Detentora de inúmeros prêmios e considerada uma das maiores atrizes do cinema francês e europeu, Isabelle Huppert (“Elle”) é o tipo de artista que possui um magnetismo quase orgânico com o benefício de uma carreira marcada por interpretações sólidas. Dito isto, é certo afirmar que qualquer longa com seu nome já carrega uma grande responsabilidade e expectativa e, felizmente, ‘Frankie’ faz bom uso de seu talento também contando com um elenco à altura, faltando somente maiores oportunidades da trama explorar todo potencial de seus atores.
Co-roteirizado e dirigido por Ira Sachs (“O Amor é Estranho”), o longa acompanha a renomada atriz Frankie (Isabelle Huppert), a qual descobre ter poucos meses de vida. Para as últimas férias em família, ela decide realizar uma reunião na turística cidade de Sintra, em Portugal. Além de ser o cenário perfeito para se despedir dos familiares, a ocasião também revela o desejo de Frankie em interferir no futuro do grupo.
O filme tem como aliado diálogos precisos e extremamente relevantes para a narrativa, com muitas cenas sendo resolvidas por uma simples interpretação da conversa. Assim, apesar de não existirem muitos momentos emotivos ou grandiosos, a trama consegue chamar atenção por sua construção voltada a diálogos soltos de diferentes personagens que se interligam.
O resultado da parceria no roteiro entre Sachs e o brasileiro Mauricio Zacharias também rende ótimos momentos para Isabelle Huppert. A atriz carrega toda a dramaticidade de sua morte iminente ao mesmo tempo em que tenta passar serenidade para a família. O roteiro nos permite ainda conhecer melhor cada um dos personagens apresentados, mesmo aqueles que não possuem tanta relevância para narrativa.
Poderia ser melhor?
Existem muitos filmes que já abordaram essa temática sobre a morte ou uma doença reunir um núcleo familiar problemático, portanto, é muito difícil não fazer comparações com possíveis caminhos para ‘Frankie’. Mesmo sendo um filme regular e interessante de observar suas relações familiares, ele não busca um total aprofundamento mais complexo como ‘É Apenas o Fim do Mundo’, nem um flerte com a comédia como ‘Sete Dias Sem Fim’, pairando sobre diferentes gêneros de forma quase covarde.
Somente os diálogos e a dinâmica entre o elenco conseguem tornar válida uma segunda exibição do longa, porém, quando chegamos no desfecho, sempre fica aquela impressão de que faltou alguma coisa. Afinal, “Frankie” mostra os familiares espalhados pela cidade e, quando existe o encontro do grupo, somos novamente bombardeados por um belo cenário, mas, nesta que poderia ser uma grande cena, temos a ausência total dos ótimos diálogos, onde era possível de acontecer um clímax.
Na tentativa de unir a família mais uma vez, “Frankie”, assim como o público, logo percebe que não existem esforços suficientes para consertar as coisas como gostaria. Com o talento habitual, Isabelle Huppert pontua mais uma atuação consistente, a qual poderia ter sido brilhante caso o roteiro do longa tivesse se voltado para mais momentos mais decisivos. Assim, apesar de ser um filme facilmente assistível, é impossível não pensar no que a história poderia ter se tornado caso seu roteiro tivesse se arriscado mais.