A trajetória dos super-heróis da DC Comics no cinema é, ao mesmo tempo, gloriosa e constrangedora. Para mim, os melhores filmes de super-heróis já feitos são com ícones da DC: Superman: O Filme (1978) de Richard Donner, e Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan, ambos lançados pelo estúdio Warner Bros., que detém os personagens DC nas telas – Os Incríveis (2004), de Brad Bird e da Disney/Pixar, completa para mim o pódio super-heróico das telas.

Ao mesmo tempo, a Warner e a DC já passaram muita vergonha no cinema com Mulher-Gato (2004), Superman IV: Em Busca da Paz (1987), Batman & Robin (1997) e Lanterna Verde (2011). Nada com o logo da Marvel nas telas é tão ruim quanto estes, e também mais alguns outros que saíram com o logo da DC.

E agora, temos aí o Universo DC no cinema. Com uma década dessa empreitada, que buscou repetir o impacto – e a grana – que o Marvel Studios conseguiu, agora é uma boa oportunidade para rever os 14 filmes que o compõem até o momento, já que The Flash deve apertar o botão reset em todo o universo. Vamos relembrar esses filmes, o (pouco) que deu certo e o (muito) que não deu, do pior para o melhor. Com vocês… o meu ranking dos filmes do Universo DC nas telonas. 

14. Esquadrão Suicida (2016)

Primeira foto de Esquadrão Suicida

É, não tem como haver outro no fundo da lista a não ser este. Menos uma história e mais um videoclipe orientado por um estúdio ganancioso e impaciente, o longa dirigido David Ayer já demonstrou de cara que a Warner/DC iria sofrer para tornar a ideia de um universo coeso realidade. Apesar de algumas boas atuações por Margot Robbie, Will Smith, Joel Kinnaman e Viola Davis, isso aqui é o caso emblemático de cinema por comitê, sem alma e sem inteligência.

 13. Mulher-Maravilha 1984 (2020)

Um roteiro absurdo de tão ruim e várias escolhas equivocadas da diretora Patti Jenkins tornaram esta sequência um desastre praticamente completo, na melhor tradição do estúdio sem noção que produziu “crássicos” como Superman III (1983) e os Batman de Joel Schumacher. 

12. Shazam: A Fúria dos Deuses (2023)

Outro exemplo de sequência genérica e sem alma, e que busca nítida inspiração no estilo Marvel – quer faça sentido ou não. Este aqui é a prova de que filme “para crianças” não precisa ser necessariamente igual a “feito por crianças”, sem noção de narrativa, personagem ou inteligência. Ora, depois de tanto tempo, já era para o estúdio evitar alguns dos erros que comete aqui. 

11. Batman vs. Superman: A Origem da Justiça (2016)

Ah, esse filme… Se O Homem de Aço já tinha lançado dúvidas, esse aqui só comprovou: Zack Snyder é um cara que leu muitas HQs na vida, mas não parece tê-las compreendido, e também não entende nada dos heróis DC. Ele entrega um filme todo atrapalhado narrativamente, pesado e opressivo, e que de quebra ainda traz o icônico – pelas razões erradas – “momento Martha” e uma das piores atuações num filme desse tipo, a de Jesse Eisenberg como Lex Luthor. Só Ben Affleck como Batman e Gal Gadot como Mulher-Maravilha se salvam. Foi aqui que as coisas começaram de fato a dar errado. 

10. Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (2020)

Sei que esse aqui tem seus defensores, mas não me incluo entre eles. A diretora Cathy Yan tenta brincar com clichês narrativos de super-heróis e injetar sagacidade e uma visão mais feminina, mas só termina com mais uma trama rasa e enfadonha igual às histórias às quais parece zoar. Além disso, a Arlequina de Margot Robbie aqui demonstra que funciona melhor em doses homeopáticas. Quando um sanduíche acaba sendo a figura mais interessante do filme, aí sabemos que estamos com problemas… 

9. Adão Negro (2022)

Pobre The Rock, aposto que depois deste preferia ter feito um papel qualquer na Marvel. O filme até que não está entre os piores desta lista na minha visão, mas o projeto, da forma como foi concebido, se contentou em apelar para os lugares-comuns desse tipo de história e não soube aproveitar a presença de Dwayne Johnson ao não lhe dar quase nada para fazer. Salvou-se a Sociedade da Justiça, que tomara seja melhor aproveitada em outro filme no futuro. 

