Sophie Charlotte canta! Claro que ela não é nenhuma Gal Costa, mas quem é?

Aliás, esse é o grande trunfo de “Meu Nome é Gal”: o filme sabe que você sabe que Gal Costa é a maior cantora do país. Que Sophie Charlotte não seja particularmente parecida com Gal é uma vantagem: a atriz fica mais à vontade para encarnar a estrela de dentro pra fora, buscando inspiração no timbre de voz, na fala sossegada, enfim, no vento que sopra de Maria da Graça.

E por saber que nós sabemos do que o fuzuê todo se trata, “Meu Nome é Gal” se entrega, em um primeiro momento, a prazeres mais simples, como a recriação de uma época e atmosfera muito específicas. Nisso, faz um bom trabalho. Aliás, se Charlotte e a figura que encarna estão distantes fisicamente, o mesmo não se pode dizer do elenco escolhido para interpretar Bethânia, Gil, Caetano, Macalé, enfim, toda a patota. Chega a causar um estranhamento: são rostos tão parecidos com aqueles que já conhecemos e, ainda assim, não são exatamente eles. Sophie Charlotte sai em vantagem novamente.

EVITANDO CAMINHOS CONHECIDOS

Como o filme joga limpo com o espectador, o caso aqui não é de tornar misterioso este ou aquele drama da vida de Gal. Aliás, não se apela para a estrutura clássica das cinebiografias de ascensão e queda. Nada de período de fossa nas drogas ou outros arcos batidos (o desbunde está aqui, mas o desbunde é sempre feliz). Antes, “Meu Nome é Gal” se concentra em um período curto – mas crucial – da formação da estrela: de 1967, quando Gracinha chega no Rio ainda toda recatada e envergonhada, até 1971, quando incendeia a Cidade Maravilhosa com o espetáculo “Fa-Tal”.

Sim, já sabemos quais discos estão por vir, quando as músicas serão lançadas, quando irão baixar o AI-5. Inteligente, “Meu Nome é Gal” tira seu motor de outro questionamento: quando Gal irá conquistar sua autonomia. Autonomia em relação a mãe, a Caetano (comumente conhecido como um dos maiores chatonildos da história da música mundial), aos milicos da ditadura, ao medo, enfim.

Mas nada aqui é maniqueísta, tampouco os obstáculos que Gal precisa superar. As diretoras Dandara Ferreira e Lô Politi são mais inteligentes que isso e constroem um filme preciso, na medida. Claro, é o caso de pregar para os convertidos. Mas não é esse o prazer de toda cinebiografia? Em se tratando de biopics musicais, não consigo lembrar de outra tão bonita na memória recente como “Meu Nome é Gal”.