Um casal que vive no meio do nada coloca seu amor à prova da maneira mais brutal neste horror psicológico britânico. Apesar de suas deficiências narrativas, “Rose: A Love Story” – que teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Londres deste ano – é um longa-metragem de estreia que mostra o potencial da diretora Jennifer Sheridan e seu ar claustrofóbico o torna perfeito para sessões noturnas em casa.

A personagem-título (Sophie Rundle, da série “Peaky Blinders“) é uma aspirante a escritora que vive em uma cabana remota (é claro) em uma floresta nevada. Junto com seu marido Sam (Matt Stokoe, do seriado “Bodyguard”), que caça sua comida e garante seu bem-estar, eles vivem uma vida aparentemente idílica longe da multidão das cidades.

No entanto, Rose está enfrentando uma doença estranha que a faz nunca sair de casa, Sam tem o hábito de trancá-la quando se ausenta e sanguessugas muitas vezes parecem estar no cardápio da casa. É evidente que há algo podre no reino destes dois – e quando o casal tem que dar as boas-vindas a uma hóspede indesejada em uma noite fatídica, todas as tensões vêm à tona.

O roteiro, escrito por Stokoe, habilmente se concentra na natureza quase parasitária do ajudante. Por um lado, Rose é uma pessoa doente que se vê impotente para deter o senso de dever que seu parceiro tem em relação a sua vida, que vem acompanhada de uma cobrança emocional. Ela sente que sua condição é um fardo e parece admitir que sua mera aceitação desse arranjo doméstico é uma ação perversa. Por outro lado, Sam é um marido cuja preocupação dominante vem de um lugar de amor, mas que acaba mostrando seu lado monstruoso. Lentamente, a culpa e o remorso se instalam, trazendo instabilidade a uma situação já delicada.

ESCURIDÃO COMPARTILHADA

Com tanto para explorar, é lamentável que a história recorra a manobras previsíveis, com o espectador atento capaz de vê-las a um quilômetro de distância. Uma vez estabelecidos, nenhum dos protagonistas parece se desenvolver muito narrativamente, o que torna seu diálogo seja um tanto monótono. Isso também também faz com que a ação – da qual não há muita – se arraste, principalmente no meio do filme.

Os cineastas se saem muito melhor quando usam sua localização para criar tensão. O sentimento de que algo em todo o cenário está profundamente errado imbue uma sensação sinistra de pavor às cenas, brilhantemente capturada pela diretora de fotografia Martyna Knitter. Suas tomadas dentro da casa trancada se aproveitam ao máximo da incerteza sobre se o perigo real está dentro ou fora dela.

Certamente teria sido fácil contar essa história através das estruturas do terror clássico, mas esse claramente não é o filme que Sheridan se propôs a fazer. Em vez disso, “Rose: A Love Story” se apresenta como a história de um amor condenado, cheia de ansiedade, que mostra como duas pessoas podem ser unidas pela escuridão que compartilham. 

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