O audiovisual amazonense começa 2024 com a perspectiva de ter um dos seus anos mais importantes e repletos de perspectivas. Muito disso se deve à injeção financeira proporcionada pela Lei Paulo Gustavo, a qual irá financiar centenas de projetos ligados ao setor na capital e interior do Estado. 

O ano ainda promete a chegada do mais novo longa-metragem amazonense ao circuito de festivais e comercial, a retomada de um curso de Ensino Superior para o audiovisual e a decisiva eleição municipal.

O Cine Set reúne aqui 10 pontos para você ficar de olho: 

1. O Novo Cinema do Casarão de Ideias 

Espaço fundamental de diversidade de títulos em cartaz em Manaus e de destaque para a produção brasileira, o Casarão de Ideias ganha nova configuração em 2024. A sala atual será adaptada para atender critérios de acessibilidade e ainda passará por melhorias acústicas. A grande novidade mesmo fica por conta da segunda sala: mais moderno, o espaço contará com cadeiras semelhantes aos complexos de shopping, venda de ingressos online e DCP, sistema que permitirá que o local exiba os mais diversos tipos de filmes, inclusive, as superproduções de Hollywood. A previsão é que tudo esteja pronto até o primeiro semestre deste ano. 

2. Retorno do Cinema de Itacoatiara 

Fechado desde a pandemia da Covid-19, o Cine Dib Barbosa deve retornar em Itacoatiara. O histórico cinema de rua da cidade distante 270 quilômetros de Manaus foi contemplado no edital da Lei Paulo Gustavo executado pelo Governo do Amazonas. A estimativa é que tudo fique pronto até o fim do ano. 

3. Longas-Metragens em Profusão 

Muitos filmes devem sair do papel em 2024. Bernardo Abinader, por exemplo, começa os preparativos para o longa-metragem de “O Barco e o Rio”. O projeto expande o curta ganhador de cinco Kikitos no Festival de Gramado 2020. “Obeso Mórbido”, de Diego Bauer e Ricardo Manjaro, também segue o mesmo processo.  

Flávia Abtibol contará a história do Parque das Tribos, bairro primeiro bairro indígena de Manaus. As diretoras Ana Lígia Pimentel e Elen Linth também produzirão novos documentários. 

Diretor de A Floresta de Jonathas e “A Terra Negra dos Kawá”, Sérgio Andrade se aventura pela animação em “Iluminação”. A produtora Petit Fabrik levará às telonas a personagem Lupita, conhecida da série de televisão. E ainda tem a versão para longa “Adeus, Querido Mandí”, da Rizoma Produção. 

O interior do Estado também entra em cena com filmes em Iranduba (“Bodó com Farinha – Sabores e Saberes” e “Quando Acreditar”), Presidente Figueiredo (“O Silêncio dos Kinã”) e Manacapuru (“Airumã: Um encontro nas estrelas”).  

A produção de curtas será ainda mais intensa com novos filmes previstos de cineastas como Rafael Ramos, Anderson Mendes, Izis Negreiros, Arnaldo Barreto, Zeudi Souza, Max Michel, Sofia Sahakian, Luny Tota, Bruno Pereira, George Augusto, Antonio Carlos Jr.  

E ainda tem os projetos em desenvolvimento para longas e curtas do Ateliê 23 (“Belinho”), Formiga de Fogo Filmes, Maria do Rio Negro (“Serena Sereno”), Victor Kaleb (“Rio Negro”), Diego Bauer (“Enterrado no Quintal”), Rod Castro (“Um Tom de Cinema”), Marcos Tupinambá (“O Bagre, A Menina e o Rio”), Franklin Thompson (“Redescobrindo Manaus”), entre tantos e tantos outros. 

Enfim, um ano para entrar na história do cinema amazonense. 

4. FESTIVAIS E CINECLUBISMO FORTES 

Foto: Robert Coelho / Olhar do Norte 2023

Dois dos principais eventos de cinema em Manaus, o Festival Olhar do Norte e o Matapi – Mercado Audiovisual do Norte deverão ter as maiores edições de suas histórias. Ambos foram contemplados nos editais da Lei Paulo Gustavo, o que permite investimentos superiores para a execução deles. Outras novidades serão o 1º Close – Festival de Cinema LGBTQIAPN+ e o Amazônia CineSol. 

O cineclubismo no Amazonas também ganha impulso em 2024: para além do tradicional Cine & Vídeo Tarumã, na Universidade Federal do Amazonas, haverá também o Cinekuma, Cineclube Cultural Maués e Cineclube Ribeirinho II. 

Por fim, projetos de salas de cinema de rua itinerantes serão lançados em Manaus, entre eles, o Cine Aldeira, o Tupé: Arte, Cultura e Meio Ambiente, o Cine Circo, Cine Vagalume, entre outros. 

5. AUDIOVISUAL PARA LER 

Fechando as principais novidades provenientes da Lei Paulo Gustavo no Amazonas, a pesquisa e literatura sobre cinema no Amazonas irá ganhar reforço em 2024. Estão previstos livros e/ou e-books escritos por Allan Gomes (“Cinema e consumo na Manaus do início do século XX”), Lídia Ferreira (“A imagem e o imaginário amazônico no Cinema Brasileiro de Ficção”), Adriele Albuquerque (“Mulheres em Cena – As Crews de BGirls no Amazonas”) e também do Cine Set (“Cine Set e a Crítica Cinematográfica no Amazonas – Um Novo Capítulo”). 

