Depois de surpreender com uma narrativa envolvente no longa de estreia em “Martha Marcy Mae Marlene”, Sean Durkin retorna nove anos depois com “The Nest” (“O Ninho”, em tradução literal). Acompanhado de atuações excelentes de Carrie Coon e Jude Law, ele traz o conceito da casa mal assombrada dos filmes de terror para dentro de um drama familiar de extrema elegância e com uma pitada de cinismo. O resultado pode até não ser tão espetacular como chega a insinuar, mas, guarda momentos impagáveis.
“The Nest” se passa nos anos 1980 e inicia com o desejo do empresário britânico, Rory O´Hara (Jude Law), em retornar à terra natal após passar 10 anos nos EUA. Apesar da resistência inicial da esposa Allison (Carrie Coon), a família, composta ainda por dois filhos, se muda para o Reino Unido. Sempre disposto a gastar mais do que possui e ambicioso ao extremo, Rory decide alugar uma mansão gigantesca nos arredores de Londres e chega disposto a transformar o antigo trabalho com a venda da empresa para magnatas norte-americanos. Porém, à medida em que os planos começam a dar errado, a vida de todos os quatro começa a desandar rumo a um fracasso fragoroso.
Durkin se mostra, novamente, um cineasta habilidoso na construção da atmosfera que envolve os personagens. Em “The Nest”, a casa se torna tão importante quanto à família, pois, o ambiente se torna um reflexo das relações entre seus moradores. Enquanto vivem na acolhedora residência de Nova York, nota-se a família mais próxima e íntima ainda que a inquietude de Rory esteja presente nos momentos de solidão. Já em Surrey, a imensidão da mansão afasta seus moradores, afundados em seus próprios universos particulares.
A direção de fotografia do húngaro Mátyás Erdély propõe a escuridão como um estado de espírito dos quatro habitantes deste local que, definitivamente, não é um ninho. Além disso, a câmera sempre com movimentos elegantes sustenta esta aparência de falsa estabilidade do mundo de aparências.
INSUNTENTÁVEL REALIDADE
Para personificar essa construção, Durkin conta com dois atores em alto nível. Apesar de não ser nenhuma novidade vê-lo esbanjar todo o seu charme e lábia de um bom conquistador em cena, Jude Law adiciona uma pitada melancólica a Rory. Afinal, o empresário tão elogiado por seu ímpeto sem freio para avançar nos negócios demonstra um descontrole assustador nos gastos excessivos e desnecessários. Para sustentar isso, mentiras se tornam uma necessidade e as razões disso revelam-se gradualmente com a imagem de segurança vendida para os seus pares sendo trocada pela de um sujeito castigado por uma ambição sem propósito.
O filme, entretanto, é de Carrie Coon. Conhecida pela subestimada “The Leftovers”, a atriz faz o contraponto ideal a Jude Law. Diferente do marido, Allison está sempre com os pés no chão ainda que acabe sendo sufocada pelos impulsos de Rory, o dono da grana da família.
Diante deste contexto machista, ela se vê sempre atingida pela persona criada pelo empresário repleta de mentiras – a descoberta de como se deu os bastidores do retorno para Londres rende o melhor momento de “The Nest”. Evidente que essa situação insustentável irá explodir e Coon hipnotiza em todos estes momentos.
De “O Anjo Exterminador” a “Beleza Americana”, o mundo de mentiras, aparências e as pressões impostas pela elite capitalista de um querer desmedido são temas rotineiros no cinema. “The Nest” não foge muito disso, mas, consegue através da habilidade de Durkin em compreender os elementos formadores deste universo e do talento dos seus protagonistas ser uma obra capaz de se destacar.