A maior barbada do Oscar 2022 aconteceu como previsto: Jane Campion é a vencedora de Melhor Direção por “Ataque dos Cães”. Ela se junta a Kathyrn Bigelow, de “Guerra ao Terror”, e Chloé Zhao, de “Nomadland”, como as únicas mulheres ganhadoras da categoria. 

E não era sem tempo: junto com a Agnés Varda e a Alice Guy-Blaché, a Campion é uma das cineastas mulheres mais importantes da história do cinema mundial. Afinal, se a Blaché foi pioneira e a Varda foi a principal voz feminina dentro da Nouvelle Vague, a neozelandesa abriu definitivamente as portas do mainstream para as diretoras. 

Isso aconteceu muito graças a “O Piano”, obra-prima que a levou a ser a primeira mulher a vencer a Palma de Ouro em Cannes e chegar ao Oscar disputando Melhor Filme, Direção e Roteiro. Somente não venceu porque encarou pela frente “A Lista de Schindler” e o clima de que era a hora de prestigiar Steven Spielberg. 

A partir dali, conseguiu trabalhar com gigantes do cinema mundial como Nicole Kidman, Kate Winslet e Meg Ryan sempre em obras com um forte viés feminino sem abrir mão do seu olhar e autonomia sobre os projetos.  

Em “Ataque dos Cães”, a Jane Campion volta a abordar os desejos reprimidos e a forma como eles corroem as pessoas, desta vez, a partir do cowboy interpretado brilhantemente pelo Benedict Cumberbatch. Nesta onda revisionista do western, a cineasta toca nos efeitos da masculinidade tóxica e da violência de gênero, algo sequer imaginado há 50, 60 anos quando John Wayne e companhia dominavam o setor. 

Igual disse ano passado em relação à vitória da Chloé Zhao, torço muito para que este momento não seja algo episódico e tenhamos mais e mais mulheres ganhadoras de Melhor Direção. Afinal, em toda a história do Oscar, a disparidade segue absurda: são 91 vitórias masculinas para três femininas. 

Por fim, faço a menção honrosa ao genial trabalho do Ryusuke Hamaguchi, em “Drive My Car”, para a Melhor Direção do Oscar 2022.