Caio Pimenta analisa as corridas rumo ao Oscar 2024 de Melhor Roteiro Adaptado e Original.

ROTEIRO ORIGINAL – CORRENDO POR FORA

Em Roteiro Original, a turma correndo por fora inicia com a Disney em dose dupla. 

“Elementos” foi o flop que se tornou sucesso ao desempenhar bem nas bilheterias à medida em que as semanas foram passando. A simpática e simbólica história de amor entre dois seres tão distintos pode até ter sua beleza, mas, dificilmente irá assim tão longe aqui. Já “Wish” reúne parte do time de “Frozen” em uma história de uma heroína ao lado de um bode entrando no reino dos desejos. A superprodução prevista para estrear no fim do ano precisa de um milagre para ter uma mísera chance, o que parece não ser o caso. Vale lembrar que a última indicação da Disney/Pixar na categoria foi com “Divertidamente”.

Também correndo por fora aparece “Jogo Justo”. O suspense recém-lançado na Netflix dirigido e roteirizado pela Chloe Domont sobre o um casal que trabalha junto e mantém segredo sobre o relacionamento deles até a promoção da garota transformar tudo.

Apesar dos elogios vindos desde o lançamento em Sundance, não vejo a produção com força suficiente para ser uma surpresa na categoria – até mesmo pelas outras possibilidades do streaming aqui. 

“Dream Scenario” traz um dos pontos de partida mais interessantes lançados em 2023: um homem se torna conhecido após aparecer no sonho de todas as pessoas do planeta. O roteiro do norueguês Kristoffer Borgli chega com a grife da A24 e o reconhecimento pela originalidade do argumento, mas, corre ainda por fora até pela concorrência interna no próprio estúdio com “Vidas Passadas” devendo concentrar as atenções dos executivos. 

ROTEIRO ORIGINAL –  CHANCES GRANDES DE INDICAÇÃO

Das cinco vagas da categoria, vejo duas delas bem abertas para uma briga franca entre os próximos sete filmes. 

Três vezes nomeado na categoria, o Wes Anderson tenta retornar com “Asteroid City”. O jogo metalinguístico, a capacidade de criar um texto jogando com literatura, teatro e o próprio cinema, fora a gama de personagens cativantes e diálogos cortantes tornam este um dos melhores trabalhos do roteirista. Chega com potencial de ser a surpresa bem-vinda da lista semelhante a “Moonrise Kingdom” em 2013. 

O Samy Burch pode ter o trabalho de estreia nos cinemas já indicado. “Segredos de um Escândalo” aborda o mundo do cinema ao mostrar a relação de uma atriz se preparando para fazer um filme com o casal tema da produção. Se a produção parece apagada neste momento da temporada, a esperança reside em como a Academia historicamente adora produções que falam sobre o cinema e o impacto dele, positivo ou negativo, nas pessoas. 

Air – A História por Trás do Logo também a marca estreia do Alex Convery como roteirista. Mesmo não sendo brilhante, o trabalho dele se mostra eficiente para conseguir trazer uma série de personagens, cada um com seu momento para brilhar, e ainda evita – não que totalmente – ser uma propaganda da marca de tênis. Só de estar cotado já é uma vitória. 

A Emerald Fennell ganhou Roteiro Original em 2021 com Bela Vingança. Desta vez, ela tenta novamente a sorte com “Saltburn”. Após uma passagem tímida em Telluride, a sátira sobre ricaços recebeu melhor recepção em Londres – ainda que não tão entusiasmada assim. Pela falta de chances em Direção, creio que a Fennell e a Amazon Studios vão jogar todas as fichas aqui para a produção não sair no zero. 

“Rustin” reúne o Dustin Lance Black, ganhador do Oscar por “Milk”, com o Julian Breece, da excelente minissérie “Olhos que Condenam”. A produção da Netflix pode se apoiar no fato de que dramas históricos estão conseguindo nomeações para Roteiro Original nos últimos anos como aconteceu, por exemplo, com “Os Sete de Chicago” e “Belfast”, porém, ainda o vejo distante nesta corrida. 

“Anatomia de uma Queda” busca repetir o feito recente de “A Pior Pessoa do Mundo”, “Roma” e “A Separação” vindo de um outro idioma que não seja o inglês na categoria. A dobradinha entre a Justine Triet e o Arthur Harari poderia cair no suspense e drama de tribunal de todo santo dia, entretanto, joga na ambiguidade para se tornar um dos melhores filmes do ano e ainda dando um papel histórico para Sandra Huller. Está muito perto da indicação. 

