Caio Pimenta analisa os melhores e piores indicados a Melhor Filme do Oscar 2023, comparando-a com lista de anos anteriores.
A BOA SAFRA DE 2023
Para começar, é preciso analisar a safra deste ano. Temos 10 indicados novamente e, de todos eles, só ainda não vi “Entre Mulheres”, o qual, diga-se, nem previsão de estreia no Brasil tem. Ainda assim, dá para ter uma boa noção deste Oscar 2023.
Para mim, a seleção deste ano tem três finalistas excelentes.
“Avatar: O Caminho da Água” e “Top Gun: Maverick” são deslumbrantes. O James Cameron proporciona uma viagem ao melhor que o espetáculo dos efeitos visuais pode oferecer quando bem-utilizados, fazendo valer a pena até mesmo o cansado 3D. Fora que o diretor prova ser o único capaz de segurar um clímax em Hollywood por 1h30.
Já “Top Gun” é aquela aventura que consegue algo raro: rende reverência ao original, mas, sem se agarrar no saudosismo ao propor novos caminhos para a história e seus personagens. É cinemão de ação em estado puro e com Tom Cruise perfeito na persona que criou para si.
Indo na contramão dos dois, “TÁR” não apresenta concessões ao espectador em uma obra que desafia o público a todo instante. O rigor da música clássica encontra em Lydia Tár uma personificação que entra em choque com dilemas modernos ainda mal equilibrados. No centro de tudo, há Cate Blanchett, a maior atriz da atualidade e, sem dúvida, uma das maiores da história.
Abaixo deste time, tem outras duas produções também muito boas.
Apesar de momentos arrastados como a parte inicial e o período high school, “Os Fabelmans” é um dos melhores filmes do Steven Spielberg em tempos. Isso se deve em grande parte quando o diretor foca no ato de fazer o cinema, seja entendendo a correlação da engrenagem técnica com a produção de emoção no público, seja no poder do diretor ao manipular aquelas imagens. Isso tudo, claro, acompanhado de um elenco de primeiro nível.
“Os Banshees de Inisherin” conta com um roteiro e um grupo de atores tão brilhante que consegue driblar a direção apenas competente do Martin McDonagh. O drama britânico joga no humor e drama para trazer uma história difícil de encontrar vilões e heróis em que todos possuem suas razões e dores muito bem definidas e nada simplistas.
Agora, vem a turma dos bons filmes. Nada mais, nada menos.
“Nada de Novo no Front” é impecável tecnicamente, traz cenas de guerra realmente bem-executadas, boas atuações, enfim…, tudo muito certinho. Porém, o drama da Netflix, igual a seus pares recentes do gênero, sofre com a falta de contundência política e social. O discurso de que a guerra é ruim e o ser-humano acaba sendo corroído por ela me parece o caminho mais confortável. E isso fica escancarado quando se compara ao filme de 1930, ganhador do Oscar de Melhor Filme.
Com uma excelente atuação do Austin Butler, “Elvis” é uma cinebiografia acima da média do gênero, muito por conta da extravagância do Baz Luhrmann, visível nos figurinos, design de produção, maquiagem e penteado e por aí vai. A longa duração, entretanto, tornam os excessos cansativos em muitos momentos ainda que não tire o brilho da superprodução da Warner Bros.
Não, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” não inventou a roda nem é o filme mais original e espetacular de todos os tempos, muito menos os Daniels são gênios. Por outro lado, também não é uma bomba bagunçada como os haters dizem por aí. Emoções afloradas à parte típicas de temporada de premiações, é inegável que tenha mais cérebro do que 90% que Hollywood produz, além de acertar mais do que erra nas mil e uma situações que arrisca.
Por fim, tem “O Triângulo da Tristeza”. Este filme, sinceramente, não dá. Com o afã de atacar tudo e todos, o Ruben Ostlund soa mais como um histérico e estes revoltados da internet do que alguém com algo para dizer. Momentos como o jogo de citações entre o capitalista e o comunista não compensam a ruindade geral. Pelo menos, serve para quebrar a cara daqueles que acham o Oscar uma porcaria e Cannes uma maravilha. Nem ao céu nem ao mar.
COMPARANDO COM OS OUTROS ANOS
Para fazer uma coisa mais precisa e dar uma noção do que gosto, eu resolvi adotar um esquema Letterboxd de pontuação.
Cinco estrelas ganha 10 pontos, 4,5 estrelas ficou com nove até chegar no zero quando é uma bomba o filme.
