Vou começar com uma analogia, se me permitem. Hoje em dia, o ritmo e consumo de coisas estão rápidas e frenéticas. Com o Tik Tok e plataformas similares, esse consumo está ainda mais dinâmico (e isso não é um elogio) e a demanda atende às exigências do mercado. A própria Netflix em algum momento disse que colocaria a opção de visualização acelerada por conta da rapidez em assistir tramas. Para os cinéfilos de plantão, um crime. Mas é a realidade.

Neste sentido, Michael Bay, o típico diretor do ame ou odeie, percebeu as exigências e entrou na dança. Em partes, pois “Ambulância – Um Dia de Crime”, sua nova aposta, fere o mandamento fundamental desses novos tempos: justamente a duração. São longos e desnecessários 136 minutos explosões, tiroteios e bombas. Mas, por qual motivo Bay conseguiu se aproximar desse novo mecanismo? A resposta está em básico + visual.

Sim, Bay aposta no básico de filme de ação e perseguição para atrair uma nova audiência e manter a fidelidade do público fiel do gênero. Todavia, a onipresença dos drones faz toda a diferença aqui. Em uma busca desenfreada para atrair pelo visual, os Drones ensandecidos trazem consigo esse frescor do novo que, verdade seja dita, de novo não tem nada. Mas agrada visualmente.

A TRAMA

Will (Yahya Abdul-Mateen II) é um ex-fuzileiro desesperado por uma cirurgia de emergência para a esposa (Moses Ingram) que, aos poucos, definha com um câncer. Seu irmão Danny (Jake Gyllenhaal) é um contraventor nato e o convence com poucas palavras a participar de um histórico roubo ao banco: 32 milhões de dólares em plena luz do dia.

Claro, o plano mirabolante dá muito errado e, com cenas de muita adrenalina, sequestram uma ambulância. Lá estão uma dedicada paramédica Cam (Eiza González) e o policial (Jackson White) atingido acidentalmente por Will.

Uma história como qualquer outra que já vimos por aí. Aliás, é um remake de um longa dinamarquês lançado em 2005. E o roteiro vai se esvaindo e se tornando vazio ao longo dos minutos. Não há uma ação concreta do roteiro.

TÍPICO MICHAEL BAY

Explica-se:

Não definem a doença da mulher, só se sabe que é um câncer; não entram no mérito do sistema de saúde falido e repressor norte-americano. Privatizado, são poucos os que têm uma chance de um atendimento eficaz e que o seguro cubra suas necessidades básicas e urgentes. O roteiro seria muito mais rico se apontasse para esta ferida e debatesse sobre essa questão.

Não existe aqui; Bay e cia, na ideia de representação colocou Keir O’Donnell como o chefão do FBI, um homem gay. Para isso, há uma cena em que está com seu marido em uma terapia de casal. A cena destoa completamente da proposta de “Ambulância” e chega a ser cômica e, mais uma vez, isso não é um elogio; e logicamente, a cota da bandidagem latina segue à risca. Até quando?

 “Ambulância” é um típico filme de Michael Bay: sem alma, profundidade e recheado de planos mirabolantes, aqui, muito bem orquestrados na montagem feita por três feras: Calvin Wimmer, Doug Brandt e Pietro Scalia. Sem eles e seus cortes e sequências, o filme seria um fracasso total. Se lançado nos cinemas em 3D em um tempo aparente distante da nossa “época normal”, não haveria dúvidas que arrastaria multidões.

Nem o próprio Gyllenhaal e Abdul se salvam. O primeiro acima do tom e longe de um desempenho elogiável. O segundo veste bem a carapuça do homem bem-intencionado que entrou de gaiato no navio mas sua honraria exacerbada chega a ser irritante.

No mais, é um filme visual. Uma adrenalina visual. Puro suco dos clássicos dos anos 90 e 2000. Sabe aqueles filmes que foram hits na Temperatura Máxima e Domingo Maior? Pois bem, “Ambulância” é um blockbuster nato!

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