O curta Meus pais, meus atores preferidos, de Gabriel Bravo de Lima, é o segundo trabalho do diretor – o primeiro foi “No Dia Seguinte Ninguém Morreu”, vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Olhar do Norte 2020. O ponto de partida foi realizar uma série de entrevistas com os pais do diretor sobre suas infâncias, memórias pessoais, e a relação entre eles, casados há mais de vinte anos.

São os pais de Gabriel (Ednelson Lima e Lubia Bravo), que assumem a responsabilidade de narrar suas infâncias, as relações familiares e também alguns traumas pessoais, dando ao curta um condensamento narrativo que passeia por diversas emoções. A partir dessa narração, que se alterna em momentos diversos na voz do pai e da mãe e numa espécie de jogo dançado, vemos imagens compostas pelos arquivos pessoais dos entrevistados e também imagens que dialogam com o que estão falando.

Sinto que há uma tentativa de resgate da memória e curiosidade do diretor como fatores motivadores para  a realização do trabalho. O curta, ao mirar na contação de histórias pessoais dos seus pais, se assemelha  ao documentário “Jogo de Cena” (2007), de Eduardo Coutinho. No entanto, em “Meus pais, meus atores preferidos”, somos mergulhados na vida íntima dos entrevistados e são eles próprios que narram, a seu modo, suas memórias, trazendo assuntos delicados inclusive, como tentativa de suicídio e abandono parental.  

Contudo, a condução da história, por se tratar de uma relação íntima, de ordem pessoal, acaba deixando o curta mais particular, ligado à vida do diretor, podendo cansar, em diversos momentos, quem assiste. Se há um desejo em compartilhar uma história de ordem pessoal, me questiono como construir uma relação que supere o lugar privado e vá ao encontro do outro. 

Mesmo que “Meus pais, meus atores preferidos” perpasse, em um certo grau, por lugares em que os espectadores se reconheçam, ainda sinto que a maneira como o curta foi conduzido, poderia universalizar mais a história narrada, que tem muita potência. Daí, poderíamos sair de um campo mais privado (ligado  às memórias de seu realizador) e partir para um lugar que atravesse o espectador (de ordem mais coletiva).