Quando anunciou os indicados ao Oscar em 2023, o ator e cineasta Riz Ahmed (“O Som do Silêncio”) não conteve o riso ao anunciar “My Year of Dicks” na categoria melhor curta de animação. Mas apesar do título evocativo, o filme de Sara Gunnarsdottir não é profundamente cômico – ele que é uma adaptação espirituosa da obra “Notes to Boys: And Other Things I Shouldn’t Share in Public”, de Pamela Ribon.   

Roteirista de grandes filmes de sucesso como “Detona Ralph” e “Moana”, Ribon se coloca em primeiro plano neste coming of age de volta ao passado, nos anos 1990. Entre andadas no skate, passeios no parque de diversões, idas em festinhas e conversas com o melhor amigo, Pamela via sua mente inundada por pênis e a possibilidade de perder a virgindade aos 15 anos de idade.   

Subdividindo a saga da jovem virgem grunge em cinco capítulos, “My Year of Dicks” utiliza um storytelling visual envolvente, evocando os filmes de horror (de vampiro e zumbis), o filme de arte francês da Nouvelle Vague com seus personagens transastes e até a excitação e os olhos gigantes dos mangás japoneses como Sailor Moon.   

Mas o curta psicodélico e melancólico, engraçado e lisérgico, não está indicado ao Oscar de melhor curta de animação à toa: já arrebatou prêmios importantes como no festival de Annecy e vem crescendo nas bolsas de apostas por traduzir, em distintas técnicas de animação, as complexas ações e emoções ao mesmo tempo que a fantasia romântica de uma adolescente. 

CONEXÃO ENTRE MENINOS E MENINAS 

A protagonista é uma jovem moradora do subúrbio de Houston, Texas, cuja jornada emocional traduz um female gaze, um olhar feminino que, antes de ser necessariamente apenas uma questão de enfoque narrativo e concepção que rompe com o cinema clássico, traduz emocionalmente uma transição pelo tempo de como colocar tantos sentimentos em uma narrativa sobre o que é crescer como mulher.  

Pamela diz ter feito o filme “para tirar da minha mente um pouco esse tema”, mas a direção de Sarah faz esta adaptação como uma viagem insólita pelas memórias da mente da escritora aos 15. Por mais que não vejamos tantos pênis assim ao longo de “My Year of Dicks”, os meninos seguem sendo babacas, ao mesmo tempo em que entendem o que querem e o significado de crescer como homens, trazendo um toque de sensibilidade ao curta.   

E por mais clichê de comedia romântica adolescente que seja transar com o melhor amigo, tudo flui naturalmente, sem forçação de barra. Pamela disse, em uma conversa transmitida no YouTube com a atriz Martha Kelly, que ela e Sarah se conectaram ao analisar capítulos específicos na adolescência, onde tudo tinha importância pra ambas. E “My Year of Dicks” consegue conectar meninos e meninas, pois, expressa cada emoção adolescente em sua montanha russa de sentimentos, em especial, o corpo feminino e as sensações que usufrui pela proximidade de ter a primeira relação sexual, seja o temor ou a euforia.