Desde o primeiro anúncio de produção, “Wonka” já despertava certo ceticismo. Muitas críticas foram direcionadas à aparente falta de originalidade de Hollywood ao tentar mais uma adaptação da história de Roald Dahl. A escolha de Timothée Chalamet para o papel de Willy Wonka, anteriormente interpretado por Gene Wilder e Johnny Depp, que não parecia combinar com o perfil do ator causava mais desconfianças. No entanto, tudo valeu a pena, pois nas mãos de Paul King e com um grande elenco a prequel espiritual de “A Fantástica Fábrica de Chocolate” consegue encantar e surpreender. 

Diferente das duas últimas adaptações da obra de Dahl para o cinema, “Wonka” cria uma espécie de história de origem do personagem antes de ser o magnata dos chocolates que já conhecemos sem perder a essência da obra original. 

Preciso admitir que não imaginava que Timothée Chalamet conseguiria dar uma boa interpretação a Willy Wonka. Na minha cabeça, ele foi imortalizado por Johnny Depp, tanto por gosto pessoal quanto por uma certa memória afetiva. Já fui ao cinema sem muita expectativa, esperando alguma espécie de cópia de Depp ou até mesmo de Wilder. Mas “Wonka” traz algo totalmente novo, uma figura mais jovem, ingênua e sonhadora, sem aquela frieza e sadismo que vemos nas outras versões, mas sem deixar de ser excêntrico. O astro de sucessos como “Me Chame Pelo Seu Nome” e “Duna” surpreende mais ainda nas cenas musicais, em que canta e dança sempre com um sorriso no rosto, um lado diferente do ator se revelando na tela. 

E esse é detalhe que pode passar despercebido para muitos, é que “Wonka” é um musical, algo que parece ter sido ocultado nos trailers, que jamais exibem essas cenas. Embora as duas outras adaptações também incorporem elementos musicais, isso pode causar estranheza, pois a versão de 2005, atualmente a mais conhecida, não é comumente considerada um musical. Além disso, esse gênero já não é tão aclamado pelo público em atual. No entanto, há um equilíbrio notável que torna as cenas musicais agradáveis; elas são simples, com coreografias divertidas e inseridas com moderação ao longo da trama, cativando a atenção da audiência. 

Outros destaques no elenco incluem Olivia Colman, praticamente irreconhecível e hilária em sua caracterização, e Hugh Grant como Oompa-Loompa em uma participação breve, mas, marcante. 

FANTASIA E REALISMO

O estilo de direção de Paul King combina muito com as obras de Roald Dahl, compartilhando uma visão do mundo que mescla fantasia e realismo. Nos filmes de King, como “Paddington” e “Paddington 2”, elementos mágicos e surreais se entrelaçam com o cotidiano, oferecendo ao público uma atmosfera acolhedora, algo que também podemos observar nas histórias de Dahl. Embora ambos sejam direcionados ao público infantil, é notável que o tom mais sombrio e irônico de Dahl não tenha sido totalmente reproduzido por King em “Wonka”, resultando em uma abordagem final que pode ser considerada excessivamente infantil e simplificada. 

No fim das contas, “Wonka” surpreende positivamente, superando as preocupações iniciais sobre originalidade e escolhas de elenco. Paul King manteve a essência da obra de Roald Dahl criando algo totalmente novo e Timothée Chalamet trouxe uma nova vida a Willy Wonka, especialmente nas cenas musicais. Apesar de algumas críticas, principalmente sobre a abordagem infantil e a falta do tom sombrio de Dahl, temos uma experiência única, que mesmo sendo diferente das outras adaptações, ainda traz nostalgia.