O céu, escadas, pontes, um rio, pessoas andando, cachorros e muito, mas muito futebol. Essas são algumas das coisas que os espectadores de “What Do We See When We Look in the Sky?” têm a chance de ver por longos períodos de tempo durante o filme, que estreou na mostra na mostra competitiva da Berlinale deste ano. A co-produção Geórgia-Alemanha mistura realismo fantástico e estética documental em um filme que é mais envolvente de ser discutido do que visto.

A princípio, o filme conta a história de Lisa (Oliko Barbakadze) e Giorgi (Giorgi Ambroladze) que depois de se esbarrarem duas vezes no mesmo dia, combinam um encontro para o dia seguinte. Porém, por conta de uma maldição, eles acordam na data do encontro com uma aparência completamente diferente, sem seus talentos natos e, portanto, impedidos de se reencontrarem.

Lisa e Giorgi (agora interpretados por Ani Karseladze e Giorgi Bochorishvili, respectivamente), são obrigados a deixar seus empregos devido aos seus novos aspectos e têm que se adaptar a uma vida nova. Eventualmente, um negociante local (Vakhtang Panchulidze) os emprega e o filme os acompanha enquanto sonham com o seu reencontro, ignorantes do fato de estarem tão próximos.

Através da história do casal, o diretor Alexandre Koberidze cria um conto de fadas atemporal, que bebe da idiossincrasia da Nouvelle Vague, do cinema documental dos anos 1970 e da fantasia do Cáucaso para criar uma mistura única.

Koberidze, que também marcou presença na Berlinale como o astro de “Bloodsuckers“, novo filme de Julian Radlmaier, assina um roteiro encantado com as minúcias da vida. Juntamente com o diretor de fotografia Faraz Fesharaki, ele cria imagens que remontam memórias antigas, com um incrível posicionamento de câmera e uso de cor. 

LONGOS 150 MINUTOS

A pedra no sapato do cineasta é que a natureza múltipla de seus interesses falha em criar um todo que faça sentido e prenda a atenção do espectador. Enquanto os protagonistas não se encontram, “What Do We See When We Look in the Sky?” acompanha uma equipe de filmagens em busca de casais para um projeto audiovisual, bem como a vida dos cachorros da cidade, vários factóides da história local (que podem ser reais ou não) e longuíssimas sequências de futebol.

Em conjunto, esses constantes desvios narrativos testam a paciência do público, principalmente levando em consideração os robustos 150 minutos de duração do longa. Conforme mais e mais elementos são adicionados ao filme, o ar de mistério da trama vai dando lugar à exaustão.

Ao invés de apostar em uma história de amor clássica, o diretor convida o público a olhar ao redor e ver a magia da vida cotidiana – em si, um objetivo nobre. O cinema, de certa forma, é uma reflexão sobre o olhar e sobre como é possível enxergar as coisas de forma diferente. O problema de “What Do We See When We Look at the Sky?” é frustrar quem quer ver algo ao insistir em mostrar tudo. 

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