O racismo sempre foi e seguirá sendo um tema pautado pelo cinema, afinal, infelizmente, racistas não faltam por aí. Nos últimos anos, o terror passou a explorar o assunto com mais intensidade, especialmente, desde o sucesso de Corra! (2017). Tivemos Antebellum: A Escolhida (2020), o recente A Lenda de Candyman (2021), mas nenhum deles conseguiu repetir a qualidade e o impacto do longa ganhador do Oscar 2018 de Melhor Roteiro Original. Quem mais chegou perto foi o próprio Peele com Nós (2019).

Master, exibido no Festival de Sundance e já adquirido pelo Amazon Studios, é outro exemplar do tipo, e este deixa a desejar. É um filme que começa muito bem e, ao longo da sua duração, a diretora/roteirista Mariama Diallo – em seu primeiro longa-metragem – consegue criar imagens e situações assustadoras que nos fazem querer prestar atenção no nome dela para o futuro. Porém, quanto mais Master vai transcorrendo, mais se perde até se concluir de maneira frustrante.

O filme se passa em uma daquelas grandes e centenárias universidades dos Estados Unidos – por si só, uma locação com potencial para o terror. Acompanhamos três personagens: Gail (vivida por Regina Hall) é a “mestra” do título, acabou de conseguir seu mestrado e se tornou uma das catedráticas da universidade – e é a única pessoa negra no corpo diretor da instituição. Liv (Amber Gray), por sua vez, é a única professora negra do lugar. E temos também Jasmin (Zoe Renee), uma estudante também negra que chega à instituição e acaba no mesmo quarto onde uma aluna cometeu suicídio algum tempo antes.

Essas três personagens navegam pela universidade, confrontando-se com o racismo sutil – e às vezes, nem tanto – dos demais alunos e professores. E ainda há a lenda local de uma bruxa que assombra por ali, e Jasmin começa a suspeitar que a maldição pode ser real.

PROFUNDIDADE NOS TEMAS DEIXA A DESEJAR

No início do filme, a diretora constrói com habilidade a atmosfera de “Master”. Sua câmera percorre a instituição pegando pequenos detalhes aqui e ali – como o fato dos únicos negros que Jasmin vê com frequência são os empregados da universidade. O design de som e a trilha sonora também contribuem para o nervosismo do espectador. E há, pelo menos, uma cena realmente assustadora, que surge quase sem preparação, do nada – o que contribui para o seu efeito – envolvendo algo que sai debaixo de uma cama…

Diallo demonstra ter olho e sensibilidade para o horror. Quanto mais o filme progride, mais a fotografia começa a adquirir leves ares expressionistas, com cores fortes aparecendo aos fundos de uma biblioteca ou de um corredor. Nesses momentos, Master até evoca lembranças do clássico Suspiria (1977), porém, claro, sem nunca se tornar tão barroco quanto o longa de Dario Argento. Mas Suspiria é uma influência clara – outra cena com a presença de vermes também é referência óbvia ao longa de Argento.

Porém, não demora muito e as situações começam a parecer repetitivas. Apesar das boas atuações de Hall, Gray e Renee, suas personagens nunca são tão aprofundadas pelo roteiro. E o filme parece ficar mais preocupado em fazer a sua “crítica social” do que com a narrativa e as personagens. A cena em que Gail explica a uma aterrorizada Jasmin sobre como o “problema é a América, e ele está em todo o lugar”, referindo-se à discriminação racial, deveria ser poderosa, mas acaba sendo apenas didática, uma demonstração de falta de confiança no espectador para entender o tema do filme. Se a autora da obra precisa explicar a sua alegoria, então acaba roubando a força dessa própria alegoria.

Nos 20 minutos finais, a roteirista tira do bolso uma reviravolta que introduz na história um velho dilema sobre aqueles que servem a seus “mestres” enquanto se disfarçam dentro dos oprimidos. Pela falta de tempo, porém, esta proposta não chega a ser bem trabalhada, encerrando a trama com direito a um anticlímax bem decepcionante. “Master” é mais uma obra que não consegue alcançar um equilíbrio efetivo entre narrativa e tema, entre causar medo e entreter e, ao mesmo tempo, trabalhar sua crítica social.

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