Em “Make Up”, uma mudança para a costa da Cornualha vira um grande problema quando o ciúme de uma garota se transforma em obsessão. A estreia de Claire Oakley na direção é um estudo inovador sobre o funcionamento interno do desejo e sua atmosfera sombria pede o tratamento de exibição naquelas sessões da meia-noite.
Ruth (Molly Windsor), de 18 anos, decide morar com seu namorado Tom (Joseph Quinn), que vive e trabalha em um refúgio remoto. Ela se sente deslocada desde o início e a distância entre ela e seu namorado começa a crescer. Não muito tempo depois, ela passa a encontrar fios de cabelos – vívidos, vermelho brilhante – em pontos comprometedores entre as roupas de Tom, gerando desconfianças cada vez maiores.
Ciumenta, ela começa a pensar que a impetuosa Jade (Stefanie Martini), outra funcionária do retiro, é a culpada e tenta estabelecer um relacionamento com ela para investigar o assunto mais a fundo. O que se segue é uma toca de coelho psicossexual, onde nada é o que parece e o mais assustador é a verdadeira natureza de uma pessoa.
SEM ESCAPATÓRIA
O roteiro, escrito por Oakley, está muito interessado em como a sexualidade pode tirar o melhor de nós quando menos esperamos e como estamos inevitavelmente presos a ela. Em sua angústia excitada, Ruth começa a ver coisas que podem ou não estar lá e sua experiência da realidade torna-se sua própria camisa de força – para a qual ela busca desesperadamente uma chave.
Nesse contexto, os elementos do filme tornam-se altamente simbólicos. O mar, uma força da natureza da qual Ruth tem medo, é algo a ser superado. A ruiva é o bode expiatório de suas obsessões. E as mudanças visuais fornecidas por Jade são um sinal da confiança que ela deseja ter – e pode ser apenas dela se ela for corajosa o suficiente. Como título, “Make Up” (“Maquiagem”, em tradução literal) aponta para os produtos que ela começa a usar para se sentir bem e sua forma de processar o ambiente.
De tantas produções queer tingidas de rosa lançadas recentemente, “Make Up” merece crédito por lidar com o oposto tonal. É o pavor absoluto de um despertar sexual confuso, especialmente em um ambiente que não parece envolvente. Ruth sabe que Jade tem uma má reputação por ser gay, mas, no final das contas, o coração quer o que quer e ela não vê escapatória.
A decisão de fazer as voltas e reviravoltas da mente de sua protagonista guiar a narrativa torna o filme sinuoso, o que significa que, mesmo em 86 minutos rápidos, ele se alongue em alguns momentos. Ainda assim, ao sondar ferozmente a autodescoberta de uma garota, “Make Up” mostra que, em uma noite escura da alma, revelar-se a si mesmo pode ser sua própria fonte de horror.