“The White Fortress”, novo filme de Igor Drljača, é um longa multifacetado que tem a chance de seduzir diversos tipos de espectadores. Apresentado na mostra Generation 14plus do Festival de Berlim deste ano, a co-produção Bósnia e Herzegovina-Canadá é um sensível retrato de um romance juvenil em Sarajevo que capricha na atmosfera, ainda que seu ritmo possa testar a paciência do público.
Faruk (Pavle Čemerikić) é um órfão que mora com a avó doente e tenta levar a vida ajudando o tio em trabalhos braçais e fazendo pequenos serviços para Čedo (Ermin Bravo), o chefe do crime local. Como uma mostra de lealdade para o criminoso, Faruk é encarregado de cooptar meninas para um círculo de prostituição comandando por ele.
Nessa missão, o jovem conhece Mona (Sumeja Dardagan). Carinhosa, esperta e – como ele – ansiosa por quebrar as correntes de sua própria realidade, ela faz Faruk se apaixonar instantaneamente e ele decide abortar o plano. Čedo, claro, não está disposto a ceder – e o jovem se vê diante de um adversário implacável.
Ainda que a história principal de um romance adolescente malfadado não seja particularmente nova, o roteiro, escrito pelo próprio diretor, é habilidoso em explorar outras facetas dessa premissa.
Em essência, há três filmes ocorrendo simultaneamente em “The White Fortress”: um é o romance entre Faruk e Mona, outro é um drama que expõe o abismo social entre ricos e pobres na Sarajevo de hoje, e um terceiro é um conto de fadas que dá subtextos sobrenaturais ao protagonista.
RETRATOS DE UM PAÍS
Todos eles funcionam e são dignos de nota – mas o drama social é o que talvez mantenha “The White Fortress” rodando o suficiente para as outras histórias terem tração. A disparidade socioeconômica entre Faruk e Mona, que é tão impeditivo ao seu romance quanto o criminoso em seu encalço, é representativa de um país em uma encruzilhada.
Faruk, que mora em um edifício da época da Iugoslávia, passa o tempo assistindo filmes de guerra e tem uma família que parece lembrar com nostalgia da era comunista, é o arquétipo de uma Bósnia e Herzegovina ainda atrelada ao seu passado – e tentando entendê-lo.
Já Mona é fruto de uma nova elite desse país, alinhada aos valores liberais ocidentais, habitante de condomínios de luxo e desejosa de conquistar espaços políticos. O fato dela falar inglês e estar com uma transferência para o Canadá acertada contrasta com a realidade daqueles que estão vendendo o almoço para a comprar a janta, como Faruk.
Quando “The White Fortress” dá uma guinada para o cinema fantástico em seu desfecho, ele confunde e encanta em igual medida. Ele claramente quer muitas coisas de uma só vez, mas a ousadia o mantém consistentemente interessante. Nota-se que Drljača tem visão de sobra. Apoiado em uma incrível performance de Čemerikić, o diretor cria um filme híbrido e envolvente.