Segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Blecaute em mais de 10 estados brasileiros e no Distrito Federal. Crise econômica e desvalorização do Real. Massacre de Columbine. Independência do Timor Leste. Renúncia de Boris Yeltsin na Rússia. Inauguração da London Eye. Primeiros discos de Britney Spears e Christina Aguilera. Red Hot Chilli Peppers lança “Californication”. Fim da Rede Manchete. Estreias de “Pokemon”, “A Usurpadora”, “Terra Nostra” e “Show do Milhão. Palmeiras vencedor da Libertadores, Fluminense da Série C. Popó campeão mundial de boxe.

Como se pode ver 1999 foi um ano agitado, mas, nada comparado ao que o cinema já viu. O Cine Set aproveita o primeiro ano de 2019 para viajar 20 anos no tempo e recordar a loucura deste período marcante.

Observação: o Cine Set baseia suas listas e artigos de acordo com a data de lançamento nos cinemas brasileiros.


O temor do boom do milênio – os computadores não reconhecerem o ano 2000 e voltarem para 1900 – era um símbolo da grande incógnita causada pelo avanço tecnológico. A internet começava a mostrar o potencial de conectar pessoas de todos os cantos, os celulares deixavam de ser uma criação da ficção científica para virar realidade, a clonagem era realidade, etc.

Como aconteceu ao longo de sua história, o cinema tentou acompanhar a evolução e projetar o que poderíamos ver no futuro. Se “Jurassic Park”, “O Passageiro do Futuro”, “Independence Day” buscavam apenas a diversão, obras como “Os 12 Macacos” e “Gattaca” traziam retratos mais aprofundados e sóbrios sobre as angústias da humanidade na virada do século.

“Matrix”, entretanto, rompeu tudo o que fora visto até ali. As irmãs Lana e Lilly Wachowski trouxeram os conceitos mais modernos da época, mas, até então distantes para o público – ciberespaço, plugins, downloads, uploads – de forma palatável e acessível. Temores como o domínio do virtual sobre o real, de não nos reconhecermos mais como um indivíduo de vontades próprias e, sim, máquinas robotizadas misturaram-se com clássicos da literatura (“Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll; Philip K. Dick), mitologia, filosofia e até religião.

As Wachowski ainda respeitaram um fundamento básico da internet: pouco serve um discurso com reflexões complexas e importantes se a embalagem não for agradável. “Matrix” entregou os efeitos visuais mais marcantes dos últimos 30 anos do cinema. Se picaretas exauriram o bullet-time, haverá sempre Neo escapando das balas em uma sequência ainda impressionante nos dias de hoje.

Nem mesmo os decepcionantes “Reloaded” e “Revolutions” apagam o impacto de “Matrix”. Ali, nasceu a cultura pop e o cinema do século XXI.



“Ah, mas, a câmera balança muito”. “Não dá para ver nada”. “A bruxa nem aparece”. “Povo grita o tempo todo”. “Nem dá medo”.

Frases como essas são comuns sobre “A Bruxa de Blair”, filme de terror dirigido pela dupla Daniel Myrick e Eduardo Sanchéz sobre as fitas achadas mostrando um grupo de três amigos que se perde na floresta e se vê assombrado pela tal bruxa. A produção entrou para a história do cinema não por ser um grande longa do gênero (eu gosto, by the way) nem por popularizar o found footage, consagrado anos mais tarde por “Atividade Paranormal”.

Na verdade, “A Bruxa de Blair” foi uma das estratégias mais bem-sucedidas de divulgação do mundo do cinema. Tudo por ter sido a primeira a explorar o potencial da internet como um local para expandir o universo de um filme.

Exibida inicialmente no Festival de Sundance, o filme foi comprado pela Artisan Entertainment por apenas US$ 1 milhão. O primeiro golpe de mestre da distribuidora foi transformar o site da produção em uma verdadeira enciclopédia sobre a tal bruxa e a maldição da floresta. A proposta era simples: criar uma mitologia sobre a lenda e fingir que aqueles três amigos tinham, de fato desaparecido mesmo. A primeira fake news do cinema levou a página a ter mais de 20 milhões de visualizações, crescendo o interesse no projeto.

Para tornar tudo ainda mais crível, Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael Williams simplesmente sumiram. Não fizeram as coletivas de imprensa, entrevistas, nem nada para a divulgação do filme. Até mesmo um livro relatando a busca pelo trio chegou a ser feito.

