Baseado em fatos reais, “A Espiã Vermelha” conta a história da estudante de física da universidade de Cambridge, Joan Stanley. Integrante do programa de desenvolvimento da bomba atômica britânica, ela acaba se apaixonando por um jovem comunista e passa a ser uma espiã soviética em plena Segunda Guerra Mundial.
Somente esta sinopse básica cria grande expectativa em qualquer amante de um bom filme de espionagem e intrigas de Estado. No entanto, o drama ‘A Espiã Vermelha’, do diretor Trevor Nunn (“Lady Jane”), acaba sendo uma obra que mira na tríade romance, política e ciência sem abordar nenhuma delas com maestria. O resultado? Um filme quadrado, convencional e com pouquíssima empatia, desperdiçando o talento grandioso de Judi Dench.
O longa tem início quando a física Joan (Judi), aos 80 anos, é conduzida coercitivamente pelo serviço secreto britânico MI-5 sob acusação de trair seu país, se envolver com comunistas e repassar informações de guerra para URSS. A experiente atriz, com poucos movimentos e um rosto sofrido começa a contar sua história, quando prematuramente, o longa se utiliza de flashbacks para retratar a vida da jovem Joan, interpretada por Sophie Cookson (“Kingsman”).
APATIA NA DIREÇÃO E ROTEIRO
A base do filme é o livro homônimo de Jannie Rooney, dando à roteirista Lindsay Shapero (“The Head Hunter”) uma pérola a ser condensada. É visível a escolha da roteirista ao optar por um discurso carregado de questões históricas e políticas, tocando na questão do comunismo, Segunda Guerra Mundial e patriotismo com longos discursos de seus personagens defendendo suas posições extremas. Até certo ponto, Lindsay, com a ajuda da dedicada atuação de Sophie, consegue fornecer um roteiro crítico, ao retratar a história de uma mulher extraordinária, na presença excessivamente masculina, em meio a posições extremas.
O deslize da trama acontece em seguida, ao utilizar o romance e todos os seus clichês. Isso transforma Joan em uma mulher e suas paixões, sem sequer, desenvolver o arco dramático da personagem, para tornar aceitável as escolhas que viriam a seguir.
É preciso ser honesta com “A Espiã Vermelha”, pois, nem todo seus defeitos estão no roteiro. A direção mecânica e clássica de Trevor Nunn torna-se cansativa e exagerada em muitos momentos. Com seus enquadramentos convencionais, é claro que ele não se preocupa em criar uma empatia do espectador com seus personagens, alguns até, que poderiam ser descartados. O longa ainda constrói uma narrativa que nos leva a esperar por uma grande cena, um ponto de virada memorável, mas a obra de Nunn segue por caminhos sempre já conhecidos.
Um detalhe que merece créditos fica a cargo do design de produção e fotografia, por recriarem com perfeição a Inglaterra de 1938. Os cenários, maquiagem e figurinos foram pensados e executados de forma detalhista. Ao final de “A Espiã Vermelha”, Judi Dench brilha nos poucos minutos que tem em tela e, em sua última cena, prova mais uma vez que é uma lenda do cinema, sem precisar de grandes textos para realizar uma atuação marcante.