E “Barbie”, senhoras e senhores? A Warner colocou o filme na disputa dos originais em meio a muitas reclamações de que deveria ir para adaptado, visto que a boneca possui inúmeras animações ao longo dos anos e é uma propriedade intelectual gerada há décadas. Evidente que este dilema pode custar caro pela divisão de votos que deve causar. 

A estratégia da Warner, entretanto, tem lógica visto que a indicação em original é para lá de viável, enquanto a concorrência entre os adaptados está pesadíssima. A favor de “Barbie” está o prestigiado casal Greta Gerwig e o Noah Baumbach, o qual, juntos, somam quatro nomeações nas categorias de roteiro. A inteligência também de satirizar o universo masculino e a idealização de mulheres perfeitas casa muito com temas em voga nos dias atuais, fora o risco de trazer isso em uma produção tão aguardada e repleta de expectativas. Se for indicado, tem chances de vitória. 

ROTEIRO ORIGINAL – FAVORITOS

Vamos, finalmente, aos favoritos tanto para indicações como para vitória. O primeiro deles é um candidato natural ao prêmio. 

“Maestro” carrega a força do tradicionalismo das cinebiografias tão queridas das temporadas de premiações. Aqui, porém, o Bradley Cooper parte de um olhar próprio e não da adaptação de um livro do gênero como costuma ocorrer. Isso dá prestígio ao longa na categoria, porém, a overdose possível do astro no Oscar – ele ainda pode aparecer indicado a Filme, Direção e Ator – joga contra as chances de levar o prêmio. 

Por outro lado, “Vidas Passadas” e “The Holdovers” fazem o sentido oposto de “Maestro” e podem justamente encontrar o reconhecimento que merecem aqui. 

A Celine Song traz um dos trabalhos mais elogiados do ano, um romance maduro e conectado aos desajustes atuais com muita melancolia. “Vidas Passadas” pode repetir o feito de produções como “Bela Vingança”, “Corra” e “Ela”, filmes queridos pelo público e crítica, que se sagraram vencedores justamente em roteiro original. 

Já o Alexander Payne é um xodó entre os roteiristas: venceu duas vezes entre os adaptados – “Sideways” e “Os Descendentes” -, perdendo apenas em uma única oportunidade na primeira nomeação com “Eleição”. Agora, ele tenta estender o feito entre os originais com “The Holdovers”. Este histórico aliado aos elogios da crítica internacional em relação ao filme até agora o coloca sim como favorito à estatueta. 

SE AS INDICAÇÕES FOSSEM OS HOJE, OS FINALISTAS SERIAM…

  • “The Holdovers” 
  • “Vidas Passadas” 
  • “Maestro” 
  • “Barbie” 
  • “Anatomy of a Fall” 

A surpresa deve ficar com “Air” ou “Asteroid City”. 

ROTEIRO ADAPTADO – CORRENDO POR FORA

Hora de falar da corrida de Melhor Roteiro Adaptado, categoria em que os indicados parecem bem definidos. Logo, o pelotão de quem corre por fora está lotado. 

A turma é eclética e reúne desde “The Killer”, do David Fincher, “Ferrari”, do Michael Mann, “Priscilla”, da Sofia Coppola, passando por “Dumb Money”, do Craig Gillespie, “Next Goal Wins”, do Taika Waititi e “Hit Man”, do Richard Linklater” até chegar nos improváveis “Are You There God? It´s me Margaret” e “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”. 

ROTEIRO ADAPTADO – chances grandes de indicação

Caso um dos cinco favoritos às indicações vacilem e fiquem quatro produções estão de olho para esta vaga. 

“Origem”, talvez, traga o roteiro mais difícil de ser desenvolvido na temporada, afinal, o material de origem não é um romance. O elogiado best-seller ganhador do Pulitzer “Casta: as origens de nosso mal-estar”, na verdade, é um ensaio da escritora Isabel Wilkerson sobre as raízes históricas e as consequências profundas do sistema hierárquico que sustenta o racismo nos EUA. Ava DuVernay transpor isso para tela é um desafio com grandes chances de ser reconhecido pelos seus pares. 

