Desde o anúncio da vitória de “Green Book” em Melhor Filme do Oscar 2019, cinéfilos e jornalistas do mundo inteiro criticam a Academia de Hollywood. O site Indiewire, por exemplo, questiona se a produção estrelada por Viggo Mortensen e Mahershala Ali é a pior ganhadora da categoria desde “Crash”, em 2005.

Por isso, o Cine Set foi atrás de críticos, diretores do cinema amazonense e cinéfilos para saber a pergunta que dá título a este post.

“”Green Book” é um filme bom e bonito tecnicamente. As atuações são verossímeis, causam empatia no espectador, mas o longa é uma produção comercial. Quando se trata de expor o racismo em sua forma real, incomodando e fazendo pensar, ele erra! O filme prefere abordar a temática de uma maneira mais florida, focando na amizade dos dois. Isso irrita os cinéfilos e críticos de cinema, principalmente, por conta das mudanças significativas que a Academia vem passando. Todos os movimentos políticos e sociais em Hollywood ocorridos nos últimos deram a impressão de que uma mudança estava em curso. Exemplo disso foi a indicação de “Pantera Negra” ao maior prêmio da noite.

A raiva fica maior quando analisamos que os concorrentes de “Green Book” eram produções como “Roma”, “Infiltrado na Klan”, filmes com uma forte crítica social e racial, respectivamente. Produções realmente grandiosas. Mas, acredito fielmente que daqui há algum tempo, não muito longo, veremos a Academia repensar suas premiações. Vejo o Oscar 2019 como um ponto alto desta mudança”.


“É notório que o Oscar não é uma premiação a ser levada a séria ao pé da letra. Há variáveis que envolvem questões comerciais e como a Academia administra os seus interesses. Neste sentido a própria qualidade do filme – a arte na sua essência – fica, às vezes, em segundo plano. O problema é que a vitória de “Green Book” expõe em demasia, o teto de vidro conservador da Academia.

Por mais que tenha boas intenções “Green Book” é um filme frágil em defender a diversidade, de alcançar um diálogo com aqueles que deveriam ser representados. Falta consistência e pluralidade ao texto. Isso gera irritação ao público pelo sentimento de injustiça quando a academia consagra um filme com estas limitações, ainda mais possuindo no mesmo balaio de indicados, obras com uma verve crítica mais substancial como “Roma”, “Infiltrado na Klan” e “Pantera Negra”.

Premiar um filme que não dialoga com o tempo presente, na qual se busca promover a representatividade, e sim com um passado remoto de ideias arcaicas é um verdadeiro tiro no pé. A frase da canção de Cazuza define isso bem “Eu vejo o futuro repetindo o passado”. No cinema, isso é um grande retrocesso”.

“”Green Book” é um filme extremamente problemático. Vende a imagem de um filme desconstruído, mas acaba tratando um tema sério de forma simplista, chegando até a esconder em seu roteiro um certo racismo velado. Tanto que desagradou a comunidade negra e a própria família do personagem interpretado pelo Mahershala Ali. Sem contar que o filme não apresenta qualquer novidade estética. É dirigido de forma tradicional, não tem um plano sequer que chame a atenção, não tem ousadia ou personalidade.

A história nos prende durante o tempo de projeção (principalmente devido à dupla de protagonistas), mas é aquele tipo de filme que, quando termina, temos a sensação de ter visto uma dezena de obras parecidas. Poderia facilmente se chamar “Conduzindo Miss Daisy 2” (outro filme que ganhou o Oscar injustamente).

Em um ano em que havia, pelo menos, quatro filmes excelentes concorrendo. Ver “Green Book” ganhar o prêmio principal só nos faz confirmar o quando a Academia de Hollywood ainda está engessada. Se eles estivessem realmente preocupados com a questão da representatividade e denúncia do racismo, o correto teria sido premiar “Infiltrado na Klan”.


“Acho que uma das coisas mais irritantes é que, acima de tudo, essa vitória mostra o quanto os votantes ainda pensam de maneira conservadora. “Green Book” é o tipo de filme feito para vencer o Oscar em 1989, como “Conduzindo Miss Daisy”, e não em 2019; é uma narrativa problemática de um grupo de homens brancos que não se aprofunda no tema do racismo e prefere ser uma comédia com clima de Sessão da Tarde.

