É uma carreira muito da estranha, se você parar pra pensar, essa de Todd Haynes. Sua obra abrange desde a experimentação idiossincrática (“Superstar”, “Não Estou Lá”) ao melodrama sirkiano (“Longe do Paraíso”, mais explicitamente, e “Carol”, em alguma medida), passando pelo arthouse existencial (“À Salvo”). 

De alguma forma, ele combinou um pouquinho de tudo isso neste “Segredos de Um Escândalo”, ao lado de sua velha parceira de crime, Julianne Moore. O resultado está em algum ponto do espectro que liga “Persona“, de Ingmar Bergman a “Um Corpo que Cai“, de Alfred Hitchcock e ao Teste de Fidelidade do João Kléber. 

Este geralmente seria o ponto em que eu faria uma breve recapitulação da sinopse, para os que se interessam por esse tipo de coisa. No entanto, tenho a impressão de que quanto menos se souber sobre “Segredos de Um Escândalo” antes de assisti-lo, melhor. Assim, direi apenas que, do ponto de vista técnico, Haynes se utiliza de uma trilha sonora que parece ter saído diretamente de “A Usurpadora”. Sem falar nos zoons bombásticos em direção aos personagens que dão uma cara de SBT à empreitada (é um elogio). 

Direi também que Natalie Portman interpreta o tipo de estrela gélida e ambiciosa que parece estar sempre flertando com o interlocutor. E, ainda, que a personagem, Elizabeth, está se preparando para interpretar Gracie (Moore) nos cinemas, em uma nova adaptação de um escândalo que envolveu a mulher 20 anos atrás. E que Charles Melton como Joe, o marido de Gracie perpetuamente congelado em uma infância abreviada, interpreta o personagem mais devastadoramente trágico desse triângulo. 

É um filme extremamente engraçado em sua superfície de pastiche de novela mexicana e profundamente triste quanto mais perto chegamos. A imagem das lagartas das quais Joe cuida até que possam deixar seus casulos serve como lembrete de uma infância precocemente interrompida, uma dor que ele sequer parece capaz de articular. Não deixa de ser estranho, então, que o filme nunca chegue a uma conclusão de verdade. A impressão que dá é que Haynes acabou tirando o corpo na hora H por algum motivo. 

Ainda assim, enquanto exploração das máquinas de abuso e cinismo que regem o mundo, “Segredos de Um Escândalo” se revela como a obra de um satirista afiado.