Caso consiga, a Ava DuVernay se junta a um seleto grupo de mulheres negras indicadas na categoria: ela estará ao lado da Suzanne de Passe, de “O Ocaso de uma Estrela”, e da Dee Rees, por “Mudbound”. 

O Marcus Gardley chega para o Oscar 2024 com o desafio de levar novamente “A Cor Púrpura” à categoria de adaptados. Aqui, a missão dele é ainda mais complexa do que longa do Steven Spielberg, pois, precisa pensar em toda a estrutura narrativa dentro de um musical. O histórico do gênero em roteiro adaptado, porém, não ajuda muito: o último nomeado foi “Chicago”. 

“The Boy and The Heron” é a oportunidade de ouro da Academia reconhecer o Hayao Miyazaki para além de Melhor Animação. O filme é uma adaptação do livro de Genzaburo Yoshino, de 1937. E a categoria prestigiou produções mais fora do tradicional na última temporada como “Top Gun: Maverick” e “Nada de Novo no Front”. 

Adaptação do romance escrito por Taichi Yamada, de 1987, “All of Us Strangers” é aquele candidato surpresa com potencial de tirar um dos favoritos. Dependendo de como chegar na reta final com o carinho do público e crítica pode ficar com uma das vagas. 

ROTEIRO ORIGINAL – FAVORITOS

Chegou o momento dos favoritos: nenhuma das categorias do Oscar 2024 trazem candidatos tão consolidados como roteiro adaptado. Até porque os cinco filmes são os mais fortes da atual temporada e a vitória deve ter reflexos fundamentais para Melhor Direção e Filme. 

Afinal, a Academia terá um embate peso-pesado pelo prêmio, afinal, o trio postulante ao prêmio máximo do Oscar – “Oppenheimer”, “Pobres Criaturas” e “Assassinos da Lua das Flores” – estarão acompanhados da turma que vem logo atrás na corrida, no caso, “The Zone of Interest” e “American Fiction”. 

E ter toda esta turma junta pode trazer possibilidades diversas na premiação. 

Se o Christopher Nolan chegar com favoritismo esperado para Direção, não duvido nada a Academia querer prestigiar o Martin Scorsese na categoria. Seria até uma oportunidade rara de premiá-lo aqui visto que ele nem sempre assina o roteiro de suas obras. Isso para não falar da complexidade em adaptar “Assassinos da Lua das Flores”, um livro que aborda a criação do FBI e o avanço de fortes grupos econômicos sobre os povos originários do país. 

Agora, se o cenário se inverter com o Scorsese forte para ganhar filme e direção, o Nolan poderia encontrar aqui o prêmio de consolação tal qual já ocorreu com o Spike Lee em 2019 por “Infiltrado na Klan”. E não seria nenhum sacrifício, afinal, a complexidade de trazer uma história polêmica sobre o criador da bomba atômica em três momentos da vida dele e um roteiro repleto de diálogos cai bem para o gosto da Academia. 

No meio do tiroteio entre o Scorsese e o Nolan, quem pode ser dar bem é o Tony McNamara de “Pobres Criaturas”. A reimaginação de Frankenstein com forte teor feminista preservando a estranheza do Yorgos Lanthimos deve agradar muitas alas da Academia. E fortaleceria o projeto da Searchlight Pictures rumo a Melhor Filme. 

Porém, se os votantes sentirem que “Assassinos da Lua das Flores”, “Pobres Criaturas” e “Oppenheimer” já estarão suficientemente abastecidos de estatuetas técnicas e ainda ficarem com Filme e Direção, eles podem optar por outras possibilidades.  

Desta forma, a chance cresce para o Jonathan Glazer, de “The Zone of Interest”, e o Cord Jefferson, por “American Fiction”. Roteiro Adaptado está cheio de casos de grandes filmes premiados sem maiores chances nas categorias máximas, incluindo aqui atuações principais: são os exemplos de “Entre Mulheres”, “Me Chame pelo Seu Nome”, “A Grande Aposta” e “A Rede Social”. 

SE AS INDICAÇÕES FOSSEM OS HOJE, OS FINALISTAS SERIAM…

  • “Oppenheimer” 
  • “Assassinos da Lua das Flores” 
  • “Pobres Criaturas” 
  • “American Fiction” 
  • “The Zone of Interest” 

A possibilidade de surpresa ficaria nas mãos de “Origem”.