A disputa desse ano podia não estar lá muito empolgante, mas tinha opções melhores como “Infiltrado na Klan”, que é o completo oposto de “Green Book”, além de ser um filme corajoso e necessário, ou “Roma”, que deve ter sofrido ainda por conta da birra com a Netflix e o streaming, em outro sinal do conservadorismo dos votantes.

“Green Book” é o “Crash” desse ano: é o filme perfeito para os votantes premiarem com a falsa sensação de que são transgressores”.


“É um tanto bizarro refletir que o maior filme da temporada aborda o racismo e foi escrito por homens brancos, que usam o negro como escalada para a redenção do branco racista. Isso vendo apenas o produto de forma isolada e sabendo que havia obras de Spike Lee e Ryan Coogler realmente representativas e que competiam na mesma categoria.

A questão é que a conquista de “Green Book” implica em coisas maiores: o filme não apenas tenta fazer com que pessoas brancas que o apoiem se vejam como progressistas, mas também ignora reivindicações que tem sido feitas por artistas nos últimos anos como o assédio sexual e as políticas “protecionistas” de Trump. Daí, a importância de conhecer as mentes por trás da produção.

 Condecorar “Green Book” soa como um passar de pano da Academia a assediadores e reacionários”.

Quando assisti pela primeira vez “Green Book”, não tinha conhecimento do que se tratava nem por trás da história. Gostei bastante do personagem do Dr Shirley e de seu sentimento de não pertencimento em sua própria etnia provocado pela sua posição social. A essência do filme é esse personagem.

No entanto, quando você olha o por trás do filme, a produção, o incômodo é o inevitável. Foi só olhar toda a equipe recebendo o prêmio, essencialmente branca, sem discurso que enaltecesse a causa. Parecia uma “afroconveniência”.

Se o filme queria criticar o racismo institucional, acaba usando ele em toda sua abordagem, afinal, ‘Green Book” usa o cara negro para contar a saga de redenção de um cara branco. É um filme que quer falar de racismo, mas sob o olhar “branco”.

E, além disso tudo, ainda tem o fato da família do pianista acusar a produção de nunca ter os comprovantes, afirmando que o filme é cheio de mentiras. É muito importante conhecer a produção para entender com um roteiro foi levado às telas.


“Diria que é principalmente pela posição ideológica que o filme assume pra si, e cinema também é ideologia. Cada ano que passa, nós temos mais filmes que se fazem dispostos a cutucar a ferida do racismo da mesma forma com que a história racial foi agressiva e condenatória, e um filme que tenta mascarar esse peso com um humor supostamente leve parece não ter mais tanto espaço atualmente.

O público quer um filme que assuma a força de um tema como esse, e ao contrário disso, o “Green Book” dilui esse impacto, principalmente, ao preferir humanizar o lado do opressor ao invés do oprimido, mais uma vez apostando em um roteiro de situações degradantes para o lado oprimido.

Uma visão repetitiva que incomoda muita gente”.


“Acho que soou como sarcasmo da Academia. Deram mais um prêmio politizado/progressista, mas escolheram o ponto de vista do branco sobre o assunto, enquanto bem ao lado tinha um filme com lugar de fala, o termo corrente para coisa.

Essa discussão inteira se torna uma zona cinzenta a partir daí, por isso é até difícil ver 100% com clareza as intenções tanto das indicações quanto das premiações”.


“Acho que o que mais irrita o “segmento” dos cinéfilos é o estilo de filme que “Green Book” é: um típico drama Oscar Bait (definição de filme feito que é “talhado” para o Oscar) que fala de racismo sob a ótica de um branco, reforça alguns esteriótipos e tem um roteiro esquemático e mediano.

Isso em um ano de produções que vão na contramão dessa lógica como eram os casos de “Roma”, “A Favorita” e até mesmo “Pantera Negra””.


“”Green Book”, mesmo sendo inspirado em uma história real da vida do músico negro Dr Shirley, é um filme que deturpa a questão racial, principalmente da segregação. Tudo para dar a entender que a supremacia branca é que precisa dar a mão ao negro para ele se tornar livre. Não gosto disso.

“Infiltrado na Klan” é muito mais autêntico nessa tarefa e merecia ganhar. Assim como o Spike Lee em Melhor Diretor”.


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