Misturar elementos da cultura pop e do cinema hollywoodiano com as lendas e crenças da Amazônia formam a base de “Raimundo Quintela – O Caçador Vira Porco”, curta-metragem paraense dirigido por Robson Fonseca. Vencedor de três categorias da mostra competitiva do Festival Olhar do Norte 2020 (Melhor Direção de Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Som), a produção serve mais como um aperitivo do que pode ser explorado dentro daquele universo fantástico em uma possível série ou longa-metragem do que necessariamente uma obra capaz de bastar por si própria.
No melhor estilo Sherlock Holmes/Watson, “Raimundo Quintela – O Caçador Vira Porco” acompanha o personagem-título (Paulo Marat), um detetive de eventos sobrenaturais da região amazônica. Ao lado do fiel escudeiro, o motorista de táxi Nairton (Francisco Gaspar), ele tenta desvendar o mistério da morte de animais e descobre lidar com a perigosa Matinta Pereira.
Sem esconder as suas referências a filmes hollywoodianos como “Indiana Jones”, o curta paraense alia o dinamismo da montagem ágil com a criação de um universo mágico. No primeiro aspecto, se a rapidez da trama acaba por impedir o desenvolvimento ideal dos personagens, por outro lado, faz o filme nunca perder o foco na ação, mantendo a atenção do público até o final.
Quanto à parte técnica, a direção de arte de Jeff Cecim se destaca pelo grau de detalhismo, especialmente, no carro de Nairton, onde toda aquela parafernalha por cima do painel consegue acrescentar tons cômicos à aventura ao salientar os receios do escudeiro de Raimundo Quintela. O figurino do protagonista e a direção de fotografia completam esta construção visual praticamente impecável.
ROTEIRO BATE NA TRAVE
Pena que o curta não consiga equilibrar a excelência da técnica com um roteiro mais bem finalizado. Isso fica claro com próprio protagonista: por mais que Paulo Marat tente, falta carisma ao personagem para que se crie algum tipo de vínculo e possamos torcer por ele, algo fundamental para qualquer filme de aventura.
Sisudo e sempre em estado de alerta, o herói não possui charme ou bom humor e não dá para dizer que é um ás da inteligência humana perto de outros detetives já visto nos cinemas, o que poderia ajudar a, pelo menos, a gerar um elo pela admiração. Por outro lado, o motorista Nairton acaba roubando a cena ao ser o alívio cômico com seu jeito fogoso e medroso. Sorte de Francisco Gaspar que aproveita cada segundo.
“Raimundo Quintela – O Caçador Vira Porco”, apesar destes problemas de roteiro, mostra-se mais uma bem-vinda experiência de cinema de gênero na região amazônica, desta vez, na aventura. A excelência técnica da produção demonstra o quanto é possível fazer estes filmes sem dever em nada a obras de outros Estados brasileiros. E o melhor: apresentando nossas histórias e lendas com profissionais locais. Com um pouco mais de tempo para desenvolver suas histórias, Robson Fonseca pode criar algo memorável.