O plano-sequência do parto de 24 minutos e a atuação de Vanessa Kirby. Não há como fugir destes dois destaques ao falar de “Pieces of a Woman”. Disponível na Netflix, o primeiro longa do diretor húngaro Kornél Mundruczó (“Deus Branco”) até consegue ser um bom drama sobre o processo de luto, mas, não chega a alcançar o patamar de suas maiores qualidades.
“Pieces of a Woman” acompanha a trajetória de um casal (Kirby e Shia Labeouf) prestes a ter o primeiro filho. Como desejo da mãe, o parto será natural na casa onde vivem. Porém, a situação se complica e, mesmo com o apoio de uma parteira, a criança acaba morrendo poucos instantes após nascer. Dali em diante, os dois lidam com o trauma à medida que vão se distanciando.
A intensidade repleta de angústia do plano-sequência não apenas mergulha o espectador em “Pieces of a Woman” como dimensiona o tamanho do trauma do casal. Mundruczó conduz o momento com sobriedade ao permitir uma mise-en-scène fluída de 360 graus do cenário contribuindo para uma movimentação natural dos atores em cena e uma câmera sempre estável dando a exata noção do desespero do momento. O filme ainda descontrói o próprio momento do nascimento como algo lúdico e maravilhoso, tão comum no cinema e novelas, criando um processo doloroso e sofrido, ecoando produções recentes que ressignificam a maternidade como “Tully” e “Precisamos Falar Sobre Kevin”.
Diante disso, Vanessa Kirby apresenta um desempenho arrasador. A ganhadora do prêmio de Melhor Atriz do Festival de Veneza 2020 personifica toda a angústia do drama vivido pela protagonista durante o parto. Ela urra, se contorce, grita, se desespera em um pesadelo que parece não ter fim. Já na fase do luto, a eterna Princesa Margaret de “The Crown” segue uma trajetória errante de olhar perdido, sem foco, tentando entender tudo o que aconteceu tanto com o bebê como em relação ao próprio corpo, simbolizado pelo belo momento das plantas murchas penduradas em casa.
SOBRAS DESNECESSÁRIAS
Esta excelência, entretanto, não encontra ressonância no restante do filme. Por mais que esteja bem, Shia Labeouf fica aquém do desempenho de Kirby com o próprio personagem passando por caminhos mais óbvios. A situação relacionada ao consumo de álcool e drogas não chega a ser tão bem desenvolvida assim como o relacionamento extraconjugal soa desnecessário.
Já Ellen Burstyn surge mal aproveitada durante quase toda projeção, mas, ganha seu momento ao implorar uma reação à filha em um ato desesperado. A cereja do bolo fica para a deslocada tentativa de “Pieces of a Woman” virar um o drama de tribunal na reta final.
As alegorias criadas pelo roteiro de Kata Wéber tanto da ponte como ligação de um encontro consigo própria em busca da paz interior para seguir adiante e das estações do ano como símbolo daquele universo funcionam dentro da dinâmica da obra ainda que não soem tão profundas como se pretendem. Essa contradição acaba sintetizando bem “Pieces of a Woman”: uma obra com pontos fora da curva brilhantes, mas, que nunca chega a deslanchar como promete fazer.
Oi Caio!
Durante a primeira hora do filme fiquei completamente maravilhada, mas depois o filme se perdeu. A cena de tentativa de sexo entre o casal, e o caso extraconjugal foi extremamente desnecessário. Poderiam substituir essas cenas por maior destaque e profundidade para a personagem da Ellen Burstyn (que simplemente arrasa em seu monologo – Laura Dern venceu o Oscar por muito menos).
Acredito que será indicado apenas nas categorias de atuação e ainda sem chances de vencer (o prêmio deve ficar com a Frances ou Carey).