Resultado: “A Bruxa de Blair” arrecadou mais de US$ 248 milhões ao redor do planeta. Ficou à frente de projetos como “Thomas Crown” com o então James Bond, Pierce Brosnan, e a animação cult “O Gigante de Ferro”. O longa quase amador de US$ 60 mil deu um tapa na cara dos grandes estúdios de Hollywood ao ser o primeiro viral do cinema na era da internet.


Você se lembra quando “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei” chegou aos cinemas?

Se você acha que faz muito tempo, saiba que esta é a mesma diferença de tempo de “O Retorno de Jedi” para a estreia de “A Ameaça Fantasma” em 1999. Imagine, então, a ansiedade dos fãs de “Star Wars” para encontrar figuras históricas como Obi-Wan Kenobi, Yoda, R2-D2, C-3PO em uma época que não se produzia um filme da série atrás do outro como atualmente.

Para melhorar, a proposta da nova trilogia era interessante demais: conhecer como Anakin Skywalker passou para o Lado Negro da Força e tornou-se Darth Vader. Nisso, conheceríamos a relação dele com o mestre Obi-Wan e como nasceram Luke e Leia. Não era bom o suficiente? Então, olha o elenco: Liam Neeson vindo do sucesso de “A Lista de Schindler”, Ewan McGregor era a sensação do cinema britânico após “Trainspotting”, Natalie Portman tinha acabado de conseguir uma indicação ao Globo de Ouro por “Em Qualquer Outro Lugar”, Samuel L. Jackson estava na grande fase da carreira com “Pulp Fiction”.

Tudo perfeito, certo?

#SQN! George Lucas transformou “A Ameaça Fantasma” em um insuportável filme político sem ritmo, arrastado e com diversas situações inúteis – nem mesmo a corrida de pods à la “Ben-Hur” era capaz de provocar um pingo de emoção. Jake Llyod não convenceu como Anakin, mas, o mico mesmo acabou com Jar Jar Binks, personagem mais IRRITANTE da galáxia. Se não fosse o bom duelo entre o Darth Maul com Obi-Wan e Qui-Gon já na parte final, o longa seria um belo sonífero.

A reação da plateia na sessão em que estava aqui em Manaus já dizia tudo: os acordes do tema de “Star Wars” nos primeiros segundos geraram gritos de entusiasmo, enquanto o silêncio dominava após o término do filme. O que era para ser o filme do ano virou a frustração de 1999.



Foi surreal.

O Oscar virou Copa do Mundo em 1999. O Brasil parou na noite de domingo, dia 21 de março, para assistir a cerimônia da Academia de Hollywood. Lá estávamos representados por “Central do Brasil” em Melhor Filme Estrangeiro e Fernanda Montenegro em Melhor Atriz. A história, entretanto, começara um ano antes.

Berlim, 22 de fevereiro.

“Central do Brasil” leva o Urso de Ouro, prêmio máximo do Festival de Berlim. Os concorrentes? “Jackie Brown”, de Quentin Tarantino, “O Lutador”, de Jim Sheridan, “O Grande Lebowski“, de Joel e Ethan Coen, “Mera Coincidência”, de Barry Levinson, e “Gênio Indomável”, de Gus Van Sant. A conquista já dava uma dimensão do tamanho do longa dirigido por Walter Salles. Fernanda Montenegro também saiu premiada com a estatueta de Melhor Atriz.

A partir dali, inicia-se uma trajetória repleta de prêmios: Argentina, Canadá, Espanha, Cuba, Itália. A temporada de premiações chega nos EUA com uma surpresa: Fernanda Montenegro é eleita a Melhor Atriz do ano pela tradicional National Board of Review. Indicações ao Spirit Awards, Satellite Awards consolidam o filme e eis que chega o Globo de Ouro:

Mas (ah, maldito mas), havia um italiano. Roberto Benigni encarnou o Paolo Rossi do cinema brasileiro e o drama “A Vida é Bela” conquistou Hollywood como raramente um filme de língua não-inglesa havia feito.

“Central do Brasil” ganha força ao vencer o Bafta, mas, a indicação da produção europeia à categoria de Melhor Filme junto com pesos-pesados como “O Resgate do Soldado Ryan” e “Shakespeare Apaixonado” praticamente acaba com as nossas chances. Sophia Loren no palco para anunciar o prêmio de Filme Estrangeiro era a senha: perdemos.

Restou Fernanda Montenegro em Melhor Atriz. Apesar de ser a melhor atuação sem sombra de dúvidas, a tarefa era impossível: como derrotar estrelas jovens e veteranas de Hollywood? Sobrou para Gwyneth Paltrow, coitada, carregar o ranço de brasileiros ao longo dos anos por “roubar” a estatueta da dama do teatro nacional.

