A pressa é inimiga da conexão. Permitam-me refazer um ditado popular para resumir a animação “Robot Dreams”, do diretor espanhol Pablo Berger. Nesta história do cachorro solitário que tem um robô como melhor amigo, o tempo é cruel em um mundo rápido e cheio de distrações. 

A amizade entre eles é adorável, com direito a performance musical de “September”, do Earth, Wind & Fire (boa sorte se quiser tirar o refrão da cabeça depois de assistir ao filme). O problema é que a vida está logo ali na esquina, em robôs semelhantes ao nosso co-protagonista, mas que obedecem à lógica do capitalismo e foram adquiridos com o intuito de servir. 

E, quando o robô fica preso e enferrujado em uma praia, sem poder sair do lugar, seu melhor amigo volta a ser seu dono e a Manhattan não parece mais tão colorida como era na tarde em que dançaram a canção sobre a noite de 21 de setembro. O robô fica ali, esquecido, e logo seu lugar de amigo-token é tomado no sonho e na vida real. 

A vida segue, mudam as estações e o robô continua ali, esperando pelo cachorro. “Robot Dreams”, porém, não deixa essa ausência ser um degrau para um final feliz ou minimamente satisfatório. Cada nova aventura, cada novo momento que promete o reencontro é construído com a antecipação do mais angustiante dos romances.  

A tecnologia como token para a solidão não é exatamente um conceito novo no cinema. Uma comparação óbvia com este filme talvez seja “Ela”, de Spike Jonze. No entanto, Berger brinca mesmo é com referências bem frontais a “O Mágico de Oz”, e aí é uma ironia que, em um mundo de animais, justamente quem mais sinta as coisas seja robô – o “sem coração” Homem de Lata da vez.