Mãe e filha. 20 anos de convivência emocional e de ausência física. Reconfigurando afetos, Gustavo Rosa de Moura traz aos cinemas em “Ela e Eu” uma história forte, importante e comovente sobre novas e velhas formas de amar com Andrea Beltrão fazendo uma personagem do alto de suas décadas de experiência como atriz que, talvez, a tenha levado para um novo limite na sua já grande capacidade artística.

Beltrão vive Bia, uma mãe que, durante o parto da filha (Lara Tremouroux), entra em coma e assim permanece por 20 anos. Até o dia em que acorda e, para além da comoção da filha que sempre sonhou com o dia em que a mãe acordasse, precisa lidar com o ex-marido (Du Moscovis) e a atual esposa dela (Mariana Lima). No melhor contexto de um melodrama, com a música dando os tons da melancolia e euforia dessa família, “Ela e Eu” apreende a atenção por completo. A doação dos atores, a sensível direção e, em especial, o percurso da adaptação da segunda mãe a rotina daquelas pessoas despertas, faz rir e chorar.

Por e apesar da pandemia, o processo de escrita de “Ela e Eu” levou bons meses entre videochamadas e encontros periódicos de Gustavo, Léo Levis e Andrea Beltrão – que assina o roteiro junto com a dupla.

voar rumo ao desconhecido

Beltrão, seja com Lara, Moscovis e especialmente nas cenas com a grande Karine Teles, que aqui vive sua cuidadora, enche de verdade e vida cada frame que sua Bia habita. “Ela e Eu” é sobre recomeços, aprendizados, paciência e zelo, mas também sobre se permitir voar rumo ao desconhecido.  

O embate entre a nova mulher e o ex-marido de Bia, por conta do caótico ambiente familiar cheio de post-its ou mesmo a forma com que a filha vai abrindo mão de seus planos para estar com a mãe, ensiná-la a falar, comer e andar, são dois reflexos da presença daquela mulher tão alquebrada quanto luminosa. Beltrão se supera no trabalho corporal, vocal e nas poucas palavras que interpreta, dizendo tanto com gestuais e olhares.

A cena em que canta e dança uma música da antiga banda ou quando toma uma cervejinha observando o pôr do sol, são arrebatadoras. “Ela e Eu” ainda se utiliza da canção homônima de Chico Buarque para dar pistas de como a história dessas pessoas ligadas pelo amor, se encerra e se reinicia. 

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