De Hilary Swank, por “Meninos Não Choram”, a Kate Winslet, por “O Leitor”, Caio Pimenta analisa o TOP 10 das vencedoras do Oscar de Melhor Atriz.
MARION COTTILARD, por “PIAF – UM HINO AO AMOR”
Sim, eu sei que vai dividir muitas opiniões, mas, essa vitória da Marion Cotillard por “Piaf – Um Hino ao Amor” não me convence nem um pouco.
Os excessos do filme refletem no trabalho de Marion: da pesada maquiagem aos momentos dramáticos, tudo parece estar um tom acima, deixando de ser um drama elegante para cair em um melodrama irritante. Nisso, até mesmo bons momentos como a cena em que Piaf descobre a morte do amor da vida dela perdem-se em meio a um resultado geral muito fraco.
E quando a gente compara com trabalhos posteriores e superiores da Marion como “Ferrugem e Osso” e “Dois Dias e uma Noite”, percebe-se um abismo em relação a “Piaf”. Para piorar ainda mais, essa vitória veio em cima da Julie Christie, de “Longe Dela” que poderia ter vencido o segundo Oscar.
NICOLE KIDMAN, POR ““AS HORAS”
A nona colocação fica por conta da Nicole Kidman que, em 2003, venceu o prêmio por “As Horas”, um filme que, admito, não caio de amores.
O trabalho da Nicole Kidman, na minha visão, é superestimado. Vejo uma atuação segura, mas, dentro de uma zona de conforto oferecida por cinebiografias com transformações físicas impressionantes e momentos de rompantes para fazer o VT na cerimônia do Oscar. Para efeitos de comparação, entre as atuações presentes em “As Horas”, o da Julianne Moore era bem superior.
Vale lembrar que a Nicole Kidman vinha de dois trabalhos excepcionais que poderiam ter rendido o Oscar para ela: “Moulin Rouge” e “Os Outros”. Porém, é aquela coisa a Academia preferiu um tipo de atuação mais segura em uma obra mais convencional para premiá-la. Quanto às concorrentes para mim a mais forte de todas era justamente a Julianne Moore, no excelente “Longe do Paraíso”.
REESE WITHERSPOON, POR ““JOHNNY & JUNE”
A colega da Nicole Kidman, a Reese Whiterspoon, venceu o Oscar em 2006 por “Johnny e June”. Aqui no TOP 10, ela é a oitava colocada.
Não chega a ser trabalho fantástico, mas, Reese incorpora bem a personalidade independente de June Carter, o que cria uma personagem por quem torcemos e gera uma química muito boa com o parceiro dela de cena, o Joaquin Phoenix. Fora que na hora de cantar, ela não faz feio.
A Reese também contou com a sorte do ano estar longe de ser bastante disputado. No máximo, a Felicity Huffman, de “Transamérica”, talvez, ali pudesse competir em pé de igualdade. As demais estavam competentes, mas, nada além disso.
CHARLIZE THERON, POR ““MONSTER”
Talvez a mais impressionante transformação visual vencedora do Oscar seja a Charlize Theron. Por “Monster – Desejo Assassino”, ela conquistou o prêmio de Melhor Atriz em 2004.
Além do impacto da maquiagem, chama a atenção no trabalho da Charlize o fato dela conseguir se desvencilhar dos atos monstruosos para encontrar as emoções e questionamentos presentes na protagonista. Desta maneira, “Monster” deixa o fascínio mórbido em relação a serial killers para tornar-se uma produção sobre traumas, desejos reprimidos e frustrações.
Não acho injusta a vitória de jeito nenhum, porém, se eu fosse lá votar teria escolhida a Naomi Watts em “21 Gramas”, um dos melhores, se não, o melhor filme do Alejandro González Iñarritu.
JULIA ROBERTS, POR “ERIN Brockovich”
A maior estrela feminina de Hollywood nos anos 1990 levou na década 2000: Julia Roberts foi premiada Melhor Atriz do Oscar 2001 por “Erin Brockvich”.
Igual a Sandra Bullock, a Julia Roberts consegue trazer o carisma que leva para todos os seus personagens no longa do Steven Sodenbergh e construir uma figura incapaz de desanimar ou se inibir perante seus oponentes. A arma principal dela são as frases cortantes, recheadas de humor e ironia, que somente uma atriz capaz de transitar entre o humor e o drama é capaz de fazer.