Desta maneira, a seleção de 2023 fica com média de 6,6 mesmo sem ter uma produção cinco estrelas.
Este resultado coloca a atual edição do Oscar, na minha visão, na frente dos dois últimos anos. Em 2021, “Meu Pai” até puxava o nível para cima, porém, o fraco “Os Sete de Chicago” e os regulares “Mank” e “Minari” não ajudaram na média final. Ano passado, “King Richard” e “Belfast” eram os piores da turma, atrapalhando os excelentes “Drive My Car” e “Ataque dos Cães”.
O Oscar 2023 ainda supera outras cinco edições da década passada, quando a Academia passou a permitir até 10 indicados.
A edição de 2012 quase empatou, pois, se tinha o fraco “Histórias Cruzadas” e os regulares “Moneyball” e “Cavalo de Guerra”, por outro lado, contava com o trio Terrence Malick, Woody Allen e Martin Scorsese para elevar o nível. O confuso Oscar 2017 e 2018 ficaram próximos com média 6,3: o primeiro tinha o excelente “La La Land” e o razoável “Lion”, enquanto o segundo trazia a trinca memorável de “Trama Fantasma”, “Lady Bird” e “Corra”, mas, sofria com “The Post” e o fraco “O Destino de uma Nação”.
“Bastardos Inglórios” foi o grande filme de 2010 que ainda contava com “Avatar” e “Amor sem Escalas”, mas, “Um Sonho Possível” não dava. Sou até mais “O Triângulo da Tristeza”. Por fim, o posto de pior temporada segue sendo de 2019 em que a Academia caprichou: “Green Book”, “Bohemian Rhapsody” e “Vice” é duro para qualquer cinéfilo.
O posto de melhor temporada recente segue sendo de 2020 quando tivemos “Parasita”, “Era uma vez em Hollywood” e “O Irlandês” seguido, um pouco mais abaixo, por “Coringa”. Também curto a seleção de 2014 liderada por “Ela” e “O Lobo de Wall Street”.
Quando eu faço a linha de corte para o século XXI, aí, o Oscar 2023 tem maiores dificuldades, ganhando apenas de duas temporadas da primeira década.
Mesmo gostando de “Iwo Jima” e “Os Infiltrados, o Oscar 2007 não trouxe nenhum filme que considero acima de 3,5 estrelas e ainda tinha o regular “Babel” para dar uma diminuída na média. Dois anos depois, a temporada foi ainda pior: o convencional “Frost/Nixon” era o melhorzinho, enquanto “Benjamin Button” e “O Leitor”, me perdoem, mas, não me convenceram.
Olhando para a década de 2000, o Oscar mais forte foi tranquilamente de 2006 com “Munique”, “Boa Noite, Boa Sorte” e “O Segredo de Brokeback Mountain”. Aliás, é uma das maiores da história, estragada pela Academia ao premiar “Crash”.
Indo mais atrás na história, você pode encontrar edições inferiores à atual. São os casos das temporadas de 1996 vencida por “Coração Valente”, 1990 de “Miss Daisy”, grande parte dos anos 1980 – exceção feita a 1980 conquistada por “Kramer Vs Kramer” -, 1971 de “Patton”, 1964 com “As Aventuras de Tom Jones”, e por aí vai.
Pode ser um Oscar dos mais empolgantes, mas, tem sim muita coisa boa para ver.