8. The Flash (2023)

É, tínhamos esperanças para este aqui, mas não deu. O primeiro filme-solo do herói é prejudicado por um roteiro pedestre e incoerente e efeitos em computação gráfica imperdoáveis para um filme que ficou tanto tempo guardado no cofre da Warner. O filme até melhora quando entra em cena o Batman de Michael Keaton, e só ele já vale o ingresso, mas o roteiro também o desperdiça, e à Supergirl de Sasha Calle. E Ezra Miller simplesmente não funciona. Parece que o pessoal do estúdio é incapaz de aprender, e ao invés de homenagem à DC no cinema, The Flash vira só o constrangedor prego no caixão do universo.    

7. Shazam (2019)

Uma Sessão da Tarde agradável, com alguns erros e clichês, mas uma parcela de acertos também. O diretor David F. Sandberg soube não levar a história muito a sério – e aqui o humor funcionou – e acrescentar umas pitadas de terror que balancearam a experiência. Divertido, e esquecível. 

6. Liga da Justiça (2017)

Esse também é um produto feito por comitê, depois que o estúdio demitiu Snyder por causa da sua tragédia pessoal – o suicídio de sua filha. E é um filme estilo Marvel – o maior pecado desses filmes foi justamente imitar a concorrência, ao invés de apostar na sua própria identidade. Ainda assim, depois de tanta escuridão e caras tristes e raivosas, um pouco de cor, uma aventura mais direta e um Superman que deu um sorriso (!) representaram um alento.

5. Aquaman (2018)

É bobinho até dizer chega, mas é bem conduzido pelo diretor James Wan, tem um tom épico e um elenco que parece estar se divertindo com a coisa toda. E olha, o mundo submarino aqui foi melhor apresentado e pareceu mais interessante do que o que vimos em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (2022). A DC bateu a Marvel aqui… 

4. O Homem de Aço (2013)

O Homem de Aço

Zack Snyder tinha nas mãos o relançamento do maior de todos os heróis, e fez um filme que até consegue voar em alguns momentos. E Henry Cavill se sai bem assumindo a capa. Pena que para cada bom momento, existem outros como a morte besta do Jonathan Kent num furacão, ou o fim esquisito do vilão Zod, ou toda a destruição que só faz o longa parecer mais um blockbuster descerebrado. Entre erros e acertos, no fim das contas acabou sendo um dos melhores do Universo DC.

3. Mulher-Maravilha (2017)

Se não fosse o final atrapalhado, podia estar mais alto nesta lista. Aqui a magia funcionou de fato, com uma heroína inspirando esperança e marcando o público de cinema de uma forma que Capitã Marvel (2019), da concorrência, não conseguiu. E Gal Gadot e Chris Pine provam que o maior efeito especial de um filme, às vezes, são mesmo os seus atores. Foi o mais próximo que os longas do Universo DC chegaram da experiência de um Superman: O Filme. 

2. Liga da Justiça de Zack Snyder (2021)

Quem diria que seria justamente no final, e depois de todo o imbróglio para lançar a sua versão, que este seria o longa mais “aprumado” e eficiente de Zack Snyder com os heróis DC? Claro, é muito longo e tem muita câmera lenta e “snyderismos”, mas também tem um (pequeno) coração na figura do Ciborgue, e um tom verdadeiramente épico que faltou um pouco na versão do cinema. Por mais que continue um porre, ver o Superman do Snyder de preto é inegavelmente legal, assim como a reverência do cineasta por esses personagens que são, sim, maiores que os da concorrência. E tem até umas piadas… E qualquer filme em que o Batman use uma arma laser para matar um monte de alienígenas não pode ser ruim, na minha opinião. 

1. O Esquadrão Suicida (2021)

E eis que fazemos um círculo completo: James Gunn, sem amarras, fez o melhor filme do claudicante Universo DC no cinema com a sua assinatura e a sua loucura, direcionadas por amor aos quadrinhos DC e aos seus estranhos personagens. Bizarro, engraçado e demente, esse é o filme que a Warner deveria ter lançado em 2016, e essa é a confiança que o estúdio deveria ter demonstrado quando começou a fazer estes filmes. No passado, a Warner se gabava de ser casa de cineastas autorais: ao invés de imitar a Marvel, deveriam ter apostado nessa autoralidade para triunfar na arena dos super-heróis. Mas ainda há esperança: Pelo que demonstra aqui, parece sim que reiniciar o Universo DC nas telas é um trabalho para James Gunn.