Existem atores que realizam performances tão extraordinárias que deixam uma marca indelével em gerações inteiras, como Marlon Brando em “O Poderoso Chefão” ou Meryl Streep em “A Escolha de Sofia”. No entanto, é importante reconhecer que esses artistas geralmente dedicaram grande parte de suas vidas ao ofício da atuação, aprimorando suas habilidades por estudo e prática incessantes. É por isso que os grandes mestres da atuação, como Anthony Hopkins e Judi Dench, muitas vezes são pessoas mais velhas, cuja experiência e profundidade emocional enriquecem cada cena em que atuam. 

Por vezes, pode ser surpreendente ver crianças assumindo papéis de destaque em filmes, pois muitos não esperam que elas ofereçam atuações tão impressionantes. No entanto, ao longo dos anos, surgiram exemplos notáveis que desafiam essa expectativa. Recentemente, filmes como “Monster” e “Anatomia de uma Queda” apresentaram jovens atores que não apenas roubaram a cena, mas entregaram interpretações excepcionais. Apesar de sua tenra idade, essas crianças demonstraram uma habilidade e uma profundidade emocional comparáveis às de atores com décadas de carreira, redefinindo as expectativas sobre o talento juvenil na indústria cinematográfica. 

Sōya Kurokawa e Hinata Hiiragi – Monster (2023)

As atuações de Sōya Kurokawa e Hinata Hiiragi em “Himizu” elevam o filme a outro patamar. Kurokawa entrega uma interpretação intensa e visceral como Minato, capturando a confusão emocional e a angústia interior de um menino que enfrenta bullying, abuso e a descoberta de sua sexualidade. Já Hiiragi oferece uma atuação delicada e comovente como Yori, retratando com sensibilidade a fragilidade e a dor de um jovem que sofre abuso físico e psicológico. A química entre os dois é palpável, e a conexão entre Minato e Yori é essencial para a história. Juntas, suas atuações criam uma experiência cinematográfica memorável e tocante. 

Milo Machado Graner – Anatomia de uma Queda (2023)

Embora não seja o protagonista de “Anatomia de uma Queda”, Milo Machado Graner assume um papel crucial na trama, impregnando cada cena com sua presença singular. Como Daniel, o filho com deficiência visual do casal sua atuação transcende a mera descrição, carregando uma força emocional. Através de sutis expressões faciais e uma linguagem corporal, Milo transmite a complexa gama de sentimentos que permeiam o interior de Daniel. A frustração, a tristeza, a esperança e a incompreensão se manifestam em cada gesto. 

Jean-Pierre Léaud – Os Incompreendidos (1959)

 

Talvez um dos trabalhos de atuação que mais me marcaram até hoje, essa foi a primeira vez que Léaud interpretou Antoine Doinel, uma espécie de alter ego do diretor François Truffaut. A sua escalação, inclusive, se deu pelas semelhanças físicas com o mestre francês assim como pela personalidade rebelde. Mas o que torna essa atuação tão boa? Antoine é inteligente, mas negligenciado pela família, o que o torna rebelde e o faz querer desafiar o mundo. No fundo, ele ainda é apenas uma criança (por mais que o ator tivesse 14 anos, o personagem era mais novo). A ingenuidade e o espírito juvenil, junto com a rebeldia, o fazem um personagem extremamente complexo e que até hoje é considerado um dos maiores trabalhos de Léaud. Léaud, por sua vez, veio a se tornar um dos grandes atores da França. 

Jonathan Chang – Yi Yi (2000)

Em “Yi Yi”, a atuação de Jonathan Chang como Yang Yang é uma lembrança tocante da infância. Apesar de ter apenas nove anos e lidar com sentimentos complexos sozinho, ele observa o mundo com perspicácia e inocência. O desempenho marcado por poucas falas, mas rico em expressões e linguagem corporal, revela sua tristeza, frustração e desejo de ser compreendido e compreender o mundo. A presença de Yang Yang é fundamental para a história, proporcionando leveza e esperança em meio às lutas dos adultos. A atuação de Chang nos convida a redescobrir a beleza da vida e a importância de dar voz às crianças. 

Babak Ahmadpour – Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (1987)

Babak Ahmadpour vive Ahmad uma criança que sem querer pega o caderno de um colega de sala e precisa devolver para que o mesmo não seja punido. Apesar de não ser um ator profissional, Ahmad entrega uma performance cheia de emoção que captura a inocência, a determinação e a vulnerabilidade de um menino em busca de ajudar seu amigo. Ahmed é uma criança que nunca é ouvida, mas que nunca desiste, mesmo com toda a frustração. Durante o filme conseguimos sentir essa frustração e conseguimos ver ela na sua atuação, uma emoção que não é fácil de transmitir. 

River Phoenix – Conta comigo (1996)

Em “Conta Comigo”, a jornada de amadurecimento dos quatro amigos é marcada pela performance avassaladora de River Phoenix como Chris Chambers. O rebelde do grupo, Chris carrega consigo um passado turbulento e um futuro incerto, e Phoenix captura essa dor e a vulnerabilidade escondidas sob a máscara de indiferença, mesmo que ele queira ser duro o rebelde ainda é uma criança ainda é inocente e demonstrar tudo isso não é fácil. 

Enzo Staiola – Ladrões de Bicicleta (1948)

 

A performance de Enzo Staiola, com apenas 9 anos, em “Ladrões de Bicicleta”, é venerada pela crítica como uma das mais memoráveis da história do cinema. Seu desempenho natural e comovente cativa os espectadores, encapsulando perfeitamente os ideais do neorrealismo italiano, que buscava retratar a vida cotidiana e as lutas sociais da época. Staiola personifica a inocência e a luta pela sobrevivência de forma tão autêntica que seu trabalho transcende as telas, deixando uma marca indelével na memória de quem assiste. 

Vinicius de Oliveira – Central do Brasil (1998)

Claro que não podemos esquecer do cinema nacional: poderíamos citar Fernando Ramos da Silva de “Pixote”, mas, impossível não ficar com o Josué do nosso último indicado a Melhor Filme Internacional. Vinícius de Oliveira não empalidece mesmo ao lado de gigantes como Marília Pêra, Othon Bastos e, claro, Fernanda Montenegro. O menino revoltado e áspero da parte inicial abre aos poucos a guarda para se mostrar um rapaz cuidadoso e muito carinhoso. A despedida dele e de Dora na reta final faz qualquer um chorar. 

Macaulay Culkin – Esqueceram de Mim (1990)

Completando a lista, o desempenho infantil masculino mais popular da lista e, quem sabe, da história do cinema. Não há um Natal que “Esqueceram de Mim” não seja visto por milhões ao redor do planeta. Culkin encontra o papel da vida em Kevin, o pobre garoto abandonando pela família em plena festas de fim de ano que precisa enfrentar uma dupla de bandidos atrapalhada. É um trabalho tão marcante que o astro nunca mais conseguiu superar a imagem imortalizada na comédia do Chris Columbus.