AS AVALIAÇÕES E MÉDIAS DOS INDICADOS A MELHOR FILME DO OSCAR DE 2000 A 2023:
OSCAR 2023
Avatar e Top Gun – ****
Os Fabelmans, Os Banshees de Inisherin e TÁR – ***½
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Elvis e Nada de Novo no Front – ***
O Triângulo da Tristeza – **
Média 6,5
OSCAR 2022
Drive My Car ****½
Ataque dos Cães – ****
O Beco do Pesadelo, Amor Sublime Amor – ***½
Não Olhe Para Cima, Licorice Pizza, Duna – ***
Belfast – **½
King Richard – **
Média 6,1
OSCAR 2021
Meu Pai ****
Bela Vingança, O Som do Silêncio – ***½
Nomadland, Judas e o Messias Negro – ***
Mank, Minari – **½
Os 7 de Chicago – **
Média – 6
OSCAR 2020
Parasita, Era uma vez em Hollywood, O Irlandês – ****½
Coringa – ***½
Adoráveis Mulheres, 1917, História de um Casamento, Ford Vs Ferrari – ***
Jojo Rabbit – **½
Média – 7
OSCAR 2019
Infiltrado na Klan, Pantera Negra – ****
Nasce uma Estrela, Roma, A Favorita – ***
Green Book, Bohemian Rhapsody – **½
Vice – *½
Média – 5,8
OSCAR 2018
Trama Fantasma, Lady Bird, Corra – ****
Me Chame Pelo Seu Nome, Dunkirk – ***½
A Forma da Água, Três Anúncios Para um Crime – ***
The Post – **
O Destino de uma Nação – *½
Média – 6,3
OSCAR 2017
La La Land – ****
Moonlight, A Chegada – ***½
Manchester à Beira-Mar, Até o Último Homem, A Qualquer Preço, Estrelas Além do Tempo, Um Limite entre Nós – ***
Lion – **½
Média – 6,3
OSCAR 2016
Mad Max – ****½
O Regresso e A Grande Aposta – ****
Spotlight, Ponte dos Espiões, Perdido em Marte, O Quarto de Jack – ***
Brooklyn – **½
Média – 6,7
OSCAR 2015
Boyhood – ****½
Whiplash – ****
O Grande Hotel Budapeste, Birdman – ***½
A Teoria de Tudo, Sniper Americano, Selma – ***
O Jogo da Imitação – **½
Média – 6,7
OSCAR 2014
Ela, O Lobo de Wall Street – ****½
Nebraska, 12 Anos de Escravidão – ****
Gravidade – ***½
Clube de Compras Dallas, Capitão Phillips – ***
Trapaça e Philomena – **½
Média – 7
OSCAR 2013
As Aventuras de Pi, Django Livre, Amor, A Hora Mais Escura – ***½
Argo, Indomável Sonhadora, O Lado Bom da Vida, Lincoln – ***
Os Miseráveis – **
Média – 6,2
OSCAR 2012
A Árvore da Vida – ****½
Meia Noite em Paris, A Invenção de Hugo Cabret – ****
O Artista, Os Descendentes – ***½
Tão Perto e Tão Forte – ***
Moneyball, Cavalo de Guerra – **½
Histórias Cruzadas – **
Média 6,5
OSCAR 2011
Toy Story 3, A Rede Social – ****½
A Origem – ***½
Cisne Negro, O Discurso do Rei, O Vencedor, Bravura Indômita, Minhas Mães e Meu Pai, 127 Horas, Inverno da Alma – ***
Média – 6,7
OSCAR 2010
Bastardos Inglórios – ****½
Avatar, Amor sem Escalas, UP – ***½
Educação, Guerra ao Terror, Distrito 9 – ***
Preciosa, Um Homem Sério – **½
Um Sonho Possível – **
Média 6,2
OSCAR 2009
Frost/Nixon – ***½
Milionário, Milk – ***
Button, Leitor – **½
Média 5,8
OSCAR 2008
Sangue Negro, Onde os Fracos – ****½
Juno, Conduta de Risco, Desejo e Reparação – ***
Média – 7,2
OSCAR 2007
Iwo Jima, Infiltrados – ***½
Miss Sunshine, Rainha – ***
Babel – **½
Média 6,2
OSCAR 2006
Boa Sorte, Brokeback Mountain, Munique – ****½
Capote, Crash – ***
Média – 7,8
OSCAR 2005
Menina de Ouro – ****½
Em Busca da Terra do Nunca – ****
O Aviador, Sideways – ***½
Ray – **½
Média 7,2
OSCAR 2004
O Retorno do Rei – *****
Encontros e Desencontros, Sobre Meninos e Lobos – ****
Mestre dos Mares – ***
Seabiscuit – *½
Média 7,0
OSCAR 2003
O Pianista – ****½
As Duas Torres – ****
Chicago – ***½
Gangues de Nova York, As Horas – ***
Média – 7,2
OSCAR 2002
A Sociedade do Anel, Moulin Rouge – ****½
Gosford Park – ***½
Entre Quatro Paredes, Mente Brilhante – ***
Média 7,4
OSCAR 2001
O Tigre e o Dragão, Gladiador – ****
Traffic, Erin Brokovich – ***½
Chocolate – **
Média – 6,8
OSCAR 2000
O Sexto Sentido, O Informante – ****
Beleza Americana – ***½
À Espera de um Milagre – ***
Regras da Vida – **
Média 6,6
