Diretamente do frio canadense nos chega o protagonista de coming of age mais autocentrado desde Max Fischer, de “Três é Demais”. As comparações com o segunda longa-metragem de Wes Anderson não param por aí: Lawrence, o adolescente que protagoniza este “I Like Movies”, também irá se apaixonar por uma mulher mais velha.

Aqui, no entanto, não se trata da professora, mas da gerente da locadora onde trabalha, Alana – o que, é claro, traz à mente “Licorice Pizza”, de Paul Thomas Anderson. Todas essas comparações podem fazer “I Like Movies” soar derivativo, mas isso está longe da verdade. O longa tem um gostinho todo seu, cortesia tanto da banalidade intoxicante da vida em uma vizinhança de classe média em Ontario, na virada do milênio, como do narcisismo sem limites de Lawrence.

Aliás, aposto que as comparações deixariam esse precoce cinéfilo extremamente satisfeito. Numa cena que deve ressoar com todos que, como possível resultado de uma atrofia social, se interessaram por cinema ainda jovens – ou seja, qualquer cinéfilo -, Lawrence assiste num multiplex local a “Embriagado de Amor” com seu melhor amigo, Matt. “Não é como um típico filme de Adam Sandler”, ele adverte, antes de prosseguir com uma explicação de tudo que torna o longa de PTA especial – o que não deixa de ser uma tentativa de afirmar sua superioridade intelectual ante o amigo.

Que esse pentelho não seja insuportável se deve em boa parte à performance de Isaiah Lehtinen. Em um mundo justo, ele se tornaria um astro depois desse papel; o ator nos entrega uma performance engraçada, corajosa e tocante. Romina D’Ugo como Alana é outra revelação, num papel que poderia muito bem descambar para a adulta cool e acessível que só existe para servir de musa ao protagonista.

Não é o caso: Alana é neurótica, desajeitada, às vezes engraçada e às vezes simplesmente alguém que precisa fazer um bom trabalho para ter o que comer. Esse tableaux de personagens complicados e desajeitadamente humanos é cortesia da diretora Chandler Levack, aqui em seu longa de estreia. O que significa que acompanhar os próximos passos da cineasta se torna um dever de cinéfilos e cinéfilas, especialmente os pubescentes.