O Cine Set antecipou muitas das tretas de 2023 da Film Twitter Brasil e do cinema mundial como um todo em uma postagem logo no primeiro dia do ano. Para criar uma tradição, chegou a hora de apostar quais serão os principais debates do mundo cinematográfico para 2024: 

1. Scorsese x Nolan 

O primeiro trimestre cinéfilo será dominado pelo embate de dois dos diretores mais queridos (e odiados) da atualidade. Claro que a razão da disputa dos fandoms será o Oscar 2024 e saber quem leva a melhor: “Assassinos da Lua das Flores” x “Oppenheimer”. 

Certamente toda a turma nerd estará a favor de Christopher Nolan pelos serviços prestados ao universo das HQs com a trilogia “Cavaleiro das Trevas” e contra o terror dos filmes do gênero. Já a cinefilia mais raiz deve ficar com o Martin Scorsese e seu épico de 3h30. Debates sobre a qualidade de cada um e as bilheterias devem dominar o Fla-Flu cinematográfico. 

A intensidade dependerá, claro, de como a temporada de premiações irá andar: a rivalidade será maior se os dois se revezarem ao longo das semanas. Caso contrário, o foco será Melhor Ator, onde Bradley Cooper e Cillian Murphy estão fortes no páreo. 

 2. Fim da Era Marvel? 

2023 foi um ano para a Marvel esquecer: apesar do bom “Guardiões da Galáxia 3” e do excelente “Homem-Aranha Através do Aranhaverso’, os resultados nada animadores de bilheteria e a própria qualidade de “As Marvels” e “Homem-Formiga: Quantumania” colocaram um grande ponto de interrogação em relação ao futuro do MCU. 

“Será que o público cansou dos filmes do estúdio?”, talvez, seja a pergunta mais feita pelos executivos em Hollywood. Para 2024, a Marvel acostumada a lançar de três a quatro produções anualmente, desta vez, terá apenas uma estreia. Mas, não será uma qualquer não. 

Para além do super-herói desbocado vivido por Ryan Reynolds, “Deadpool 3” traz, finalmente, os X-Men. Pelo menos, Hugh Jackman retornando como Wolverine está confirmado. Se nem mesmo os mutantes derem jeito em termos de repercussão e grana, a situação da Marvel definitivamente entra em sinal vermelho total. 

3. Coringa e Lady Gaga 

O filme mais aguardado e polêmico de 2024 já tem nome: “Coringa: Folie à Deux” estreia em outubro. Por si só, a superprodução da Warner já chama atenção, afinal, trata-se da sequência de uma das obras mais aclamadas e contestadas dos últimos anos e de forte inspiração para fora do universo cinematográfico. 

“Coringa: Folie à Deux”, entretanto, chega trazendo apenas Lady Gaga como a nova Harley Quinn, a Arlequina, personagem consagrada recentemente por Margot Robbie. As primeiras informações sobre o longa causaram arrepios nos mais xiitas fãs de HQs e do próprio filme de 2019 ao indicar que a sequência teria um viés de musical em um estilo à lá “New York, New York”, de Martin Scorsese. O diretor de fotografia Lawrence Sher também já fez questão de dizer que se trata de um projeto arriscado com grande capacidade de surpreender o público. 

Resumindo: tudo o que uma parte do público cada dia mais conservadora e disposto a ver mais do mesmo não quer. Polêmica certa para todos os níveis e nichos das redes sociais. 

4. Trump x Hollywood 

Chega a ser inacreditável que Donald Trump possa mesmo voltar à Casa Branca após toda a insurreição no Capitólio. No melhor estilo República das Bananas, Donald Trump não apenas deve ser o candidato republicano como aparece como favorito à presidência dos EUA. 

Hollywood estará no topo da preferência dos ataques de Trump durante todo 2024. O expediente, aliás, já foi utilizado quando ele esteve na Presidência. Vale lembrar as críticas à Meryl Streep e a cutucada ao cinema americano após a vitória de “Parasita” no Oscar 2020. 

As grandes estrelas, entretanto, não devem ficar caladas: Robert De Niro já abriu os trabalhos no Gotham Awards, inclusive, alegando censura ao ter parte do discurso editado no teleprompter. A tendência é que vejamos mais discursos incisivos contra Trump durante a temporada de premiações. 

5. Preconceito contra o Cinema Brasileiro 

Esta polêmica já se tornou tradição na Film Twitter Br: sempre que acontece algum fato novo, o chorume sobre a qualidade da produção nacional vira tema de debate. “Ninguém vai porque é ruim mesmo”, “filme brasileiro só tem palavrão, putaria”, “é fracasso porque só falam de pobreza, violência”, “os únicos filmes que prestam do Brasil é “O Auto da Compadecida” e “Tropa de Elite” e por aí vai. 

A tendência é que o assunto, infelizmente, não morra tão cedo em meio a discussões necessárias como a regulação do streaming e o retorno da cota de telas. Ainda que a estratégia de combater este tipo de discurso de forma incisiva seja quase instintiva, por outro lado, penso que o holofote jogado sobre qualquer mensagem escrita por qualquer pessoa dê uma visibilidade que esta não teria naturalmente.  

Engaja? Com certeza. Contribui para acabar com os estigmas? Tenho minhas sinceras dúvidas. 

6. Nudez no Cinema 

A nudez no cinema virou tema obrigatório anual de polêmica na cinefilia – quase sempre associada à produção brasileira, diga-se.

Escancarando o conservadorismo da sociedade, sobram opiniões de que muitas cenas mais quentes são ‘desnecessárias’.

Apareceram tetas, bundas ou pau? “Completamente gratuito. Não precisava. Foi só para chocar”, diz o twitteiro.

Pobre Paul Verhoeven… 

7. Para onde vai o dinheiro do cinema brasileiro? 

A chegada do Governo Lula foi um verdadeiro alívio para o setor audiovisual após períodos obscuros com as gestões de Michel Temer e, principalmente, Jair Bolsonaro. A retomada do Ministério da Cultura, o fortalecimento da Ancine e do Fundo Setorial do Audiovisual movimentaram a área como há muito não se via. 

Na esteira desta retomada, veio também a disputa pelo espaço das verbas do cinema brasileiro e qual deverá ser o foco de investimento para os próximos anos. Somente em 2023, 45% dos recursos do audiovisual do país foram destinados para produtoras do Rio de Janeiro e São Paulo, segundo estudo da própria Ancine. 

Enquanto as produtoras destes Estados buscam a manutenção desta distribuição de verba desigual, entidades como a CONNE – Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte, Nordeste atuam para a verdadeira nacionalização do cinema brasileiro, levando mais investimentos a estes locais do país. A recriação do Conselho Superior de Cinema com integrantes vindos de todas as regiões é um passo importante para se pensar em políticas públicas mais democráticas. 

De qualquer forma, o embate será certo para 2024.