Segundo curta-metragem da carreira de Matheus Mota (“Folhas Brancas”) na direção, “Sociedade Fluída” representa o Amazonas na edição online do Cine Tamoio – Festival de Cinema de São Gonçalo. O evento da cidade do interior do Rio de Janeiro será realizado entre os dias 11 a 19 de setembro.
Projeto concebido ao longo dos últimos cinco anos, “Sociedade Fluída” é um curta experimental de 17 minutos composto de segmentos sem diálogos sobre as vivências de corpos LGBTQIAP+ em Manaus. “É um filme ativista, bastante militante, que não faz questão de ser didático. O texto do filme é a imagem. Com isso, quero que “Sociedade Fluída” impacte o público pela potência das imagens para que as pessoas reflitam sobre o que viu”, declarou Matheus Mota em entrevista ao Cine Set.
Destaque de filmes como “Maria” e do futuro “Manaus Hot City”, Maria do Rio é o principal nome do elenco que ainda conta com Franklen Roosiwelt, Fran Martins, Gabriel Leão, Guimimaro, Miro Messa, Lee Jones, Guilherme Bindá, Mafel e Dimitria Alencar. “Sociedade Fluída” traz Henrique Saunier e Davi Penafort na direção de fotografia, Stephane dos Santos na produção executiva e o próprio Matheus assumindo as funções de direção, roteiro, direção de arte e figurino.
LGBTQIAP+ E MANAUS EM QUESTÃO
O curta, segundo o diretor, busca exaltar as reinvenções e transformações da comunidade LGBTQIAP+, “quebrando noções de conceitos definidos pela sociedade, em um processo de construção em que nada é definitivo, repleto de transformação em que tudo flui”. Matheus ainda declara que inquietações pessoais o estimularam a fazer “Sociedade Fluída”.
“Essa inquietação parte da busca por uma definição do que é ser masculino ou feminino. As pessoas sempre vão por caminhos muito óbvios, principalmente, fazendo a suposta diferenciação pela genitália e pela roupa que a pessoa veste. O curta busca quebrar isso”, afirma.
Para levar essa proposta para a tela, Matheus Mota buscou diversas referências: de fotógrafos como Helmut Newton e Robert Maplethorpe ao diretor de teatro grego, Dimitri Papaioannou até o clássico do cinema brasileiro “São Paulo Sociedade Anônima”. “Além da questão de gênero, queria trabalhar Manaus como pano de fundo do curta, mas, longe do estereótipo da floresta, e mostrá-la como é: esta selva de pedra, de concreto com pouca arborização. Considero o filme do Luís Sérgio Person uma referência neste contraponto entre o homem e a cidade”.
PROBLEMAS NO LONGO PROCESSO
“Sociedade Fluída” foi feito sem o apoio de editais e com recursos próprios, necessitando de adaptações no roteiro para que pudesse ser executado da melhor forma possível. “Busquei manter a boa integridade das ideias originais. Isso deu muito trabalho para finalizar o processo. Mesmo assim, encerrei o projeto bem feliz com o resultado, especialmente, levando em conta todas as circunstâncias apresentadas durante a produção”, afirmou o diretor.
Responsável pela preparação do elenco, a atriz Tainá Lima trabalhou com atores, bailarinos e modelos ao longo de cinco meses. Pelos planos de Matheus, 12 pessoas fariam parte do elenco, mas, todo o processo de ensaios chegou a contar com 22 envolvidos. O tabu das cenas de nudez presentes no roteiro provocou a saída de uma parte deles.
“Tínhamos atores não profissionais e alguns ficaram receosos com as cenas de nudez explícita. O elenco que ficou foi o que basicamente compreendeu o filme e conseguiu encarar os desafios que o curta propunha. Foi realmente um ambiente de muita camaradagem em que todo mundo queria ver o projeto pronto e isso estimulou a todos nós”, explica Matheus Mota. As gravações de “Sociedade Fluida” aconteceram e abril a novembro de 2018, enquanto o processo de montagem foi de dezembro de 2019 a março deste ano.
ALÉM DO CINEMA
Em meio a tantos objetivos ambiciosos, “Sociedade Fluida” não poderia se contentar apenas com as telas do cinema. Elaborado como uma curta “artisticamente expansivo”, como define o próprio diretor, o projeto envolve fotografia, performance e artes plásticas. Desta maneira, Matheus Mota já pensa em realizar uma exposição baseada no filme para 2021.
“A ideia é exibir todas as fotografias, os designs e storyboards criados para a concepção visual, fora apresentar as performances de alguns artistas, discussões e conversas feitas durante o processo da obra”, afirma Matheus. Antes disso, ele afirmou que pretende lançar “Sociedade Fluída” em Manaus, de preferência, no Festival Olhar do Norte do ano que vem.
Para o futuro, Matheus Mota revelou que já está escrevendo o roteiro do próximo curta e a temática será mantida. “Depois do “Sociedade Fluída”, percebi que a minha identidade no cinema é falar sobre a pauta LGBTQA+, um lugar em que me sinto confortável e confiante de falar. Pretendo aproveitar o Matapi 2020 e festivais de roteiro e desenvolvimento para elaborar meu novo filme, este com narrativa mais tradicional”.