Já fazem 20 anos desde a última indicação de uma produção brasileira a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar. Nosso cinema não é melhor, muito menos pior por causa disso. Mas, o gostinho amargo de “Central do Brasil” não ter ganho, este segue até hoje.


A cerimônia de 1999 é a mais controversa dos últimos 30 anos.

Apesar da concorrência ser forte (o que foi a vitória de “Crash” em 2005? Ou o “O Discurso do Rei” em 2010?), é impressionante como um filme apenas razoável saiu vencedor do Oscar. Tudo bem que o ano não era dos mais fortes, porém, “Shakespeare Apaixonado” ser eleito Melhor Filme na competição contra “O Resgate do Soldado Ryan” parece piada.

O resultado se explica graças a um sujeito odiado atualmente: Harvey Weinstein.

Em 1999, o executivo da Miramax era Deus em Hollywood com o crescimento do estúdio após os sucessos do parça Quentin Tarantino e de campanhas anteriores bem-sucedidas no prêmio da Academia. E para “Shakespeare Apaixonado”, ele moveu uma artilharia pesada jamais vista, segundo artigo publicado pela Vanity Fair.

Telefonemas diários para membros da entidade, corpo a corpo com os votantes, participações das estrelas em festas e eventos até campanha difamatória contra “O Resgate do Soldado Ryan” dizendo que o longa de Spielberg era apenas os 15 minutos iniciais e mais nada. Weinstein chegou a violar regras da Academia ao promover festas em Nova York. Apelou também para o narcisismo da própria entidade em ver obras com atores e escritores de heróis.

Sem dúvida, a vitória de “Shakespeare Apaixonado” em Melhor Filme e Gwyneth Paltrow em Melhor Atriz foi o auge do poder de Harvey Weinstein em Hollywood.


Faltavam dois anos para Stanley Kubrick ver o que 2001 aguardava para a humanidade. O gênio do cinema, entretanto, partiu antes disso: no dia 7 de março de 1999, ele nos deixou aos 70 anos de idade. A morte, porém, não significava o fim da carreira do britânico.

Kubrick morreu quando ainda finalizava “De Olhos Bem Fechados”, drama familiar estrelado pelo então casal Nicole Kidman e Tom Cruise. A produção seria o primeiro longa do diretor em 12 anos desde “Nascido Para Matar” (1987). Como não poderia deixar de ser, polêmicas não faltavam nos bastidores: o astro de “Top Gun” teria repetido a mesma cena mais de 100 vezes, as sequências de sexo explícito estavam pesadas demais, o próprio teor sexual da produção poderia chocar muita gente, o isolamento e o perfeccionismo de Kubrick estariam no limite…

A estreia de “De Olhos Bem Fechados” no dia 3 de setembro dividiu opiniões: parte da crítica considerou a obra abaixo da filmografia do cineasta com muita polêmica para tão pouco, enquanto a outra parte abraçou o projeto destacando as ótimas atuações de Cruise e Kidman. Hoje, o projeto virou um tesouro cult para cinéfilos do mundo inteiro.

Se nunca poderemos ver a versão de “A.I – Inteligência Artificial” sonhada pelo diretor por tantos anos, Stanley Kubrick foi o cineasta que passeou pelos mais diversos gêneros com uma propriedade capaz de redefinir cada um deles, especialmente, na ficção científica com “2001 – Uma Odisseia no Espaço“. Gênio.


Bruce Willis vinha do sucesso da trilogia “Duro de Matar“, “Armageddon”, “O Quinto Elemento”, “Pulp Fiction” e “Os 12 Macacos”. Nem mesmo fracassos como “O Chacal” e “Nova York Sitiada” abalavam a imagem do grande astro de ação de Hollywood ao lado de Arnold Schwarzenegger. “O Sexto Sentido”, porém, era bem diferente do que o ator estava acostumado.

Orçamento baixo para os padrões americanos (US$ 40 milhões), sem cenas de ação ou pancadaria e o terceiro filme de um diretor/roteirista pouco conhecido de origem indiana. O parceiro de cena do ator não seria Samuel L. Jackson, Ben Affleck, Brad Pitt ou Milla Jovovich e sim um menino com pouco mais de 10 anos de idade chamado Haley Joel Osment.

A expectativa é que fosse um sucesso típico do cinema de terror: barato, lucrativo e esquecível. “O Sexto Sentido”, porém, derrubou qualquer prognóstico: seis semanas na liderança das bilheterias dos EUA, arrecadação mundial de US$ 672 milhões, críticas elogiosas, repercussão entre o público impressionante e até seis indicações ao Oscar 2000.

