De Hayao Miyazaki a James Gray, Caio Pimenta lista 10 grandes diretores nunca antes indicados ao Oscar.

DE DUVERNAY A MIYAZAKI

O Oscar de Melhor Direção está dos seus 100 anos de existência com um tabu absurdo: até hoje, nenhuma pessoa negra ganhou a categoria. O abismo é ainda pior quando o assunto são as mulheres pretas, as quais nunca foram sequer nomeadas. A Academia teve uma oportunidade de ouro para acabar com isso, mas, não aproveitou. 

Em 2015, “Selma” foi a primeira obra dirigida por uma mulher negra a chegar ao Oscar de Melhor Filme. Infelizmente, a Academia não concedeu o mesmo feito para Ava Duvernay em Direção. Aliás, o drama sobre o Martin Luther King só obteve uma outra nomeação que foi em Melhor Canção, categoria em que se sagrou vencedor. 

Uma mancha na história do Oscar até hoje. Agora, vamos para o Oriente de vem três lendas do cinema que a Academia segue ignorando. 

Wong Kar-Wai

O Wong Kar Wai emplaca um grande filme atrás do outro desde o fim dos anos 1980, entre eles, dois clássicos do romance: “Felizes Juntos”, o atemporal “Amor à Flor da Pele” e, ficando um pouco mais abaixo, “2046”.

Chegou a ir para os EUA, onde fez o razoável “Um Beijo Roubado”, até voltar à terra natal com “O Grande Mestre”, único filme dele nomeado ao Oscar – aqui, nas categorias de figurino e direção de fotografia. 

Park Chan-Wook

Já o Park Chan-Wook explodiu com a Trilogia da Vingança, especialmente, com o sucesso estrondoso de “Oldboy”.

Infelizmente, nem todo o brilhantismo do longa de 2003 foi suficiente para o Oscar abrir os olhos para o sul-coreano em uma época de equívocos gritantes na categoria de Filme em Língua Não-Inglesa.

A chegada ao Ocidente com “Segredos de Sangue” passou longe do radar da Academia igual ocorreu com o elogiado “A Criada”. 

A oportunidade era neste ano quando “Decisão de Partir” era considerado nome certo entre os filmes internacionais e o próprio Park Chan-Wook tinha boas chances em Direção.

No fim das contas, o Oscar resolveu manter o histórico e ignorou completamente o candidato da Coreia do Sul. 

E ainda tem o Hayao Miyazaki: o mestre japonês do Studio Ghibli comandou obras-primas da animação como “Meu Amigo Totoro”, “Princesa Mononoke”, “A Viagem de Chihiro” e “Vidas ao Vento”.

Mas, a mentalidade tacanha da Academia não permite ainda indicar um diretor de animação, ainda mais vinda do outro lado do planeta.   

A miopia, entretanto, não é exclusiva para a animação. 

CARPENTER A GRAY

Alguns dos maiores sustos que você já levou em uma sala de cinema foi por conta do John Carpenter.

O sujeito comandou “apenas” clássicos como o primeiro “Halloween” e “O Enigma do Outro Mundo”.

No cinema de ação, ele também mandou bem demais com “Assalto ao 13º DP” e “Fuga de Nova York”. Todos estes quatro filmes completamente ignorados pela Academia.  

Somente “Starman” com a improvável nomeação do Jeff Bridges a Melhor Ator foi dos principais longas do Carpenter indicado ao Oscar.

Falando de cinema de fantasia, um querido do público sempre foi deixado de lado pela Academia. 

Os péssimos filmes recentes não apagam o que foi o auge da carreira do Tim Burton.

Fosse o Oscar menos quadradão nos anos 1980 e 1990, “Os Fantasmas se Divertem” e, principalmente, “Edward Mãos de Tesoura” poderiam ter colocado o diretor facilmente na lista de cinco finalistas.

“Ed Wood” deu azar de ser lançado na pesada corrida de 1995, o que atrapalhou as possibilidades do longa.

E, claro, não se pode esquecer do praticamente perfeito “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”, a obra que traz o Burton na melhor forma. 

Tiraria fácil o Lasse Hallström, de “Regras da Vida”, para colocá-lo em Melhor Direção. 

Indo para um diretor mais novo não dá para não citar o James Gray. De longe, é um dos cineastas mais sofisticados e talentosos surgidos nos últimos anos.

É aquele cara capaz de tirar até a última gota o melhor das histórias e atuações com uma naturalidade assustadora. 

“Os Donos da Noite”, “Era uma vez em Nova York”, “Z – A Cidade Perdida” e “Ad Astra” são muito bons, mas, nada se compara a “Amantes”, o doloroso romance protagonizado pelo Joaquim Phoenix.  

Infelizmente, falta mídia para o Gray sair do zero no Oscar.

VON TRIER A DE PALMA

Quanto ao próximo esnobado, este é bom de provocar a imprensa, o público e a crítica. O problema é quando ele passa do ponto e joga tudo pela janela. 

Se Cannes sempre gostou das provocações do Lars Von Trier, a Academia se mostrou reticente com o dinamarquês.

Não deu bola para “Elementos de um Crime” e “Europa” assim como ignorou por completo o Dogma 95.

A Academia começou a observá-lo mais atentamente a partir de “Ondas do Destino”, pelo qual a Emily Watson foi indicada a Melhor Atriz. Se “Dançando no Escuro” não conseguiu emplacar a Bjork, pelo menos, houve a nomeação do próprio Trier em Canção Original. 

“Dogville” poderia ser o salto ao trazer um elenco de grandes estrelas, entre elas, a protagonista Nicole Kidman. O experimentalismo do longa e as polêmicas dos bastidores, porém, jogaram contra e o filmaço passou longe do Oscar.

Quando surgiu em Cannes, “Melancolia”, era apontado não apenas como favorito à Palma de Ouro, mas, como candidato real a Melhor Filme até pela extensão recente para até 10 finalistas. 

Mas, o Von Trier passou do ponto na coletiva de imprensa com declarações inacreditáveis sobre Hitler e qualquer possibilidade para ele e o filme terminaram ali. Claro que não era garantida a presença dele no Oscar 2012 até por conta do jeitão refratário que ele gosta de adotar, então, imagine uma campanha com ele – seria o caos.

Mas, “Melancolia” parecia ser a obra certa, capaz de romper as barreiras existentes entre a Academia e ele. 

Para fechar a lista, duas lendas: um norte-americano e o outro alemão. 

O fim dos anos 1970 e 1980 foi dominado pelo talento do Brian de Palma.

Praticamente em sequência, o diretor lançou clássicos nos mais diversos gêneros como “Carrie – A Estranha”, “Vestida Para Matar”, “Um Tiro na Noite”, “Scarface” e “Os Intocáveis”.  

O Wim Wenders foi ainda mais ignorado no mesmo período com suas duas obras-primas: “Paris, Texas”, de 1984, e “Asas do Desejo”, de 1987.

Os dois filmes não tiveram sequer uma mísera indicação.

O reconhecimento somente foi vir com “Buena Vista Social Club”, “Pina” e “O Sal da Terra”, todos nomeados em documentários.

E todos também derrotados. 

A Academia não ter aproveitado nenhuma das ocasiões para indicá-los, especialmente, nos anos 1980 mostra bem o marasmo do período no Oscar.