Caio Pimenta analisa o nível da safra de indicados ao Oscar 2022 de Melhor Filme colocando dentro da perspectiva histórica da categoria.

A SELEÇÃO DE 2022

Antes de comparar a seleção deste ano com anteriores, trago as minhas preferências em relação aos filmes da atual temporada. Acredito que não temos nenhum futuro clássico ou obra-prima, mas, é uma lista boa ainda que tenha seus problemas. 

O melhor de todos é o japonês “Drive My Car” em que o Ryusuke Hamaguchi traz uma história sobre luto repleta de momentos poderosos em três horas que passam voando para quem, claro, se dispuser a viver a experiência. São grandes filmes “Ataque dos Cães”, western de desejos reprimidos com personagens repletos de dubiedade, e “Coda – No Ritmo do Coração”, dramédia que consegue transformar o clichê em uma obra emocionante graças ao elenco maravilhoso. 

Em um patamar abaixo, aparecem os ótimos “O Beco do Pesadelo”, noir muito bem conduzido pelo Guillermo Del Toro e um espetáculo visual, e também “Licorice Pizza“, filme mais leve e delicioso do incrível Paul Thomas Anderson. São apenas bons “Duna”, audaciosa, mas, gélida ficção científica do Denis Villeneuve, “Não Olhe Para Cima”, sátira irônica aos negacionistas e extremistas que evita abraçar o surreal totalmente, e, por fim, “Amor, Sublime Amor”, musical de um primor técnico absurdo do Steven Spielberg, mas, que passa longe de emocionar se comparado ao original. 

Tentativa desajeitada do Kenneth Branagh em mesclar drama, humor, melancolia e aura infantil, “Belfast” é apenas regular, enquanto “King Richard” é ruim mesmo com a aula de coaching motivacional através de um personagem com métodos para lá de questionáveis. 

OS ANOS ANTERIORES

Analisando apenas o atual século, vejo a lista de Melhor Filme do Oscar 2022 somente superior a três edições. 

Em 2019, considero apenas dois filmes acima da média – o meu favorito “Infiltrado na Klan” e “Pantera Negra” – enquanto tivemos que conviver com o regular “Green Book” e o fraco “Vice”.

Para quem pergunta sobre “Roma” no Oscar 2019, admiro toda a técnica do Cuáron com sequências belíssimas, mas, me incomoda demais a idealização daquela relação sem aprofundar quem era aquela mulher. 

Já em 2013, vejo uma lista média com boas, mas, nada brilhantes produções como “Amor”, “A Hora Mais Escura” e “Django Livre” e o fraquíssimo “Os Miseráveis”. Nada, entretanto, supera em termos de ruindade os indicados de 2009 quando “Frost/Nixon” era o mais interessante em uma seleção com o insosso “Benjamin Button” e o burocrático “O Leitor”. 

Indo mais atrás na história do Oscar, a safra deste ano também supera 1956 vencida pelo sonífero “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, 1959 com o fraco “Gigi”, 1964 ano da vitória triste de “Tom Jones”, 1969 com o insosso “Oliver”, 1984 do agradável “Laços de Ternura”, 1988 do apenas competente “O Último Imperador”, 1996 de “Coração Valente”, 1997 de “O Paciente Inglês”, e o traumático 1999 de “Shakespeare Apaixonado”. 

Vejo esta lista em nível semelhante a três edições:  1990 com o fraco “Conduzindo Miss Daisy” superando os bons “Sociedade dos Poetas Mortos”, “Meu Pé Esquerdo” e “Nascido em Quatro de Julho”; 1989 com o bom “Rain Man” vencendo os ótimos “Ligações Perigosas” e “Mississipi em Chamas”, mas, acompanhado do ruim “O Turista Acidental”. E, por fim, em 1955, ano do excelente “Marty” e do muito bom “A Rosa Tatuada”, porém, que também teve o esquecível “Mister Roberts”. 

De modo geral, a edição 2022 será um Oscar de que não sentiremos tanta falta assim.