Nada mais do que merecido: o suspense sobrenatural é uma das construções mais engenhosas do gênero pela simplicidade de saber contar uma boa história aliada a ótimas atuações e um domínio técnico de M. Night Shyamalan de fazer grandes cenas de terror. E, claro, com um final espetacular.


20 de abril de 1999. Eric Harris e Dylan Klebold chegam a Columbine High School e atiram contra os colegas de classe, professores e funcionários do local. O massacre deixa 15 mortos, entre eles, os dois assassinos. As cenas com a dupla vestida de preto e fortemente armados fizeram muita gente associar as imagens a “Matrix”, lançado nos cinemas mundiais semanas antes da tragédia.

Novamente, a discussão sobre a influência negativa que filmes violentos tem sobre jovens volta a ganhar espaço na sociedade. Em determinados momentos, o debate chegou a ter a mesma importância que a discussão sobre a facilidade com que armas e munições são adquiridas nos EUA e a cultura da violência vista todos os dias.

“Clube da Luta” chegou aos cinemas mundiais ainda no impacto da tragédia de Columbine e não demorou muito para ganhar fama negativa de glorificar a violência. A estreia no topo das bilheterias dos EUA enganou e o longa foi despencando semana após semana; terminou com arrecadação mundial de US$ 100 milhões, número baixo para um projeto estrelado por Brad Pitt. No Brasil, a situação ficou ainda pior após um estudante de medicina atirar contra os espectadores de uma sessão do filme no Morumbi Shopping, em São Paulo. Três pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas.

Quem se permitiu assistir, sabe o quanto “Clube da Luta” critica a violência e o consumismo desenfreado, além de apontar a falta de afeto e o niilismo da sociedade atual. Talvez a anarquia e ruptura proposta por David Fincher fosse (e continue sendo) radical demais para o público médio.

Como ponto positivo, além de ser um filmaço, “Clube da Luta” marca o auge da carreira de Edward Norton que, no mesmo ano, teve o desempenho da vida no subestimado “A Outra História Americana”.


Terrence Malick comandou dois filmes marcantes nos anos 1970: “Terra de Ninguém” (1973) e “Cinzas do Paraíso” (1978). Ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes, foi indicado ao Oscar, representou a era da Nova Hollywood e sumiu.

O desaparecimento – há quem diga que só uma foto dele foi feita durante o período – criou uma aura mítica em torno do cineasta. O retorno dele às telonas virou lenda, pois, nunca se sabia se realmente ocorreria. Porém, quando soube-se do plano de um novo filme, Hollywood entrou em polvorosa.

Todos os grandes atores da época estavam dispostos a participar do novo Terrence Malick. Qual era o tema do filme? Pouco importava; o fundamental era estar no projeto. Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Nicolas Cage, Kevin Costner e tantos outros se colocaram de prontidão. No fim das contas, “Além da Linha Vermelha” trouxe gente do naipe de George Clooney, John Travolta, Adrien Brody, Woody Harrelson, Jim Caviezel e Sean Penn.

Apesar da concorrência direta com “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, lançado meses antes, “Além da Linha Vermelha” se saiu bem junto aos críticos e conquistou sete indicações ao Oscar. Para nossa sorte, Malick não parou mais e sete filmes desde lá, incluindo, a obra-prima “A Árvore da Vida”.


“O projeto mais ambicioso do cinema nacional”.

Era assim que a finada revista SET anunciava uma visita aos bastidores de “Chatô – O Rei do Brasil“. A produção de Guilherme Fontes nascia no período em que o cinema nacional estava na moda graças à Retomada e três indicações em quatro anos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Baseado no livro do jornalista Fernando Morais, o longa tinha como missão ser uma cinebiografia fora do tradicional de Assis Chateaubriand, pioneiro da televisão no Brasil.

Com gravações no Rio de Janeiro e Nordeste, “Chatô”, segundo Fontes, pretendia ser uma espécie de “Forrest Gump” brasileiro pelo tamanho da produção. Além do filme, a proposta era entregar uma série documental de sete capítulos para TV Paga, fita de vídeo e uma série para a TV aberta. Tudo com o apoio do padrinho Francis Ford Coppola, diretor da trilogia “O Poderoso Chefão”. A megalomania também estava na produção: lanchas, helicópteros, atores de primeiro escalão como Marco Ricca, Andréa Beltrão, Letícia Sabatella. Orçamento? R$ 12 milhões.

