Você já viu essa história antes: dois amigos que vivem tendo problemas românticos, não encontram a pessoa certa, batem cabeça por duas horas de filme e, no final, chegam a conclusão de que eram feitos um para o outro e a felicidade estava ali do lado o tempo todo. Tradicionalmente, na história do cinema, esses amigos eram um homem e uma mulher, mas estamos no século XXI e agora é uma época de novas perspectivas. Am I Ok? é um desses filmes, com duas amigas. Porém, infelizmente nem o toque delicado da dupla de diretoras Stephanie Allynne e Tig Notaro – um casal na vida real – nem o bom humor conseguem elevar o projeto acima do clichê banal.

Lucy e Jane – interpretadas por Dakota Johnson e Sonoya Mizuno – são as melhores amigas, daquelas que terminam as frases uma da outra. Quando surge uma oportunidade de carreira para Jane que fará com que ela se mude para Londres, a vida de Lucy entra em parafuso. E seus problemas também são causados pelo fato dela estar começando a perceber que não gosta tanto assim de namorar e transar com rapazes… Lucy começa a explorar esse lado da sua sexualidade, ao mesmo tempo em que entra em conflito com sua amiga que está indo embora.

É um filme muito espirituoso. Claro, tendo em vista que Notaro (“One Mississipi”) é uma conhecida comediante – e ótima – e Allynne é atriz, é claro que em Am I Ok? o forte da experiência são os diálogos engraçados e as atuações. Notaro até faz uma pontinha no filme, uma cena engraçada na qual interpreta uma guru. Esse momento, no entanto, podia ser cortada sem muitos problemas.

NADA ALÉM DA SUPERFÍCIE

O problema do filme, infelizmente, reside no roteiro. O texto é muito básico e falha, às vezes, em nos conectar com as personagens. Lucy, por exemplo, passa quase todo o filme como uma mosca morta – é ela quem tem que ser incentivada a paquerar sua massagista, sendo empurrada para lá e para cá na história. Apesar dos notáveis esforços de Dakota Johnson, que realmente entrega mais uma boa atuação, a personagem aos poucos começa a se tornar aborrecida.

Os conflitos também não se elevam muito além do superficial, o que é tornado claro pela forma como o longa se encerra: Allynne, Notaro e o roteiro de Lauren Pomerantz não terminam satisfatoriamente o filme, apenas o interrompem, o que é frustrante para o espectador.

Uma pena, porque é um filme bem intencionado, engraçado e sensível, com algumas boas ideias e bons momentos espalhados pelos seus breves 86 minutos de duração. E a ideia de um despertar sexual ocorrendo numa fase mais tardia da vida é algo muito rico e interessante do ponto de vista narrativo. Mas falta a Am I Ok? uma visão mais afiada e certeira, e um polimento no roteiro – é como se tivessem filmado o primeiro rascunho. Como resultado, é um longa irregular que, embora até traga alguns sorrisos aqui e ali, não consegue deixar de parecer uma versão rascunhada de algo que você já viu melhor por aí, apesar do enfoque novo.

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