Se alguém falasse que o Oscar de Melhor Direção em 2023 iria para as mãos de Daniel Kwan e Daniel Scheinert após a vitória de Jane Campion no ano passado seria chamado de louco. Ainda mais em uma corrida que apresentaria nomes como Sam Mendes, Todd Field, Sarah Polley, Darren Aronofsky, Baz Lurhamann, James Cameron e, claro, Steven Spielberg.  

Nada como 365 dias para mudar todo o panorama. A dupla de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” confirma o favoritismo ao vencer a categoria. E justamente ser tão improvável é que levou os dois à conquista.   

Os Daniels tinham apenas uma longa-metragem antes do fenômeno que varre o Oscar 2023. Era “Um Cadáver Para Sobreviver”, comédia sobre uma bizarra história marcada por peidos e vômitos protagonizada por Daniel ‘Harry Potter’ Radcliffe e Paul Dano. Se uma parte da crítica e do público virou a cara, muita gente aplaudiu o risco tomado pela dupla, chamando a atenção da A24.    

O estúdio resolveu bancar a loucura de uma história de uma dramédia familiar em meio a multiversos. Com pouco mais de US$ 20 milhões, os Daniels deram forma a um filme diferente, capaz de sair da mesmice das continuações produzidas diariamente por Hollywood. Na salada que é “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, eles conseguem brincar com a cultura pop, homenagear referências cinematográficas diversas – de Wong Kar-Wai a “Ratatouille” -, passear por diversos gêneros e emocionar o público com bons personagens muito bem defendidos pelo elenco.    

Goste ou não, há de se reconhecer como os dois amarram bem este caldeirão que tinha tudo para sair descontrolado. Isso, entretanto, não torna os Daniels geniais como os mais empolgados das redes sociais afirmam muito menos são a salvação do cinema.    

Lamento demais a derrota do Steven Spielberg: conquistar a estatueta por “Os Fabelmans seria não apenas encerrar um jejum superior a duas décadas sem ganhar a categoria como também representaria uma homenagem a um diretor fundamental para Hollywood em uma obra que revela como aprendeu as técnicas do cinema e a forma de nos emocionar ao longo de tanto tempo.    

Fica para a próxima, mestre!