O Cidadão Kane nacional, entretanto, naufragou. Fontes não conseguiu captar todo o dinheiro previsto no orçamento, mas, não poupou grana e gastou tudo o que podia e não podia. Dois meses depois do início das gravações, em março de 1999, tudo foi interrompido e uma investigação na Comissão de Valores Mobiliários foi instalada para apurar supostas irregularidades no dinheiro captado. Em agosto de 2001, a produção foi despejada do estúdio e até incêndio no figurino teve em 2003.

Após brigas judiciais e muita polêmica, “Chatô – O Rei do Brasil”, finalmente, viu a luz do dia ao estrear nos cinemas em novembro de 2015.


Ok, Wes Anderson já tinha feito “Pura Adrenalina” em 1996, mas, o mundo conheceu, de fato, o talento deste texano três anos depois com a chegada de “Três é Demais” aos cinemas mundiais. Afinal de contas, o projeto marca a primeira parceria com Bill Murray, a encarnação perfeita do humor melancólico e sarcástico do cineasta. Obra deliciosa que já dava indícios de um futuro ainda maior pela frente.

Antes de fazer produções com orçamentos milionários e repleta de estrelas de Hollywood, Christopher Nolan fazia projetos menores e de narrativas até mais ousadas. Filmado em preto e branco, “Following” dá indícios do que veremos mais bem aprofundado em “Amnésia”: uma narrativa não-linear a partir de uma montagem cheia de experimentações.

Bebendo da fonte de “Trainspotting”, Guy Ritchie estreava na direção e roteiro de longas-metragens com “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”. Pena ele nunca ter repetido tal nível de excelência e descontração no resto da carreira. Por fim, Doug Liman foi descoberto com o divertido e pouco lembrado “Vamos Nessa” ao lado de Katie Holmes. A produção abriu portas para comandar blockbusters como “A Identidade Bourne”, “Sr. e Sra. Smith” e “No Limite do Amanhã“.


Em janeiro de 1999, os cinemas brasileiros receberam uma das ideias mais ridículas já feitas em Hollywood: remake de “Psicose” em cores. Vindo do sucesso de “Gênio Indomável”, Gus Van Sant justificava a realização do projeto como uma homenagem em forma de réplica, ou seja, respeitar o material original, fazendo tudo ao mesmo modo, fotograma por fotograma. Para a missão, o cineasta contou com nomes pouco conhecidos até então: Vince Vaughn, Julianne Moore, Viggo Mortensen, Anne Heche. William H. Macy, de “Fargo“, e o lendário Robert Foster eram as figuras mais conhecidas.

Com um pouquinho mais sangue e conotações sexuais, “Psicose”, de fato, é uma réplica, xerox, cópia (seja lá o que você queira chamar) da obra-prima de Alfred Hitchcock. O que só aumenta a força da seguinte pergunta: para quê mesmo?

“Psicose” não ficou sozinho na lista de bombas de 1999: “As Loucas Aventuras de James West” abusou dos efeitos especiais e de Will Smith sem graça, “Armadilha” foi tão patético que deve ter feito Sean Connery começar a pensar seriamente na aposentadoria, “A Casa Amaldiçoada” já era um indicativo do futuro de Liam Neeson, “Zoando na TV” virou um clássico da tosquice assim como “As Aventuras de Zico”.

Para completar, Adam Sandler teve um ano inesquecível com os sucessos de “Afinado no Amor”, “O Rei da Água” e “O Paizão”. Criamos um monstro e não sabíamos.


Bombas à parte, a safra de lançamentos de 1999 foi uma das melhores em reunir bons/ótimos filmes com forte apelo popular. Comédias românticas queridas do público como “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Mensagem Para Você” e “Noiva em Fuga” surgiram naquele ano. O suspense também foi contemplado com “O Mistério da Rua Arlington”, “Vidas em Jogo” e “Inimigo do Estado”. Já os adolescentes se divertiram com “Segundas Intenções”, “10 Coisas que Odeio em Você” e “American Pie”.

Faz a linha mais cult? Não tem problemas: Pedro Almodóvar lançou “Tudo Sobre Minha Mãe”, os irmãos Dardenne chegaram com “Rosetta”, Woody Allen fez “Desconstruindo Harry”, a Alemanha arrasou com “Corra Lola, Corra” e ainda teve espaço para o fofinho “A Vida em Preto e Branco”.

Para quem curte comédia, Jim Carrey arrasou com “O Mundo de Andy”, Mike Myers trouxe “Austin Powers – O Agente ‘Bond’ de Cama” (pior título da história) e “Os Picaretas”, último trabalho digno de Eddie Murphy. Por fim, a animação teve o clássico “O Gigante de Ferro” e o ótimo “Toy Story 2”.

Quem dera tivéssemos tanta coisa boa assim em um único ano…