Apresentando Arséne Lupin para o restante do mundo, a nova produção francesa da Netflix, ‘Lupin’ é baseada nos romances policiais de Maurice Leblanc contando com a responsabilidade de atualizar suas histórias para os dias atuais. Apesar de possuir uma narrativa pouco intrigante para um suspense policial e terminar a temporada com diversas questões em aberto, a série conta com o destaque de Omar Sy como protagonista e grandes referências a sua obra de origem, sendo tanto uma homenagem ao “ladrão de casaca”, como também uma porta de entrada para a literatura francesa.
Conhecido como “Robin Hood da Belle Époque”, Lupin se tornou um gênio do crime na Paris do início do século 20. Tal personalidade inspira Assane Diop (Omar Sy), um homem que, 25 anos atrás, viu sua vida virar de cabeça para baixo com a morte de seu pai, acusado injustamente de um crime. Já nos dias atuais, ele está em busca de vingança e, para isso, se inspira em Lupin para descobrir o que aconteceu com o pai.
Assim como em outras produções que já atuou (‘Samba’ e ‘Intocáveis’), Omar Sy interpreta um imigrante negro vivendo em Paris. Esse tipo de destaque para a política de imigração na França é um tema bem comum em produções do cinema e TV por ser o debate ainda atual. Neste aspecto, ‘Lupin’ não tem receio em criticar a cultura do país e até mesmo apontar o racismo como algo decorrente na vida de Assane.
Tanto pela atuação quanto pela construção de identidade, o personagem de Omar Sy consegue ser extremamente carismático. Todas as vezes que ele começa a passar do ponto, elementos de seu passado são revelados justificando as atitudes atuais. Essa estratégia em alterar a linha temporal entre passado e presente cria extrema empatia com Assane mesmo em suas atitudes mais extremas como o sequestro do tenente Gabriel Dumond. Também ajuda nesse quesito a humanização do personagem em mostrar sua família ao exibir uma história que não diz respeito unicamente a vingança, mas também a injustiças.
NARRATIVA PREVISÍVEL
Por outro lado, os caminhos apontados pelo roteiro são previsíveis, deixando a trama bem menos viciante e original. Assim como a produção espanhola da Netflix, ‘La Casa de Papel’, a série de George Kay apresenta anti-heróis, no papel de bandidos enganando a polícia e, nas duas produções é até interessante assistir inicialmente como o sistema policial é desafiado, porém, depois de dois ou três episódios se torna cansativo as consecutivas fugas e planos mirabolantes. Nesse aspecto, ao menos, ‘Lupin’ leva a melhor por basear grande parte de suas soluções no protagonista e sua expertise e não em planos mirabolantes que contam com a previsibilidade da polícia.
Com apenas cinco episódios, a primeira temporada é finalizada totalmente em aberto, relembrando até mesmo o formato mais antigo dos seriados de deixar todos os ganchos no final do episódio puxando a continuação. Entre uma ótima adaptação literária e uma trama não tão surpreendente, ‘Lupin’ é, na verdade uma série mediana com uma boa narrativa, a qual não é suficiente para sozinha fazer a produção ser excelente.