Eis que chega às telonas “Trem-Bala”, mais uma obra que segue o filão do cinema de ação espertinho à la Deadpool. Ou seja: temos aqui uma maçaroca de referências pop e piadas adolescentes que, se por um lado, não radicaliza nada, por outro não consegue bancar o peso necessário para os momentos de seriedade.

Não é coincidência, portanto, que o mais novo veículo de Brad Pitt seja dirigido por David Leitch, um dos nomes por trás do primeiro “John Wick” – e que, desde então, vem se dedicando a filmes cada vez mais decepcionantes, incluindo “Deadpool 2”.

Leitch, por sinal, tem geralmente uma boa mão para encenar combates corpo-a-corpo, fruto de anos labutando como dublê. Aqui, ele até encontra pretextos interessantes para violência: uma maleta usada como escudo, uma luta brutal entre dois personagens que precisam ficar em silêncio etc. O problema é que as suas piores tendências juvenis tomam conta da empreitada.

Missão sobre trilhos

Em missão a bordo do trem-bala do título, o resignado assassino de aluguel Ladybug (Pitt) se vê em meio a uma complexa teia de interesses ao descobrir que seu alvo, uma maleta cheia de grana, é disputada por inúmeros outros super assassinos.

“Trem-Bala” já ameaça levar o espectador à exaustão nos primeiros 30 minutos, quando Leitch pena para apresentar meia dúzia de personagens centrais e ainda manter algum ritmo. Ele falha, naturalmente, e acaba tomando uma decisão desastrosa: sempre que expõe algum plot point novo, ele apela para uma pequena montagem ao som de alguma música pop.

Depois da quinta ou sexta montagem, chega a ser inevitável uma irritação geral. Pior: como precisa dar conta da trama rocambolesca, “Trem-Bala” dedica longas passagens a personagens absolutamente desinteressantes, tentando espremer algum humor da forma que pode.

Exemplo maior talvez sejam os irmãos Limão e Tangerina, interpretados por Brian Tyree Henry e Aaron Taylor-Johnson, respectivamente. Os arroubos de violência que os dois propiciam, suas tiradas verbais e as referências a “Thomas e Seus Amigos” (é, pois é…) deveriam ter o ar de diversão “subversiva” (isto é, se você tiver 13 anos). Mas o roteiro deixa transparecer todo o esforço da empreitada, e o que temos diante de nós é um filme cansado, sem ritmo, que tenta disfarçar os pontos fracos com piadas e sanguinolência.

Para piorar, “Trem-Bala” ainda tenta introduzir uma suposta pretensão temática sobre a natureza do destino, da sorte, do azar, etc etc etc. Na prática, soa mais como uma desculpa safada para amarrar as pontas soltas da trama de forma conveniente sempre que necessário. Como Leitch e companhia não têm realmente nada a dizer sobre nenhum desses temas, não temos por que nos importar. Resta o cansaço.

Carisma de milhões

São limitações que, na mão de um cineasta com algum controle dramático, poderiam ser suprimidas. Não é o caso de Leitch, que, no entanto, ainda conta com um aliado: Brad Pitt como o assassino paz e amor, que faz terapia e busca uma visão positiva da vida.

Por ser um herói relutante, ele segue a contrapelo no meio de todo o caos pueril que Leitch instaura ao seu redor, dando alguma fundação para um filme que ameaça se desintegrar a todo instante. O revés disso tudo é que, sempre que Pitt sai de cena, o espectador sente o peso do tempo passando.

Cheio de referências ao mundo asiático (do cinema de ação de Hong Kong ao longa sul-coreano “Expresso do Amanhã”, passando pelos obrigatórios samurais japoneses), “Trem-Bala” ao menos serve de desculpa para assistirmos Brad Pitt em papel central mais uma vez.

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