De “Parasita” a “Oppenheimer”, Caio Pimenta analisa os primeiros cinco anos da década 2020 em Melhor Filme e Direção.

5. NOMADLAND E CHLOÉ ZHAO

Como as categorias de Melhor Filme e Direção divergiram apenas uma vez nos últimos cinco anos, dá para tranquilamente para equiparar as duas listas. O último lugar de ambas, inclusive, é o mesmo. 

“Nomadland” foi o grande vencedor do Oscar 2021, a temporada da pandemia da Covid-19. O drama da Chloé Zhao casa bem com aquele período ao mostrar o desalento de uma protagonista que perdeu tudo na crise de 2008 nos EUA. Ainda assim, o tom de solidariedade e esperança que existe nos piores momentos está lá e faz da obra um retrato triste, mas, resiliente. 

Apesar da compreensão de tudo isso e da memória da pandemia ter feito o filme ganhar uma outra dimensão, “Nomadland” passa longe de ser uma obra empolgante; vejo uma certeza palidez na abordagem da Chloe Zhao que tira o nosso envolvimento com o que acontece na tela. Aliás, nem é o meu favorito da diretora que segue sendo o excelente “Domando o Destino”. No fim das contas, foi uma obra que se beneficiou de uma temporada de concorrentes fracos para levar a estatueta. Ficou com o quinto lugar em Melhor Filme e Direção. 

4. ‘CODA’ E DANIELS

A quarta posição de Melhor Direção e Filme são divergentes. 

Os Daniels superaram ‘somente’ Steven Spielberg para ganhar entre os diretores no ano passado. Mesmo preferindo o trabalho deles no roteiro de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, a coesão oferecida por eles a uma história de multiversos conseguindo tanto abraçar as diversas possibilidades destes tipos de narrativas como tornar isso palatável ao grande público merece aplausos. 

Na categoria máxima, “Coda – No Ritmo do Coração” é o meu quarto colocado. Para a relevância e o peso histórico do Oscar, é claro que se trata de um resultado discutível, especialmente, quando havia “Drive My Car”, “Amor, Sublime Amor” e “Ataque dos Cães” no páreo. Não dá para negar, porém, que, dentro da proposta dele, funciona muito bem a partir de um roteiro direto ao ponto, bons atores muito bem-escalados e em grande sintonia.  

Se não fosse o resultado que alcançou no Oscar, “Coda” seria daqueles filmes que todo mundo ama, mas, como a Academia o alçou para um status exagerado, acaba provocando bastante divisão.  

3. ‘TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO’ E JANE CAMPION

Em terceiro lugar em Melhor Filme, fico com “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”: não sou do time que ama a produção estrelada pela Michelle Yeoh nem odeia. O grande ponto deste resultado é como ele representa novas possibilidades para Academia, afinal, a ficção científica sempre foi vista de soslaio tal qual o cinema de gênero como um todo. Logo, uma produção tão fora da caixinha como esta sair vencedora da categoria máxima simboliza uma tentativa de novos rumos para uma premiação que esnobou nas categorias máximas obras-primas como “Blade Runner” e “Matrix”. Se isso vai se concretizar ou não, só o tempo dirá. 

O primeiro Oscar da carreira da Jane Campion aparece em terceiro lugar na lista de Melhor Direção. A neozelandesa já merecia desde “O Piano”, porém, ali, teve pela frente Steven Spielberg que não deu chances com “A Lista de Schindler”. Já em “Ataque dos Cães”, ela retrabalha o faroeste para falar dos desejos proibidos dos cowboys e do mundo masculino tóxico para com as mulheres. Se a Academia e o mundo fossem mais justos, esta não seria a única estatueta do filme da Netflix. 

2. ‘OPPENHEIMER’ E CHRISTOPHER NOLAN

A segunda colocação de ambas as listas veio da cerimônia deste ano. “Oppenheimer” é o cinemão clássico de histórias grandiosas sobre temas importantes com um elenco de primeira. A pitada de modernidade vem na condução feita pelo Christopher Nolan e no brilhantismo técnico que fazem as três horas passarem como uma avalanche pelo público. Mesmo quem não gostava do diretor de “O Cavaleiro das Trevas” e “A Origem” se dobrou a ele. 

1. ‘PARASITA’ E BONG JOON-HO

E não podia ser diferente: o primeiro lugar tinha que ficar com o Bong Joon-Ho e “Parasita”. A obra-prima sul-coreana dobrou a Academia para se tornar a primeira produção de língua não-inglesa a levar a categoria máxima. E não era para menos: o filmaço capta os abismos das classes sociais com ironia, drama e humor a partir de uma trama com grandes personagens e reviravoltas impressionantes. A universalidade e o caráter atemporal de lutas inerentes ao sistema de vida que estamos inseridos fazem de “Parasita” um ganhador para ser lembrado por muitos e muitos anos.