“Jogo Justo” é o novo filme da Netflix, dirigido por Chloe Domont, e se vende como um thriller erótico em Wall Street. O filme mergulha na vida dupla de Emily e Luke, um jovem casal recém-noivado. No entanto, ninguém além deles e suas famílias sabe disso, pois ambos trabalham na mesma empresa de fundos de cobertura, onde mantêm a fachada de colegas de trabalho. A reviravolta acontece quando Emily, interpretada por Phoebe Dynevor (“Bridgerton”), é promovida inesperadamente no lugar de namorado Luke ,interpretado por Alden Ehrenreich (“Solo: A Star Wars Story”), tornando-se a superior dele. Essa mudança de hierarquia altera profundamente o rumo de suas vidas. 

No decorrer do longa, o machismo é um tema recorrente utilizado para construir a narrativa. No meio empresarial, Amy recebe comentários maldosos de colegas de trabalho após conseguir uma promoção, e o mesmo acontece com Luke que começa a achar que perdeu a chance de ser promovido porque Amy dormiu com o chefe de ambos. Isso o deixa irritado, não por medo de uma traição, mas principalmente por se sentir o mais inferior no relacionamento. 

Outro ponto interessante onde podemos ver as mudanças na relação dos dois e, principalmente, as mudanças no psicológico do protagonista, está no uso dos espaços durante “Jogo Justo”, que se dividem entre o apartamento do casal e o escritório. Em um primeiro momento, o apartamento é um espaço de intimidade e afeto, onde os dois protagonistas podem se desligar do trabalho. No entanto, à medida que Emily se torna mais bem-sucedida no trabalho, ela começa a trazer mais da vida profissional para casa. Isso leva Luke a sentir-se cada vez mais inferior, perder o controle de suas ações e render-se ao alcoolismo, o que faz com que ele comece a evitá-la cada vez mais. 

QUÍMICA BOA PARA DESENVOLVIMENTO IRREGULAR

Como um filme que se vende como um thriller erótico, talvez o ponto mais fraco seja a utilização das cenas de sexo e da tensão entre o casal. No começo, tudo parece funcionar bem, o sexo representa o amor recente e ardente dos dois, mas depois essas cenas que representam a intimidade vão sumindo ou perdendo o peso na trama. 

Inevitável recordar “Atração Fatal”: o filme estrelado por Michael Douglas e Glenn Close usa a tensão sexual entre os personagens para impulsionar a narrativa e criar um clima de suspense. Essa tensão é uma parte fundamental do gênero, pois atrai o público e o mantém envolvido, o que, infelizmente, não prevalece em “Jogo Justo”.

No entanto, a atuação e a química entre os dois protagonistas compensam este fato, sendo o ponto alto de “Jogo Justo”. Alden Ehrenreich entrega um excelente desempenho, transformando Luke, inicialmente ingênuo e apaixonado, à espera por uma promoção no trabalho para poder casar-se logo em uma figura invejosa. Por outro lado, Phoebe Dynevor começa como uma figura trabalhadora e conformada com a vida e papel social, mas é gradualmente corrompida pela rotina competitiva do trabalho, o que a leva a repensar as prioridades e o papel no relacionamento. Juntos como casal, eles são ainda mais cativantes.

Portanto, por mais que as atuações sejam excelentes, “Jogo Justo” peca na construção das cenas de intimidade e na manutenção de uma tensão erótica entre o casal. Essas falhas são uma oportunidade perdida para explorar a dinâmica de poder entre os personagens e criar uma experiência mais memorável no gênero.