Fechados há seis meses, os cinemas de Manaus estão perto do retorno. Igual ocorreu em 2020, o Casarão de Ideias deve marcar este recomeço com a reabertura da sala prevista para o próximo dia 24 de junho, segundo João Fernandes, diretor e fundador do espaço cultural.
A programação de retomada deve trazer dois dos principais filmes lançados no Brasil neste primeiro semestre: “Alvorada”, documentário sobre os últimos dias de Dilma Rousseff na casa oficial da Presidência da República, e “Druk”, dramédia dinamarquesa ganhadora do Oscar de Melhor Filme Internacional. Os documentários brasileiros “Cine Marrocos” e “Chão”, além do drama LGBTQIA+ “Fale com as Abelhas” completam as atrações.
Para respeitar as normas sanitárias, o Casarão repetirá os protocolos do segundo semestre de 2020: 18 dos 35 assentos estarão à venda e haverá limpeza da sala após cada filme – fatores decisivos para a retomada já neste momento. O preço dos ingressos continua o mesmo: R$ 6 (meia-entrada) e R$ 12 (inteira). A grande novidade fica por conta do menor número de sessões diárias: serão três por dia às 15h, 17h e 19h; antes da pandemia eram quatro sessões.
“A ideia é sentir como será o volume das pessoas neste início para depois poder expandir. Estamos tentando escolher bem os filmes para começar do lugar que voltamos em agosto de 2020. Naquela época, tínhamos uma média de 6, 8, no máximo, 10 pessoas por sessão. Isso para gente já é muito confortável. O quantitativo, hoje, não é a nossa maior preocupação; financeiramente nos ajuda muito, claro, mas, não vai nos salvar. O foco é que o espaço retorne e o Casarão volte à sua totalidade”, declarou João.
O Cine Casarão acompanharia, de acordo com João Fernandes, o processo de reabertura dos espaços culturais em Manaus. No último dia 15 de junho, Galeria do Largo e Casa das Artes, no Largo de São Sebastião, e Centro Cultural dos Povos da Amazônia (CCPA), no Distrito Industrial, passaram a receber visitação pública.
NOVOS CAMINHOS PARA SEGUIR EM FRENTE
Em entrevista exclusiva ao Cine Set, João Fernandes admitiu que a intensidade da segunda onda da pandemia da Covid-19 em Manaus o colocou em dúvida sobre a reabertura do Casarão de Ideias. “Tudo foi diferente por conta da gravidade do que aconteceu e, particularmente, cheguei a pensar de que não teria como voltar por não saber quando a situação iria melhorar”, disse.
Com o cinema e o café fechados entre janeiro e março de 2021, responsáveis por 40% da renda atual do espaço cultural, o Casarão de Ideias encontrou em editais da lei Aldir Blanc e na Chamada Pública do Programa Especial de Apoio aos Pequenos Exibidores do BRDE/FSA (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul e Fundo Setorial do Audiovisual) formas para se manter. Atualmente, o local ainda concorre a um prêmio de 2 mil euros do governo francês voltado para o estímulo a exibidores independentes ao redor do planeta que colocam em sua programação filmes do país.
Outra saída foi além do âmbito artístico e passou pela criação da Escola de Ideias. Localizado no piso inferior do Casarão, o espaço traz salas de reuniões, estações de trabalhos e salas de aulas para alugar. “A escola surgiu para pensar em outros vieses do que já fazíamos. A ideia é abranger todas as áreas; já recebemos, por exemplo, pessoas de design, startups, etc. Não será um processo do dia para noite, mas, temos tido uma boa procura”, disse João.
Atualmente, o Casarão conta com seis funcionários fixos e mais oitos estagiários, todos da UEA, que trabalham na Escola de Ideias.
FOCO NO DIGITAL
Mesmo com o funcionamento ainda limitado, o Casarão de Ideias registrou um alto crescimento inesperado nas redes sociais: foram mais de 10 mil novos seguidores no Instagram de janeiro a junho. “O público quer consumir cultura e desconhecia isso em Manaus. Também atingimos um outro nicho: pessoas que não tinham uma relação cultural com a cidade, mas, viram uma postagem e quiseram vir conhecer. Sentimos isso pelas perguntas e as enquetes nas bilheterias. As pessoas vêm e exigem qualidade, citando sempre o cuidado, o zelo, a limpeza. Isso reforça o desejo da gente cuidar”, declarou João, citando uma frase que sempre escuta dos visitantes: “parece que não estou em Manaus”.
Com perspectivas de realizar os tradicionais Festival Mova-se de Dança, as instalações do projeto Lugares que o Dia Não me Deixa Ver, uma exposição sobre Frida Khalo e a criação de um espaço kids neste segundo semestre, o Casarão de Ideias terá ainda a missão de desenvolver a tour virtual “Teatro Amazonas um jogo em memórias”. A iniciativa arrecadou os R$ 75 mil necessários junto ao público para tirar a proposta do papel.
“Sempre pensamos o Casarão de forma muito presencial, mas, a partir deste projeto, podemos abrir outras portas para trabalhar no digital. Temos que pensar em como nos posicionar no mercado”, afirmou.