O fotógrafo e jornalista César Nogueira enveredou pelo mundo da produção cinematográfica nesta última década. Parece ter sido uma decisão mais do que acertada, pois ele acabou de ser indicado ao prêmio nacional da Associação Brasileira de Cinematografia, pelo seu trabalho como diretor de fotografia do curta amazonense A Menina do Guarda-Chuva. O curta é uma produção da Artrupe Produções Artísticas, da qual Nogueira é fundador.

2015 se torna um ano marcante para Nogueira do ponto de vista profissional porque, além do seu trabalho no cinema, o fotógrafo também promoveu a sua recente exposição fotográfica Um Coração, na qual mostrou a comunidade japonesa que reside em Manaus e a sua relação com as culturas brasileira e amazonense.

Nogueira, que no momento encontra-se trabalhando no mais novo filme da Artrupe, E Se Essa Estrada Não Levar a Lugar Nenhum, conversou com o Cine Set sobre a sua trajetória, a evolução da produtora e também sobre o fato do seu trabalho no curta do diretor Rafael Ramos ter alcançado reconhecimento nacional.

Cine Set: Vamos começar pela indicação ao prêmio da Associação… Foi uma surpresa pra você essa indicação? Como você soube dessa notícia?

César Nogueira: Soube por um e-mail que a organização do festival me mandou. Quando mandamos filmes pra festivais, sempre temos esperança de sermos selecionados. Mesmo assim, ganhei o dia com essa informação.

Cine Set: Parabéns. Fale um pouco sobre o começo da sua carreira e seu interesse por fotografia. Você é daqui do Amazonas?

César Nogueira: Eu nasci em Roraima e vim pra cá com 10 anos. Fiquei por aqui. Isso já faz 17 anos. Cresci vendo o meu pai fotografando e mexendo com fotos. Ele é um fotógrafo diletante e dedicado. Tem fotos de Roraima desde os anos 1950, 1960. Ele fez documentários sobre o Monte Roraima e tal. Mas isso nunca tinha me despertado a seguir os passos dele até ter começado jornalismo. Oficialmente, sou jornalista formado pela Ufam.

akira kurosawaCine Set: E como veio o cinema?

César Nogueira: Tive o primeiro contato prático com audiovisual no Intercom Norte 2006 com uma oficina ministrada por Danilo Egle. Sempre gostei de cinema. Na faculdade, descobri que o meu gosto também se dava no nível de criação. O cinema veio só no início dessa década. Foi um processo natural. Comecei filmando e produzindo pro Set Ufam, que deu origem ao Cine Set. Cobrimos bem umas 3, 4 edições do Amazonas Film Festival. Tempo bom (risos). Depois produzia e montava um programa de cultura pop chamado Start. Essa bagagem me deu segurança pra investir no cinema.

Cine Set: Que diretores e diretores de fotografia você admira?

César Nogueira: Gosto de Akira Kurosawa, Fritz Lang, Jodo – desculpe a intimidade [Alejandro Jodorowski, cineasta mexicano]. Sou mais influenciado por fotógrafos still, como Henri Cartier-Bresson, Steve McCurry e Man Ray. Dos diretores de fotografia, comecei a estudar a sério Nestor Almendros, Vittorio Storaro e Emmanuel Lubezki. Gosto de Matrix também. Meu filme favorito. Vi no mínimo 17 vezes.

Cine Set: Fale um pouco sobre a sua exposição com tema japonês.

César Nogueira: É uma exposição fotográfica em homenagem à comunidade nipo-brasileira de Manaus. Foi contemplada com o Proarte 2013 e tem apoio do Consulado Geral do Japão em Manaus. A Um Coração também faz parte das comemorações de 120 anos de amizade Brasil-Japão. Ela vai agora em maio para Hamamatsu, cidade com uma grande comunidade brasileira. Ano passado fui pra Osaka via Fundação Japão para fazer curso de língua e cultura japonesas. Agora vou pela exposição mesmo.

Cine Set: O trabalho na exposição afeta, ou pode influenciar, o seu trabalho no cinema?

César Nogueira: Não.

Danilo Reis e Jéssica Amorim em "A Menina do Guarda-Chuva"Cine Set: Fale sobre o seu método de trabalho nos curtas.

César Nogueira: Apesar do meu jeitão sisudo, gosto de conversar. Gosto de ouvir o diretor. Saber o que quer e como ele quer as imagens. O que ele quer comunicar por elas (meu background de comunicólogo fala alto aqui). Gosto de organização e método. E de saber o que e por que estou fazendo na hora dos planos.

Cine Set: Você pretende dirigir seu próprio filme, curta ou longa, um dia?

César Nogueira: Não tenho esse interesse. A fotografia e a montagem satisfazem as minhas inquietações e já são muito amplas de possibilidades. Quero fotografar e/ou montar um longa (risos).

Cine Set: Como você vê o desenvolvimento dos curtas da Artrupe?

César Nogueira: Estamos cada vez mais afinados e organizados. Avaliamos muito os nossos trabalhos para ver onde acertamos e onde podemos melhorar. Acho que estamos num crescimento gradual e consistente. E estamos cada vez mais com parcerias. Vejo um futuro bom pra nós.

Cine Set: Comente sobre o cenário amazonense. Suas impressões, o que gosta e o que não gosta.

César Nogueira: Eu acho que é um cenário que está ficando consistente. Temos curtas variados. O cenário amazonense está crescendo e ficando mais profissional. Acho que o curso da UEA foi muito importante para nós. Vamos ver de fato os resultados dele daqui uns anos. A classe viu que precisa se unir para defender os seus interesses. Das produções daqui, gosto das do Aldemar Matias, do Anderson Mendes. Pra mim, o A Floresta de Jonathas é um marco artístico e político pra nós. O Sérgio [Andrade, diretor do filme] rodou o mundo com o filme. Que isso seja copiado e reproduzido por mais amazonenses. O último filme amazonense que vi foi o do Arnaldo Barreto, o Até que a Última Luz se Apague. E gostei muito! Quanto mais gente produzindo com critério, melhor para todos. Fiquei muito feliz com a indicação do Aldemar [o curta do diretor, El Enemigo, foi selecionado para o Festival Visions du Réel, na Suíça]. Sou fã dele desde os tempos de faculdade, num tempo em que ele trabalhava pro Canal 21 da Vivax.

Bastidores de gravações com Danilo Reis e César Nogueira, da Artrupe Produções ArtísticasCine Set: E quais serão seus projetos futuros?

César Nogueira: Quanto aos meus próximos trabalhos… Estou montando o E Se Essa Estrada Não Levar a Lugar Nenhum, do Rafael [Ramos, mesmo diretor de A Menina do Guarda-Chuva. Nogueira é também o montador do filme]. Estamos ainda ajustando o corte. Estou montando um documentário sobre o bodó do fotógrafo Jimmy Christian. E estou fotografando uma parceria da Artrupe com o ator e escritor Gabriel Mar. A direção é do Bauer [Diego Bauer, repórter do Cine Set]. E estou fotografando o clipe da música “Lulu”, da Luneta Mágica, que tem direção do Rafael.

Cine Set: Para terminar… Você vai à cerimônia da premiação?

César Nogueira: Eu quero! (risos).