dúvida uma das melhores sequências de Graham McTavish.   

Ainda sobre Cole, como confiar num escudo juramentado que difama sua protegida e não segue as ordens de seu imediato? Mais um homem duvidoso que cerca a rainha. No entanto, para quem chamou a liberdade sexual da enteada de depravação moral, deveria tomar mais cuidado com a forma como paga segredos.   

As mulheres Targaryen 


Reitero que as relações da rainha servem apenas para mostrar o quanto esta se comprometeu e resignou-se a ser uma escada para os homens que a cercam; o pior é suas tentativas de fazer o mesmo com as outras mulheres. Helaena, a quem pouco conhecemos, parece refém e sem escolha a não ser seguir as convicções da mãe – de quem não suporta o toque -, contudo o mesmo não pode ser aplicado às outras mulheres Targaryen.   

Nos episódios 6 a 8, acompanhamos os olhares superiores e bocas tortas da ex-amiga sobre Rhaenyra; em “O Conselho Verde”, esse olhar se torna mais compassivo e sonso para Rhaenys, porém com o mesmo objetivo: colocá-la sobre sua régua. Enquanto a filha de Viserys lembrava a rainha o que ela gostaria de ter sido, a prima do falecido rei precisa estar sobre seu cabresto para que a segunda casa mais rica de Westeros lute ao lado da reivindicação Hightower. Mas Rhaenys é a rainha que nunca foi, a neta primogênita de Jaehaerys e a atual líder da casa Velaryon. Ser bela, recatada e do lar é um discurso que não se alinha a montadora de Meleys, a rainha vermelha, e Alicent teria uma noção melhor disso se não se prendesse ao seu próprio séquito patriarcal.   

Rhaenys sabe o que é ser preterida pela sociedade patriarcalista e é curioso que falte percepção a Alicent quanto a isso, tornando a troca entre elas um dos principais diálogos para a compreensão dos próximos passos da dança dos dragões, ao mesmo tempo em que aponta fragilidades dentro da adaptação. Explico: as parcas palavras de Viserys no seu leito de morte para uma única testemunha com altos interesses não sustentam as ações verdes e nem oferecem profundidade a trama, atestando a vulnerabilidade da pretensão Hightower. Todo o arco da rainha que nunca, nesse episódio, também soa como desnecessário.   

Já entendi que a série seguirá uma via diferente de Fogo e Sangue, mas se você muda uma sequência para o personagem, isso precisa ser mantido com constância. Rhaenys já havia dado seu posicionamento e visto as consequências dele, então por qual razão estando diante dos usurpadores, em posição de vantagem, não mandou um Dracarys e acabou com toda a falsa pretensão ao trono ali? Medo de ser um Maegor de saias não foi, então o que foi? Apenas ser a resposta para haver uma fera debaixo das tábuas? Se já correu tantos riscos alterando-nos Velaryons, o que custa uma última alteração pró time preto?  

Quem é Aegon 2? 


Por fim, as diferenças entre Aegon e Aemond se tornam mais palpáveis nesse episódio, além de nos mostrar o quanto a falta de afeto de Viserys e Alicent adoeceu emocionalmente seus filhos. Aegon se afunda na bebida, nos jogos de arena infantis e em outros vícios em busca de alegria para a vida vazia que leva. Não tem interesse em governar e nem se preparou para tal feito, visto a falta de ligação com pai e o estabelecimento de Rhaenyra como herdeira, além de parecer atormentado pelas escolhas que sua casa fez para ele.   

Muitos dos trejeitos de Tom Glynn-Carney lembra o Aegon fanfarrão da adolescência, enquanto carrega a angústia de não ter certeza de ter sido estimado por alguém e estar indo para um dever que não almeja. O tom dado pelo ator neste episódio alcança camadas mais interessantes ao personagem. 

“O conselho verde”, contudo, é um episódio sobre lealdade e hesitação. Há incertezas entre os peões que movimentam o jogo e, consequentemente, reflexões acerca de quem servir; e, dentro desse escopo, é possível perceber quem é fiel aos seus juramentos e quem se pauta sobre seus próprios desejos fantasiados de princípios sociais. Acredito que poderíamos ter mais elementos para essa discussão, mas o próprio episódio carece de momentos que cause tanto impacto quanto nos últimos capítulos. Faltou conexão, empolgação e, agora, só me resta aguardar o final da temporada. É hora de dançar!