Caio Pimenta analisa os resultados de um fim de semana decisivo rumo ao Oscar 2022 com DGA, Bafta, Critics e Annie Awards.

MELHOR ANIMAÇÃO 

A corrida para Melhor Animação no Oscar parecia bastante tranquila para “Encanto”, o mais popular entre os indicados, puxado pela tradição da Disney na categoria e pelo recente fenômeno de “We Don´t Talk About Bruno”. 

O fim de semana, porém, mostrou como a corrida pode ser mais imprevisível do que se imaginava. 

Principal prêmio do setor de animação nos EUA, o Annie Awards consagrou “A Família Mitchell”.

A produção da Netflix venceu oito categorias, incluindo, Melhor Filme. No Critics Choice, o projeto disponível na Netflix também ganhou, sobrando o Bafta para o longa da Disney. 

Evidente que esta conquista no prêmio britânico ajuda demais, mas, um desempenho tão consagrador assim de “A Família Mitchell” no Annie Awards joga uma sombra sobre “Encanto”. Nos últimos 10 anos, o vencedor do Annie levou o Oscar da categoria em seis ocasiões.

Há também a possibilidade da Academia querer fazer justiça à Netflix, afinal, em 2020, a vitória de “Toy Story 4” sobre “Klaus” é contestada até hoje. 

Existe ainda a polêmica recente em relação à carta divulgada por funcionários da Pixar protestando contra a Disney em censurar cenas de afeto entre personagens de mesmo sexo. A repercussão disso pode cair muito mal entre os votantes do Oscar, contribuindo ainda mais a favor de “A Família Mitchell”. 

Logo, uma categoria que parecia praticamente fechada pode ganhar uma nova configuração de última hora. 

CATEGORIAS TÉCNICAS 

O Bafta e o Critics Choice demonstraram que as categorias técnicas devem ser dominadas mesmo por “Duna”. 

A ficção científica do Denis Villeneuve gabaritou em Som, Efeitos Visuais, Design de Produção e Trilha Sonora.

No evento britânico, o Greig Fraser ficou com Direção de Fotografia, porém, o Critics terminou nas mãos da Ari Wegner, de “Ataque dos Cães”. O sindicato da categoria, no próximo dia 20, deve indicar o favorito rumo ao Oscar.  

Já Maquiagem e Penteado caminha facilmente para as mãos da equipe de “Os Olhos de Tammy Faye” assim como Figurino deve ficar com “Cruella”. 

Corrida boa mesmo está Melhor Montagem: o Bafta escolheu “007 – Sem Tempo Para Morrer” que nem sequer está na lista do Oscar igual fez o Critics com “Amor, Sublime Amor”. O Eddie Awards, o prêmio do sindicato da categoria, optou por “King Richard” entre os dramas e “Tick, Tick…Boom!” em comédia/musical – escolhas, diga-se, bastante contestadas. 

Diante de um panorama tão indefinido, acho que, exceto por “Não Olhe Para Cima”, está todo mundo na briga do Oscar. “King Richard” aparece com ligeiro favoritismo, mas, não descarto “Ataque dos Cães” e, principalmente, “Duna”. 

ROTEIRO E DIREÇÃO 

Os prêmios de Roteiro distribuídos neste fim de semana clareiam bastante não apenas as respectivas categorias, mas, o Oscar 2022 como um todo. 

Mais importantes do que os resultados previsíveis e burocráticos do Critics com “Ataque dos Cães” e “Belfast” como vencedores, é o Bafta que aponta um norte para a noite de 27 de março.  

Em Roteiro Original, os britânicos abandonaram o compatriota Kenneth Branagh para prestigiarem Paul Thomas Anderson. Somando ao resultado desastroso no SAG da semana anterior, a derrota aqui somente demonstra “Belfast” completamente sem rumo na reta final da temporada, além do carinho imenso pelo diretor de “Licorice Pizza” e a demonstração de que a hora de o premiar chegou. 

Já em Roteiro Adaptado, “Coda” superou o favorito “Ataque dos Cães”. O resultado demonstra que os roteiristas podem querer prestigiar outro nome pelo fato de Jane Campion já ter praticamente garantido a vitória em Direção após a consagração tripla no DGA, Bafta e Critics. 

Essa possibilidade permite um leque interessante para Roteiro Adaptado, afinal, pode ser mais uma forma de dar destaque a “Coda”, filme muito querido na indústria, ou “A Filha Perdida” e Maggie Gyllenhaal que poderia estar sim em Direção, e também a “Drive My Car” e a engenhosidade do Ryûsuke Hamaguchi. Somente “Duna” está fora do páreo. 

Antes que perguntem sobre se a comparação feita pela Campion com as irmãs Williams pode pegar mal em Hollywood e atrapalhá-la: sinceramente, acho que, nesta altura do campeonato, somente se ela dissesse apoiar ou entender Vladimir Putin que perderia a estatueta.

Fora isso, é escândalo de rede social. 

ATUAÇÃO E FILME 

Três das quatro categorias de atuações do Oscar 2022 estão definidas após o fim de semana. 

Consagrados no SAG, Will Smith em Melhor Ator, Troy Kotsur em Ator Coadjuvante e a Ariana DeBose em Atriz Coadjuvante repetiram a dose no Critics e no Bafta.

De todos os resultados, o mais representativo é a vitória do astro de “King Richard” para cima do Benedict Cumberbatch no Reino Unido, o que demonstra que o clima está favorável a Smith. 

Em Melhor Atriz, o Bafta ficou com a Joanna Scanlan, por “After Love”, em uma corrida que não serviu de parâmetro para o Oscar por não ter nenhuma das cinco indicadas. Melhor para a Jessica Chastain que reforçou o bom momento depois do SAG com a vitória no Critics. 

A Chastain está fazendo a campanha perfeita: basta ver a empolgação dela no almoço dos indicados e o hype que “Tammy Faye” ganhou nesta reta final. Nicole Kidman e Kristen Stewart ainda não podem ser descartadas, mas, fica cada vez mais difícil uma virada na reta final. 

Por fim, em Melhor Filme, “Ataque dos Cães” teve o fim de semana perfeito: levou o Bafta e o Critics, viu “Belfast” e “Amor, Sublime Amor” sem prêmios de grande peso ou conseguindo algo improvável, teve Jane Campion consagrada no DGA e ainda contou com a declaração terrível do Sam Elliott para ganhar mais apoio.  

Evidente que pode ser surpreendido, mas, tudo leva a crer que chegará favorito igual foi “Nomadland” no ano passado.

Fica a curiosidade apenas de quantos prêmios levará: apesar das 12 indicações, se ganhar quatro – Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Fotografia – já será muito.

Não duvido, entretanto, vencer apenas as duas principais.