Muita gente detona esta vitória ao lembrar que a Ellen Burtstyn estava brilhante em “Réquiem Para um Sonho”, mas, sinceramente, eu achava improvável demais que a Academia deixasse passar a oportunidade de premiar um dos nomes mais populares de Hollywood.
Eu fico com aquela sensação que eu tenho em relação a Gwyneth Paltrow superando a Fernanda Montenegro: se incrível que a estrela de “Central do Brasil” vencesse? Claro, mas, isso nunca ocorreria.
HALLE BERRY, POR “A ÚLTIMA CEIA”
A primeira e única mulher negra a conquistar o Oscar de Melhor Atriz foi a Halle Berry, vencedora em 2002 por “A Última Ceia”.
Se há algo de memorável no filme, ele reside em Halle Berry: ela carrega a produção ao escancarar toda a dor da personagem em momentos decisivos da história, fora a entrega absoluta e coragem de protagonizar uma das cenas de sexo mais fortes já vistas no cinema.
Apesar de preferir a Nicole Kidman em “Moulin Rouge”, a importância histórica da vitória da Halle Berry não permite com que a gente fique chateado com o resultado.
KATE WINSLET, POR “O LEITOR”
O primeiro Oscar da carreira da Kate Winslet veio em 2009 com “O Leitor”.
Para lá de previsível, esse seria outro filme que nada seria sem a atuação excepcional de sua protagonista. A fragilidade com que a Kate Winslet constrói a misteriosa personagem é comovente e permite que tenhamos empatia de uma pessoa com um passado condenável.
A Anne Hathaway, de “O Casamento de Rachel”, podia também ter vencido o Oscar, mas, a Kate Winslet já fazia por merecer esse prêmio fazia tempo.
HILARY SWANK, POR “MENINA DE OURO”
A medalha de bronze deste TOP 10 vai para a Hilary Swank de “Menina de Ouro”.
Tinha tudo para ser uma versão feminina de Rocky, porém, a Hilary em vez de focar nos problemas da personagem, encanta pela forma de superá-los sempre com muito empenho e raça. A virada na reta final da história coloca camadas adicionais ainda mais comoventes trabalhadas de forma minimalista pela atriz.
A Hilary Swank também não teve tanta dificuldade assim para vencer o Oscar: a maior rival dela, se é que dá para chamá-la assim, foi a Imelda Staunton, de “Vera Drake”.
HILARY SWANK, POR “MENINOS NÃO CHORAM”
A Hilary Swank também pega a medalha de prata com desempenho dela em “Meninos não Choram”, drama pelo qual venceu o Oscar em 2000.
A coragem de se despir da feminilidade para uma atriz no primeiro grande papel da carreira já é digno de aplausos. Porém, Swank vai fundo no doloroso retrato de uma pessoa em processo de transformação e autoconhecimento encarando a intolerância e violência.
Talvez tenha sido um papel tão forte que acabou marcando a carreira e a imagem da Hilary Swank perante o público. E ela para vencer esse Oscar superou gente fortíssima como a Julianne Moore, por “Fim de Caso”, e também a Annette Bening, de “Beleza Americana”.
HELEN MIRREN, POR “A RAINHA”
Claire Foy, Olivia Colman e Imelda Staunton. Todos elas podem tentar ao máximo, mas, jamais vão conseguir incorporar a Rainha Elizabeth como fez a Helen Mirren, vencedora do Oscar por “A Rainha” em 2007.
A Helen Mirren consegue encontrar o equilíbrio perfeito de uma líder de Estado desconcertada em meio a uma crise familiar atordoante, mas, sendo necessária a permanente postura solene exigida pelo cargo. É um trabalho sem saídas fáceis ou arroubos dramáticos eloquentes; tudo é feito de uma forma elegante, precisa e cirúrgica, mas, sem soar frio ou indiferente.
Para mim, esse é um trabalho que sobra na lista de vencedoras e é o melhor deste século até agora disparado. Ninguém chega perto do que a Helen Mirren alcançou em “A Rainha”. A única coisa que eu lamento é que 2007 foi um ano repleto de ótimas atuações femininas, aí, incluindo a Meryl Streep, em “O Diabo Veste Prada”, a Penélope Cruz, em “Volver”, e a Kate Winslet, em “Pecados Íntimos”.