Em tempos de pandemia de Covid-19 e isolamento social, é curioso assistirmos filmes que nos entretém explorando outros tipos de paranoia e ansiedade que costumavam ser mais fortes. Como 7500, suspense da Amazon Prime Video sobre o medo do terrorismo aéreo. Passados quase 20 anos dos atentados de 11 de Setembro, essa sensação já diminuiu, foi substituída recentemente no imaginário popular por vírus e doenças. Mas ela ainda provoca insegurança em passageiros do mundo todo.
7500, do diretor alemão Patrick Vollrath, se alimenta dessa sensação de forma engenhosa… ao menos pela sua primeira metade. No filme, Joseph Gordon-Levitt vive o piloto norte-americano Tobias, que está conduzindo um voo partindo de Berlim, onde mora com a esposa, junto com o comandante Michael (Carlo Kitzlinger). De repente, após a decolagem, sujeitos armados com cacos de vidro tentam arrombar a porta e entrar na cabine. Logo Tobias descobre que são terroristas… e é isso. Por 90 minutos, acompanhamos os esforços do protagonista para impedir que os terroristas assumam o comando do avião. E exceto por alguns poucos planos durante os créditos de abertura, nos quais vemos os sujeitos com pinta de muçulmanos andando pelo aeroporto, e o plano final do filme, todo o resto da experiência que o espectador presencia se passa dentro da cabine, em tempo real.
Estamos juntos com Tobias o tempo todo, e ele dispõe apenas de um monitorzinho em preto-e-branco para acompanhar o que está acontecendo no avião. É quando 7500 se configura como um efetivo exercício de suspense, e bem claustrofóbico, claro. A direção de Vollrath é bem competente do ponto de vista visual, pois o diretor consegue explorar o cenário da cabine em vários ângulos sem tornar a experiência enfadonha. Toda a ação dentro da cabine é exemplarmente encenada.
O som também é uma ferramenta poderosa no filme: as batidas constantes na porta geram angústia no espectador, assim como os gritos e barulhos ouvidos pelo fone do protagonista. O som também é usado para gerar suspense, com os alarmes e ruídos do avião, durante uma cena tensa e crucial lá pela metade do longa. E, a propósito, o filme não tem trilha sonora instrumental.
Mas o grande atrativo do filme é a atuação de Gordon-Levitt. De novo, o ator oferece um ótimo trabalho, transmitindo o profissionalismo do seu personagem no início e todos os estados de tensão no decorrer da história. Seu desempenho está sempre na medida, sempre imerso na situação. Mais do que a direção, até, é Gordon-Levitt quem conduz o espectador até o final de 7500.
FRAGILIDADES DA METADE FINAL
Tudo vai bem até a metade do filme… Mas aí problemas de caracterização do roteiro e algumas conveniências começam a esvaziar a tensão inicial. A caracterização dos terroristas é problemática: são malvadões unidimensionais que querem destruir o Ocidente por causa do clichê religioso. Não há nuance entre eles, e quando o roteiro – de autoria de Vollrath e Senad Halilbasic – tenta introduzir alguma, acaba metendo os pés pelas mãos e indo para o outro extremo, na forma de um questionável terrorista “arrependido”, Vedat, vivido pelo jovem ator Omid Memar, uma figura extremamente inverossímil numa situação como esta. As interações entre Tobias e Vedat não vão além do óbvio – nem o fato do protagonista ser americano é explorado para criar tensão nessa altura do filme, aliás.
Essas opções narrativas tiram o espectador do filme e o resultado final acaba sendo um experimento narrativo, mais do que uma história realmente capaz de engajar. 7500 é um entretenimento razoável, mas é uma pena que a boa condução da primeira metade não se sustente até o fim. O que poderia ser um filme poderoso sobre um real medo da sociedade moderna acaba se configurando apenas num mero exercício. Bem realizado e que até consegue entreter quem busca uma opção para um sábado à noite no Prime Video… Mas que não consegue deixar o espectador realmente paranoico. Bem, dadas as circunstâncias atuais, isso não pode ser considerado tão ruim…