Nyad”, o filme, é a história de uma façanha, ou melhor, de várias tentativas que constituíram um grande feito. Uma obra baseada na história real da nadadora Diana Nyad que, em 2010, aos 60 anos de idade, começou a se preparar para a maior realização da carreira: cruzar a nado os 160 quilômetros entre Cuba e a Flórida. Trinta anos antes, Diana tentou realizar essa façanha, sem sucesso, e, desde então, nenhum ser humano conseguiu. Contando com a ajuda da eterna melhor amiga e treinadora Bonnie, e de mais alguns colaboradores, ela foi em busca de realizar o impossível.

Essa história é trazida à tela nesta produção da Netflix dirigida pelo casal de cineastas e documentaristas Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, os mesmos responsáveis pelo ótimo documentário vencedor do Oscar Free Solo (2018). Como filme, Nyad e seus realizadores não escapam da cartilha tradicional da história inspiracional e do filme de esporte. Mas o longa tem suas qualidades que fazem dele uma experiência honesta e envolvente.

DUPLA PRECIOSA

No filme, Diana e Bonnie são interpretadas, respectivamente, por Annette Bening e Jodie Foster, e como é prazeroso vê-las juntas em um filme. Bening se despe de vaidades no papel, não usa maquiagem e se entrega com ferocidade ao retrato de alguém que, obviamente, é bastante narcisista – em mais de uma cena, Diana conta a interlocutores sobre a história do seu sobrenome, que remete às ninfas da mitologia grega e coisa e tal.

Mas é Foster quem se sai com a melhor atuação do filme, e a personagem mais interessante. A figura de apoio, o desempenho coadjuvante, muitas vezes é difícil de se conduzir, mas aqui a personagem no roteiro e o desempenho de Foster são precisos, trazendo um calor que, às vezes, falta à protagonista, e também uma visão mais pragmática dela e da situação em que se mete. É uma atuação totalmente natural, simples e inteligente, de uma atriz 100% confiante no que precisa fazer dentro do projeto. Ela, de fato, rouba “Nyad”. Porém, quem também faz o mesmo em algumas cenas é o inglês Rhys Ifans, no papel do capitão do barco que vai acompanhar a façanha de Diana.

HISTÓRIA ENVOLVENTE

Fora o elenco, os diretores estreantes em ficção fazem um bom trabalho na condução da história. Fieis aos seus backgrounds de documentaristas, os cineastas inserem imagens de arquivo e reportagens da época para contextualizar o espectador – no início isso funciona bem, e podemos até ver a verdadeira Diana Nyad falando por si mesma, mas é verdade que algumas dessas intrusões mais à frente na trama acabam parecendo desnecessárias.

Mesmo assim, merece destaque o bom trabalho de montagem do veterano Christopher Tellefsen, que faz “Nyad” fluir e o mantém ágil, mesmo com os cineastas tendo que lidar com uma história que envolve uma boa dose de repetição. Porque o filme toma a decisão criativa de mostrar as tentativas frustradas da nadadora de executar a travessia. Mas graças à montagem criativa e sempre fluida, com direito até à inclusão de uns “sonhos” da protagonista, o longa nunca chega a ficar aborrecido. Aliás, pelo contrário, Nyad é bem envolvente: a trama engata e não larga o espectador até o final.

NADAR SEM PROTEÇÃO

Todos esses elementos – os atores, a montagem, as belíssimas imagens do oceano e da natureza – estão a serviço de uma história que tem como objetivo primordial a inspiração. Mais de uma vez, Diana Nyad fala sobre as pessoas não desistindo dos seus sonhos, não importa a idade – isso não deixa de ser uma forma de martelar na cabeça do público a mensagem do filme, claro. Por isso, é uma pena que o longa não ouse mais, não faça um esforço um pouco maior para examinar sua protagonista, ainda mais quando uma rápida busca na internet aponta alguns questionamentos sobre Nyad e sua aventura – leia aqui.

O fato é que, como obra cinematográfica, Nyad funciona: entretém e inspira, como seus realizadores planejaram, e é muito bem conduzido especialmente pelas suas duas atrizes principais. Só elas já valem a assistida. Mesmo assim, fica a sensação de que é um filme que poderia pegar mais emprestado da sua protagonista, sair da zona de conforto que já vimos em tantos outros filmes, e nadar sem gaiola de proteção.