6. RETOMADA DO ENSINO NA UEA 

Que a produção é essencial não se discute, mas, o cinema também necessita do campo da formação. Por isso, a retomada do curso de audiovisual na Universidade do Estado do Amazonas após seis anos da formação da última turma é fundamental para a geração de uma leva de novos profissionais capazes de elevar ainda mais o nível do setor, fora todas as discussões, projetos de extensão e pesquisas que podem ser trabalhados no âmbito acadêmico.  

Manaus ainda terá cursos livres como o fundamental OPA! – Oficina de Produção Audiovisual do Museu Amazônico, ministrado pelo Thiago Morais.  

Já a Lei Paulo Gustavo contemplou propostas de cursos como “Demarcando Telas”: Capacitação de Jovens Indígenas em Audiovisual” a ser realizado em São Gabriel da Cachoeira, “Demarcar a Tela: Formação Audiovisual Indígena”, de Brener Neves, um curso de cinema para a zona ribeira da capital de Bernardo Abinader, e “Narrativas Insubmissas: construção do olhar feminino no cinema” a ser ministrado por Pâmela Eurídice, integrante do Cine Set. 

7. ARTICULAÇÕES INSTITUCIONAIS 

O ano será também de necessárias articulações no campo institucional. Logo de cara, em janeiro, ocorre a Conferência Estadual de Cultura, espaço para debater e propor políticas públicas para o setor no Amazonas.  

Já em março, acontecerá o encontro nacional, onde os representantes locais precisarão apresentar e defender os pontos de vista do Estado para a criação de propostas nacionais que, de fato, democratizem e nacionalizem a cultura do país, não sendo mais restrito grande parte dos investimentos públicos da cultura às regiões Sul e, principalmente, Sudeste. 

Não menos importante é a eleição do Conselho Municipal de Cultura. Prevista para o dia 20 de fevereiro, o pleito é fundamental para a continuidade dos trabalhos relativos à Lei Paulo Gustavo, Aldir Blanc 2, do Plano Municipal de Cultura, entre outras iniciativas. 

8. ELEIÇÃO MUNICIPAL 

Mais uma eleição municipal chegando e as perspectivas para o setor cultural não são nada boas. A gestão David Almeida não empolga a classe artística após uma série de atritos, incluindo, turbulências logo no início da gestão passando pelo caos do edital Thiago de Mello até os investimentos milionários em atrações internacionais como David Guetta. Por outro lado, nenhum dos possíveis adversários – Roberto Cidade, Amom Mandel – também olham para a cultura com maior interesse ou apresentam uma proposta mais aprofundada. Caberá à classe artística, mais uma vez, fazer se impor no debate para não ficar invizibilizada. 

9. EXPECTATIVAS NO CONSELHO SUPERIOR DE CINEMA 

A entrada de Clemilson Farias no Conselho Superior de Cinema, órgão que define a política e diretrizes nacionais para o cinema, representa uma esperança de um olhar mais atento para os desafios de se produzir e às necessidades do setor na Região Norte do Brasil. 

Acreano produtor do premiado “Noites Alienígenas” criador do Matapi, sócio da produtora Leão do Norte e diretor Norte da CONNE leva a voz do setor nortista para a entidade do Ministério da Cultura. Desta forma, espera-se que possamos ver avanços na distribuição mais igualitária das verbas para os editais do Fundo Setorial do Audiovisual, visto que um estudo da própria Ancine apontou que 45% do investimento público no cinema do país segue direcionado para Rio de Janeiro e São Paulo. 

10. ‘ENQUANTO O CÉU NÃO ME ESPERA’ 

Tudo indica que 2024 reserva o lançamento de “Enquanto o Céu Não Me Espera”. Protagonizado por Irandhir Santos, a produção amazonense é o primeiro longa-metragem da carreira da diretora Cristiane Garcia (“Nas Asas do Condor”). O filme foi gravado em 2019 e foi um dos 10 selecionados do Edital de Longa de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura. 

“Enquanto o Céu não me Espera” traz Irandhir Santos como Vicente, um agricultor, morador do beiradão de rio, herdeiro de uma cultura que seu pai iniciou e que garantiu o sustento de toda a família por um bom tempo. “Com as mudanças climáticas, sobreviver da agricultura de várzea ficou muito difícil. O “tempo” mudou. A enchente vem mais intensa, mais bruta. A seca racha ainda mais o solo. Vicente não desiste; persiste até a exaustão por dias melhores e noites tranquilas”, explicou a diretora em postagem feita nas redes sociais. 

No fim do ano passado, Cristiane revelou nas redes sociais que o filme passava pelos últimos ajustes de pós-produção. Logo, não se surpreenda caso “Enquanto o Céu Não Me Espera” comece a participar de uma série de festivais Brasil e mundo afora.  

Falando ainda de futuros lançamentos, “Um Mal Necessário”, novo curta-metragem de Lucas Martins (“À Beira do Gatilho”), também deve ser lançado em 2024. O filme faz uma livre adaptação de “Fausto”, obra clássica do alemão alemão Johann Wolfgang von Goethe, ao mostrar um ator iniciante e sem sucesso (Ricardo Gabriel) vendendo sua alma para Mephistofelis (Adriano Holmes) em troca de poder conseguir realizar seu desejo de atuar.